Calcada na disrupção de processos, na imutabilidade de dados dos contratos inteligentes, a blockchain é muito maior que as criptomoedas. Não por acaso, a tecnologia deverá chegar a milhões de brasileiros no final de 2024 com o lançamento do Real Digital, a moeda digital emitida pelo Banco Central (CBDC). Popularização que pode alcançar 5,2 bilhões de pessoas em todo o mundo em 2026 por meio da utilização de carteiras digitais.
A blockchain que se apresenta como um caminho sem volta também já chegou aos bancos e outros players do mercado tradicional, que deverão sustentar um celeiro de novas soluções nos próximos anos no Brasil a depender de uma regulamentação clara, eficiente, eficaz e que fomente a utilização da tecnologia.
Pelo menos essas foram algumas das avaliações feitas pelos participantes de um dos painéis pertencentes do workshop “Tokenização de Ativos e Regulamentação da Criptoeconomia”, evento promovido na última quinta-feira (17) pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com a exchange de criptomoedas brasileira Mercado Bitcoin (MB).
No debate, que contou mediação do diretor de Inovações da Febraban, Leandro Vilain, Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin; Juliana Facklmann, diretora de Assuntos Regulatórios do Mercado Bitcoin; André Portilho, sócio e Head de Digital Assets do BTG Pactual; e George Marcel Smetana, especialista do innovabra (Bradesco), falaram sobre o desenvolvimento da blockchain, as vantagens oferecidas pela interoperabilidade da rede, eficácia dos contratos inteligentes, oportunidades da tokenização no mercado tradicional, entre elas o mercado de carbono, além da questão da regulação no país e o combate à lavagem de dinheiro no mundo dos criptoativos.
Em suas considerações iniciais, Reinaldo Rabelo lembro que, num primeiro momento, o “mundo de tokens, blockchain, cripto, parecia não ter nada a ver com a atividade bancária” e que, pelo contrário, “havia até uma proposta de disrupção total e ameaça de destruição do modelo bancário existente.”
“Hoje a gente percebe que não é bem assim, a gente tem uma tecnologia que permite melhorar produtos que a gente já conhece e criar novos produtos, que têm características de investimento, de aplicação ou mesmo de transação, de pagamento, mas dentro da governança do modelo de negócio que tem sido validado há muitos anos pelas operações bancárias. A tokenização em si é uma forma de você captar, até globalmente, recursos dentro de uma rede que é interoperável e pode ser acessada por todos os players que decidam participar dela, você acaba ampliando muito a potência de captação de recursos, que, para um país como o Brasil, é sensacional, você pode acabar reduzindo o custo de captação pra pequenas e médias empresas, principalmente”, disse.
André Portilho lembrou que o BTG foi atraído para as criptos em razão da tokenização, o que resultou no “primeiro security token feito por um banco” em 2019 e salientou a importância de os contratos inteligentes serem executados em redes descentralizadas globais, o que representa “um potencial de ganho de eficiência e de escala que é muito superior aos instrumentos que a gente tem hoje na indústria financeira.”
“A própria rede faz o processo de validação e as pessoas começam a interagir com essa rede através de suas wallets [carteiras digitais], você começa a ter uma interoperabilidade e um ganho de escala que hoje a gente não consegue. Ainda há muita restrição em como você acessa os produtos bancários e os produtos financeiros, no sentido mais amplo. Com essa tecnologia de tokenização aplicada nessas redes descentralizadas, você consegue ter um potencial de escala, interoperabilidade e interações entre diferentes produtos, diferentes instituições, difentes países, que você não consegue com a tecnologia de hoje. Então são alguns ganhos de eficiência, de alcance”, completou.
A fracionalização de um ativo poderia ser feita sem a blockchain e/ou a tokenização segundo a avaliação de George Marcel, que completou falando de outras vantagens da teconologia disruptiva:
“Você acaba dando acesso a produtos de investimento ou mebacismos de capitação de recursos que até então estavam travados, mas eu creio que estvama travado mais pela forma com que as coisas construídas e veio de repente a blockchain e começou a destravar um monte de coisa, começou a trazer um monte de ideia.”
Em um caso de uso hipotético, Juliana Facklmann destacou a blockchain:
“Imagine uma liquidação sem você necessitar de uma CCP, sem necessitar do mecanismo complexo da bolsa, porque isso tá programado. Essas são as possibilidades futuras, quando a gente discute tokenização e discute o que pode acontecer.”
Mas, a diretora do MB se mostrou mais focada com a importância da regulamentação para o desenvolvimento da tokenização no país.
“Enquanto não existir uma regulação específica falando sobre o que é a cripto, quem são os prestadores de serviço, nada vai acontecer no Brasil, nada vai pra frente, a gente vai ter ainda bancos, entidades do setor regulado, com medo, com receio de se atirar muito na tokenização e em cripto porque não existe uma regulação específica. Nós vamos ter que lidar com isso, já lidamos com a questão do fundo de investimento, que não consegue investir em cripto no Brasil. Regulação tem se mostrado importante porque, quem regula bem e regula antes, está recebendo os agentes do mercado cripto e agente de mercado cripto hoje significa dinheiro, significa volume em operação financeira”, argumentou.
Na esteira da tokenização, Marson Cunha, diretor da Inveniam, uma empresa de tecnologia dos EUA, também conversou com o Cointelegraph Brasil para explicar sobre a camada de dados dinâmica que a plataforma disponibiliza às empresas de tokenização em todo o mundo.
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