O "Relatório de Gestão de Reservas Internacionais" do Banco Central publicado em 30 de março revela que, em 2021, o Brasil diminuiu suas reservas em dólar e em euro, ao mesmo tempo em que aumentou sua exposição ao yuan e ao ouro.
A moeda chinesa, que até 2018 sequer figurava nas reservas internacionais do país, agora já é o terceiro principal ativo sob a guarda do Banco Central, pouco atrás do euro. O volume de yuan nas reservas internacionais do Brasil praticamente quadruplicou de 2020 para 2021, subindo de 1,21% para 4,99%, enquanto a exposição ao euro caiu de 7,85% para 5,04%.
O dólar segue sendo a moeda dominante das reservas internacionais do Brasil, mas sua participação se reduziu de 86,03% para 80,34% do total. Por sua vez, as reservas em ouro praticamente dobraram de 2020 para 2021, registrando um aumento de 1,19% para 2,25%, referendando uma tendência de aumento da exposição ao metal precioso verificada desde 2015.
O crescimento do yuan e a retração do dólar e do euro refletem a importância econômica da China para o Brasil. Atualmente, o gigante asiático responde por 28% do comércio internacional com o país. O montante representa mais do que o dobro dos Estados Unidos, que vem em segundo lugar, segundo dados do Banco Mundial.
Distribuição das reservas internacionais do Brasil entre 2012 e 2021. Fonte: Banco Central do Brasil
Diversificação das reservas
Os objetivos estratégicos e a gestão de risco-retorno das reservas internacionais do Brasil são determinadas pelo Comitê de Governança, Riscos e Controles do Banco Central do Brasil (GRC). De acordo com o relatório recém divulgado, a política de investimento do GRC é definida em função de objetivos de longo prazo, através da realização de alocações estratégicas com características anticíclicas, capazes de reduzir a exposição do país a variações cambiais.
Fortalecer a confiança do mercado na capacidade do Brasil de honrar seus compromissos externos e fornecer suporte à execução das políticas monetária e cambial são os objetivos centrais das diretrizes de atuação do GRC. Em 2021, revelou-se uma disposição do GRC para ampliação da cesta de ativos das reservas internacionais do Brasil, conforme aponta o relatório:
"Em 2021, buscou-se maior diversificação na alocação de moedas das reservas internacionais, sem prejuízo do perfil anticíclico da carteira como um todo, quando comparado ao perfil dos investimentos em 2020. Com isso, o dólar canadense (CAD) e o dólar australiano (AUD) foram incluídos na alocação estratégica, com participações de aproximadamente 1% cada, e a contribuição de renminbi (CNY) foi elevada para cerca de 5% da carteira. Além disso, por suas características anticíclicas em momentos de estresse, a posição em ouro foi elevada, passando a representar 2,25% do portfólio."
Em 31 de dezembro de 2021, as reservas internacionais do Brasil totalizavam US$ 362,20 bilhões, apenas um pouco acima do valor observado no final de 2020 (US$ 355,62 bilhões). A rentabilidade das reservas internacionais teve um desempenho negativo de 0,62%, o pior desde 2015. Especialmente devido à valorização do dólar em relação a outras moedas do portfólio, como destaca o relatório:
"O retorno dosinvestimentos das reservas internacionais decorre de alguns fatores que influenciam o valor das carteiras, como os níveis de juros e as paridades das moedas de investimento contra o dólar norte-americano (moeda numerário para avaliação das reservas). Ao longo do ano, houve leve alta de juros nos EUA, compensada por resultado positivo nos investimentos em títulos indexados à inflação americana e títulos públicos chineses, além de ganhos com índice de ações nos EUA. Esse movimento gerou resultado positivo com juros e demais fatores de 0,20%. Por outro lado, o dólar norte-americano se valorizou ante as demais moedas dos ativos que compõem as reservas, o que levou a resultado cambial de -0,82%. Assim, considerando conjuntamente essas contribuições, as reservas internacionais brasileiras apresentaram resultado negativo de -0,62%."
Rentabilidade das reservas internacionais do Brasil entre 2012 e 2021. Fonte: Banco Central do Brasil
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, em 2022 o real tem se mostrado uma das moedas mais fortes do mundo em 2022, tendo apreciado aproximadamente 17% em relação ao dólar.
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