A plataforma de conteúdo educativo sobre o mercado de criptomoedas CoinKickoff realizou uma pesquisa para medir os níveis de estresse causados pelo colapso da FTX, que até semanas atrás era uma das três maiores exchanges globais ao lado da Binance e da Coinbase.
Utilizando dados de postagens do Cripto Twitter – a comunidade de criptomoedas da rede social favorita dos investidores e empreendedores da indústria –, a pesquisa identifica as criptomoedas que mais têm causado dor de cabeça aos investidores entre as 50 maiores em capitalização de mercado, e os países e cidades que concentram os investidores mais abalados pela turbulência recente.
Criptomoedas mais estressantes
Dadas as circunstâncias, naturalmente que o FTX Token (FTT), token nativo da exchange falida de Sam Bankman-Fried, é o criptoativos que mais tem causado preocupações aos seus detentores e também ao mercado de forma mais ampla. Os dados da pesquisa da CoinKickoff mostram que 37,99% dos comentários sobre o FTT no Twitter demonstram algum nível de estresse.
Desde que o vazamento do balanço do fundo de investimento e negociação de criptomoedas Alameda Research, empresa irmã da FTX, desencadeou a crise que levou à falência da exchange, o FTT perdeu 93,7% do seu valor, caindo de US$ 25 no fechamento dos mercados em 2 de novembro para US$ 1,56 no início da tarde desta sexta-feira, 18, de acordo com dados do CoinMarketCap.
Diante do rumo dos acontecimentos, não é impossível que o FTX Token em breve seja negociado a um valor muito próximo de zero, em um movimento semelhante ao que vitimou o LUNA (agora rebatizado LUNC) depois do colapso da stablecoin algorítmica UST (agora USTC) e do ecossistema Terra em maio deste ano.
O segundo lugar, aliás, é ocupado justamente por uma stablecoin que há muito tempo desperta a desconfiança de parte do mercado, mas principalmente dos reguladores: o Tether (USDT), com 35,92%. Embora a emissora da stablecoin venha reduzindo gradualmente a exposição das reservas do USDT a papéis comerciais e outros ativos de baixa liquidez, sempre que uma nova crise se abate sobre o mercado a paridade do ativo com o dólar se transforma no centro das atenções.
Desta vez não foi diferente. Em 10 de novembro, no auge da crise, o USDT chegou a ser negociado por US$ 0,9886, elevando o estresse dos investidores que detêm porções dos US$ 66 bilhões que o Tether possui em participação de mercado – número que o coloca como líder absoluto do setor.
Variação do valor do USDT ao longo dos último 30 dias. Fonte: CoinMarketCap
O fato é que desde a variação negativa de quase 2% há dias atrás, o USDT ainda não retomou a paridade de 1:1 com o dólar, justificando a preocupação dos seus portadores com a estabilidade do ativo. No início da tarde desta sexta-feira, 18, o USDT é negociado a US$ 0,9993, de acordo com dados do CoinMarketCap.
Maior criptomoeda do mercado e benchmark da indústria, o desempenho recente do Bitcoin (BTC) despertou receios em 34,8% da comunidade cripto no Twitter. A queda de aproximadamente 20% nos dias que se seguiram à crise da FTX está exercendo uma forte pressão adicional sobre entidades fundamentais para precificação do ativo: os mineradores.
O Diretor de Research da Mercurius Crypto, Orlando Telles, foi um dos analistas a manifestar sua preocupação não apenas com o preço do Bitcoin a partir da falência da FTX, mas também com os próprios fundamentos da rede, que até agora vem se mostrando bastante sólidos apesar do mercado de baixa prolongado.
2- Essa estrutura por um período mais longo pode representar um risco ao mercado, visto que o excesso de endividamento de várias empresas mantendo o hash rate com um patamar alto de forma artificial poderia gerar uma quebra de diversos players
— Orlando Telles (@orlandoincrypto) November 15, 2022
O preço do BTC abaixo de US$ 20.000 torna as operações da maioria dos mineradores deficitárias, haja visto que os custos operacionais estão pressionados pelo aumento global da energia elétrica. Apesar das preocupações generalizadas, por enquanto os mineradores não estão contribuindo para aumentar a pressão vendedora sobre o ativo. A questão é saber até quando eles serão capazes de aguentar.
