Enquanto o Bitcoin cortou, pela metade, a quantidade de novas moedas em circulação com o halving, Bancos Centrais em todo o mundo anunciam a impressão de mais dinheiro para conter o impacto econômico do avanço do coronavírus em seus países.
A medida, amplamente criticada pelos "libertários" e defensores da não intervenção do Estado na economia é também um dos principais argumentos dos entusiastas de criptomoedas para defender os criptoativos frente às moedas nacionais.
A impressão de "dinheiro novo" também é apontada por economistas em todo o mundo como prejudicial no médio e longo prazo pois tem o poder de "derreter" o valor das moedas nacionais, diminuir o poder de compra da população, aumentar o déficit Estatal e criar uma nova crise econômica mais profunda com a falta de liquidez das nações.
André Lara Resende
Contudo esta não é a opinião de André Lara Resende, economista e doutor pelo MIT, que foi diretor do Banco Central, presidente do BNDES e um dos formuladores do Plano Real que publicou em 17 de maio, um artigo na Folha de São Paulo.
"Para agir de maneira eficaz é urgente superar falsas premissas sobre políticas monetária e fiscal e rever a proibição de o Banco Central emitir moeda para financiar o Tesouro", diz o economista.
Resende alega que o Estado deve gastar o que for necessário na saúde e na ajuda assistencial aos que estão sem emprego, sem renda e sem alternativas.
Porém como não pode aumentar os impostos, o que afetaria ainda mais a população, só resta, segundo ele, duas alternativas para o Estado: imprimir mais dinheiro ou aumentar a dívida pública.
Dinheiro do Estado não tem lastro
Dentre as duas propostas o economista reforça que a moeda nacional, assim como a dívida pública não tem qualquer lastro sendo apenas um registro contábil, porém, como a dívida incide no pagamento de juros a melhor alternativa na crise é "imprimir dinheiro"
"No passado, a moeda metálica tinha um valor intrínseco. Depois, passou a ser um certificado de dívida pública, que poderia ser convertido numa mercadoria de valor intrínseco, o ouro. Hoje, é apenas mais um certificado de dívida do Estado que não tem lastro metálico, é puramente fiduciário. Quase toda moeda contemporânea, como também a dívida pública, é apenas um registro contábil eletrônico", argumenta.
Nesta linha, segundo ele, a moeda contemporânea, sem valor intrínseco, é apenas um certificado de dívida, sem prazo de vencimento, ou seja, uma perpetuidade, que não paga juros, mas essencialmente um certificado de dívida pública.
"Tanto o Estado quando o sistema bancário criam moeda. A moeda é um passivo do Estado, mas o sistema bancário tem permissão para criar um passivo que, em última instância, é do Estado. Os bancos que têm conta no Banco Central podem criar moeda e obrigá-lo a sancionar essa expansão", afirma.
Impressão de dinheiro pelo Banco Central para financiar o Estado
Resende, ao contrário de Milton Friedman e seus discípulos da Universidade de Chicago, defende que os Bancos Centrais emitem mais moeda para ajudar a financiar diretamente o Tesouro e, com isso, o Estado.
"Como a expansão da dívida pública foi transformada no principal indicador de desequilíbrio fiscal, a proibição de que o Banco Central financie diretamente o Tesouro, ao obrigar a emissão de dívida, reforça o coro dos alarmistas: a relação dívida/PIB vai superar o limite mágico, a dívida será impagável e a economia caminhará para o abismo", destaca.
Estado tem que interferir e fazer "investimento produtivo"
Segundo Resende para conter os impactos do Covid-19 na economia o Estado precisa realizar um "investimento produtivo" que é diferente do investimento financeiro.
"Esta crise não é apenas um problema clássico de insuficiência de demanda. O fechamento da economia, ainda que venha a ser abrandado, reduz tanto a demanda quanto a oferta. Se a pandemia não for rapidamente superada, a capacidade de produção poderá ser seriamente afetada.", alega.
Portanto, segundo ele, o investimento produtivo requer uma coordenação estatal e grandes investimentos para repor a capacidade de oferta.
Desta forma, segundo ele, é imprescindível que o Estado aumentou seus gastos para incentivar a economia, contudo, sem a emissão de dívida pública mas com a .impressão de "novo dinheiro" destinado às cadeias de produção e consumo.
"No mundo da moeda fiduciária e do QE, a política monetária e a política fiscal são indissociáveis. Devem ser coordenadas, idealmente por um único órgão técnico independente, que tenha superado um arcabouço macroeconômico anacrônico, mas ainda predominante", finaliza.
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