O mercado de criptomoedas encerrou o mês de agosto refletindo nos preços as incertezas nos cenários macroeconômicos e geopolíticos globais, destaca o relatório mensal da QR Asset Management.
“No campo geopolítico, a reunião entre Trump e Putin trouxe mais tensões, especialmente sobre a Ucrânia; já no econômico, a inflação ao produtor dos EUA veio acima do esperado, o que diminui a chance de cortes de juros mais agressivos,” aponta Murilo Cortina, diretor de novos negócios da QR Asset.
Apesar de a economia dos EUA demonstrar sinais de desaceleração e a inflação se manter acima da meta, “os investidores ainda contam com liquidez abundante e alívio nos juros” para impulsionar o mercado, afirma Cortina.
Nesse contexto, o Bitcoin (BTC) atingiu novas máximas históricas de US$ 124.000 no dia 14. No entanto, consolidou perdas de 6,5% no fechamento mensal, em um movimento provocado pela realização de lucros após o mês mais positivo da história dos ETFs nos EUA.
Em um movimento de rotação de capital, os ETFs de Ethereum registraram saldo líquido positivo de 3,9 bilhões, enquanto os saques superaram os depósitos em US$ 301 milhões nos ETFs de Bitcoin.
Impulsionado pela adoção institucional crescente e a pressão compradora das ‘Ethereum Treasury Companies’, o Ether (ETH) atingiu uma nova máxima histórica de US$ 4.946 no dia 24, reduzindo a dominância de mercado do Bitcoin.
No reaquecido mercado de altcoins, os principais destaques de agosto foram tokens de exchanges centralizadas e do ecossistema da Ethereum. Do lado negativo, memecoins e gigantes da primeira geração de DeFi (finanças descentralizadas) tombaram.
Tokens de exchanges centralizadas lideram alta
Com uma alta de 246,5%, o token (OKB), da OKX, liderou os ganhos mensais. Alterações importantes no tokenomics e incentivos para os usuários da exchange contribuíram para a alta, destaca Cortina:
“A empresa realizou a queima de parte dos tokens de reservas e recompras anteriores. Com isso, a oferta em circulação diminuiu e o limite máximo de emissão foi fixado em 21 milhões de unidades, alinhando o ativo a práticas de deflação estrutural.”
A exchange também reduziu as taxas de transação para os clientes que detêm o token, tornando o OKB mais útil dentro de seu ecossistema.
A Crypto.com fechou um acordo com o Trump Media Group, empresa de mídia ligada a Donald Trump, para a utilização de seu token nativo, o Cronos (CRO), nas plataformas Truth Social e Truth+.
“A valorização expressiva em agosto foi impulsionada, em grande parte, por um anúncio de peso: a criação da Trump Media Group CRO Strategy, uma nova estrutura de US$ 6,4 bilhões que inclui US$ 1 bilhão em CRO e mais US$ 5 bilhões em crédito futuro,” afirma Cortina.
Além disso, a empresa comprou US$ 105 milhões em CRO no mercado à vista, com bloqueio de vendas por um ano. O novo empreendimento de Trump no mercado de criptomoedas impulsionou a valorização de 84,1% do Cronos em agosto.
A Chainlink (LINK) fecha o top 3 mensal com uma alta de 52,4% decorrente de inovações no tokenomics e avanços institucionais, segundo Cortina:
“O principal impulso veio do lançamento do programa Chainlink Reserve, que funciona como um ‘cofre digital’: parte das receitas do projeto é usada para acumular LINK. Como o número de tokens é limitado, isso reduz a quantidade em circulação, um mecanismo parecido com programas de recompra, e acabou ajudando a valorizar o preço do ativo no mês.”
No campo institucional, o Departamento do Comércio dos EUA adotou o Chainlink Data Feeds para publicar dados oficiais on-chain.
Falhas de governança e tokenomics derrubam DeFi
Mostrando sinais de esgotamento em seus modelos de negócio e falhas de governança, dois tokens da primeira geração de DeFi foram os destaques negativos de agosto.
O processo de rebranding e a transição da MakerDAO (MKR) e de sua stablecoin descentralizada (DAI) para Sky e USDS, respectivamente, enfrenta diversos problemas, destaca Cortina:
“Muitas exchanges ainda não oferecem o swap e deslistaram o MKR sem listar o novo token. Até agora, a migração acontece principalmente via carteiras próprias. O uso do protocolo também ficou abaixo do esperado, com limitado crescimento do USDS.”
Em uma iniciativa para estimular a adoção da nova stablecoin, o protocolo aumentou os incentivos para quem faz staking SKY e para os usuários do USDS. “Essa combinação de incentivos agressivos e incertezas institucionais pressionou o preço do token, que caiu 26,32% no período", afirma o executivo da QR Asset.
Em meio a debates sobre a redução na emissão de seu token nativo — uma medida para conter seu modelo econômico inflacionário —, a Curve DAO (CRV) enfrentou saída de liquidez e desalavancagem em derivativos, o que reduziu seu TVL (valor total bloqueado).
Segundo Cortina, “os debates sobre emissão de novos tokens geraram ruído, e, mesmo com rendimentos altos em alguns pools de liquidez, o CRV teve desempenho negativo, caindo 26,30% no mês.”
Após uma forte alta em julho, a memecoin Pudgy Penguins (PUDGY) enfrentou uma onda de realização de lucros que provocou uma queda de 18,4% em agosto.
O lançamento do jogo Pudgy Party teve boa recepção da comunidade, mas não impactou positivamente o preço do token, visto que ele não tem utilidade para os usuários.
A pressão vendedora de curto prazo foi intensificada tanto por desbloqueios de tokens programados para o final de 2025 quanto pelo adiamento, por parte da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), de uma decisão sobre a aprovação de um ETF do PUDGY.
“Como grande parte da alta recente vinha do otimismo em torno desse produto, a postergação reforçou dúvidas sobre o futuro do ativo,” afirmou Cortina.
O pior desempenho no mês de agosto coube a outra memecoin do ecossistema da Solana (SOL). O Bonk (BONK) caiu 29,8% à medida que sua plataforma de lançamento de memecoins perdeu participação de mercado para o Pum.fun, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.