Em quarto lugar vem a Cardano (ADA), com 32,44%, mas é provável que os detentores do ativo já estivessem estressados antes mesmo da crise da FTX em função do fraco desempenho do ADA este ano quando comparado ao restante do mercado.
Embora o atual mercado de baixa tenha provocado a desvalorização generalizada dos criptoativos, o ADA encontra-se atualmente 90% abaixo de sua máxima histórica. Outros ativos do top 10 apresentam um desempenho menos pior: o Bitcoin está atualmente 75,7% abaixo de sua máxima histórica, o Ether (ETH), 75,2%, e o Binance Coin (BNB), 60,6%.
Fecha o top 5 do estresse do mercado o XRP. O token nativo da Ripple vinha experimentando uma clara tendência de alta, mesmo diante do estado geral do mercado em função das expectativas de um desfecho favorável à empresa em sua batalha judicial contra a SEC. A implosão da FTX interrompeu o movimento e provavelmente causou insatisfação aos seus detentores.
Ainda entre os 10 criptoativos mais estressantes do momento, destaque para dois tokens de exchanges centralizadas de criptomoedas. O token nativo da Bitfinex, empresa vinculada ao Tether, UNUS SED LEO (LEO), ocupa o sétimo lugar
Já o CRO, token nativo da Crypto.com, está na 9ª posição. A exchange baseada em Singapura esteve no centro de polêmicas envolvendo suas reservas e quase se tornou alvo de uma "corrida bancária" nos mesmos moldes da que derrubou a FTX.
Os clientes da exchange ficaram preocupados com rumores que começaram a circular na esteira do caso FTX, dando conta de que a empresa seria a próxima se tornar insolvente em função do contágio que ainda está se espalhando e derrubando players importantes da indústria.
Sem stress no metaverso
Os tokens dos metaversos Decentraland (MANA), The Sandbox (SAND) e ApeCoin (APE), este último vinculado ao ecossistema de NFTs (tokens não fungíveis) e Web3 da Yuga Labs, criadora da Bored Ape Yacht Club, estão entre aqueles que menos causam preocupações aos investidores, embora estejam entre aqueles que mais sofreram em termos de desvalorização com os desdobramentos do caso FTX.
Destaque também para o Dogecoin (DOGE), que mesmo com o revés que abalou o mercado, ainda acumula uma valorização de mais de 40% nos últimos 30 dias sob efeito da conclusão da aquisição do Twitter por Elon Musk – a despeito do início conturbado da era Musk no comando da rede social.
Para determinar quais criptomoedas estão deixando os investidores mais estressados, a pesquisa analisou postagens georreferenciados no Twitter com hashtags das 50 maiores criptomoedas em capitalização de mercado.
Por sua vez, para encontrar os níveis de estresse, os pesquisadores utilizaram o TensiStrength, um algoritmo de rastreamento de sentimentos que atribui um valor aos níveis de estresse de publicações no Twitter.
Confira abaixo, o ranking completo da CoinKickoff.
Ranking completo das criptomoedas mais estressantes do Top 50. Fonte: CoinKickoff
Norte-americanos e chineses estão entre os investidores mais estressados com a FTX
A pesquisa da CoinKickoff também investigou quais são os países que mais foram abalados pelo colapso da FTX. EUA, China, Emirados Árabes Unidos, Holanda e Egito lideram o ranking. O Brasil não figura na lista dos 15 países em que os investidores se encontram sob maior estresse por conta da falência da FTX.
Curiosamente, boatos deram conta de que SBF e altos executivos da FTX e da Alameda estavam considerando uma fuga para o país Oriente Médio, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil. Dado o nível de estresse que eles causaram aos investidores de criptoativos dos Emirados Árabes Unidos, talvez não seja uma boa ideia.
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