Na última quarta-feira, 16 de novembro, o Pix completou dois anos de funcionamento. Desde seu lançamento, o serviço de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central processou 26 bilhões de transações, superando R$ 12,9 trilhões. Os dados são da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Além da praticidade nos pagamentos, o Pix também permitiu que as transações seja realizadas a qualquer dia da semana, em qualquer horário. Executivos de exchanges brasileiras apontam que o serviço impactou de forma muito positiva os volumes negociados de criptomoedas.

Pix fortaleceu a ponte para cripto

Antes do Pix, os depósitos e saques em real processados por exchanges eram feitos em Transferência Eletrônica Disponível (TED) ou Documento de ordem de crédito (DOC). Havia a limitação, porém, desses modelos de transferências serem executados apenas em horário comercial. Ou seja, finais de semana e remessas noturnas não eram possíveis.

O resultado para as exchanges após a implementação do Pix foi o aumento nas negociações aos finais de semana, afirma José Artur Ribeiro, CEO da Coinext. Além disso, as negociações após as 17h durante a semana também tiveram um aumento, uma vez que depósito instantâneo permite que operações sejam conduzidas no mesmo dia na exchange.

“Agora nossos clientes podem operar após sua rotina de trabalho sem se preocupar em antecipar os depósitos e saques para mais cedo. Isso possibilita que eles aproveitem oportunidades que, antes, talvez fossem perdidas”, diz Ribeiro.

André Hamada, cofundador e COO do agregador de exchanges BitPreço, comenta que, antes do Pix, as negociações aos fins de semana era “quase zero”. “Depois do Pix, as movimentações aumentaram muito, principalmente se o preço de algum ativo despenca”, afirma Hamada.

O Pix foi “a grande revolução para o mundo cripto”, na visão de Fabrício Tota, Diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin. Tota diz que foi o sistema de pagamentos instantâneos que fez o setor tradicional se adaptar ao setor dos ativos digitais. Após o Pix, negociar criptomoedas se tornou muito mais flexível.

“O mundo cripto já era 24/7, e agora a parte financeira também é. O cliente ganhou muito tempo útil para negociar após o Pix”, avalia Tota. Ele também cita a experiência do usuário, que passou a não ter mais “quebras”. “As exchanges se esforçam para que o processo de cadastro seja fluido, mas antes havia uma quebra na hora do depósito, caso o cadastro fosse feito fora do horário comercial. Agora, isso mudou.”

A Binance, maior exchange do Brasil em volume negociado de Bitcoin, enviou um comunicado ao Cointelegraph Brasil dizendo que não comenta variações de mercado e volumes de transações. “A corretora vem aceitando PIX como uma das alternativas de depósito desde 2020”, diz o restante da nota enviada.

Dominou as transferências

Além de impactar positivamente o volume das exchanges, o Pix assumiu protagonismo como método de saques e depósitos. André Hamada, da BitPreço, aponta que o volume de depósitos via Pix representa mais de 98% dos depósitos, e mais de 87% dos saques.

Fabrício Tota, do Mercado Bitcoin, comenta um valor parecido àquele apresentado por Hamada. “A esmagadora maioria das transações é feita em Pix, cerca de 98%”, diz Tota. Em poucas semanas após o lançamento do Pix, o meio de pagamento já representava mais de 50% das transações de depósito da Coinext, diz seu CEO, José Artur Ribeiro. “Hoje já é mais de três vezes superior às modalidades TED e DOC”, acrescenta Ribeiro.

O executivo da Coinext ressalta, no entanto, que há uma divergência entre os saques e depósitos envolvendo Pix. “Saques via TED ainda representam entre 40% e 50% do total. Isso indica a relevância do Pix para entrar em oportunidades do mercado rapidamente, mas não necessariamente para fazer retiradas.”

Melhorando a ponte

Tota, do Mercado Bitcoin, ressalta que as exchanges não são o mercado de criptomoedas, mas uma ponte do mercado tradicional para a economia digital. “O papel das exchanges nesse sentido será cada vez mais relevante”, acrescenta. O Pix, avalia Tota, foi um passo para melhorar a experiência do usuário nas plataformas voltadas à negociação de criptoativos.

Quem reforça a melhoria na experiência do usuário é José Artur Ribeiro, da Coinext. “Depósitos e saques não precisam mais aguardar o retorno do expediente bancário para serem processados. Antes, o cliente poderia ficar com seus recursos travados aguardando o processamento bancário.”

Vale ressaltar que o benefício que o Pix trouxe ao mercado de criptomoedas pode não ser por acaso, na visão de Fabrício Tota. “Nós que estamos mais próximos do BC podemos dizer que a facilidade que o Pix traz às exchanges não foi por acaso. As discussões sobre CBDC [moeda digital emitida por banco central] que ocorrem dentro do BC, por exemplo, mostram como o tema cripto é importante para esse regulador”, conclui.

Leia mais: