Depois de estabelecer-se abaixo de R$ 5,00 esta semana, a taxa de câmbio do real em relação ao dólar vem confirmando a sua maior queda continuada desde julho de 2009, destacou o o economista Fernando Ulrich em um vídeo publicado na terça-feira, 22, em seu canal no Youtube.

Desde novembro do ano passado a moeda brasileira vem acumulando ganhos em relação ao dólar. Na tarde desta quarta-feira, o dólar está cotado a R$ 4,82, seu valor mais baixo desde 15 de março de 2020. Só em 2022, o real já valorizou-se em 17% em relação à moeda norte-americana. Diante de tais evidências, Ulrich afirmou que o atual desempenho da moeda brasileira faz dela a moeda mais forte de 2022:

"Nós estamos vendo o melhor início de ano para a nossa moeda desde 2009. Se março fechar em queda, nós teremos fechado cinco meses consecutivos com a taxa de câmbio em queda."

A principal razão para a recente apreciação da moeda brasileira é que, hoje, considerando-se todos os países do mundo, o Brasil é um dos únicos que tem uma taxa de juros real positiva.

Na semana passada o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu pelo aumento de 1% na taxa de juros nominal, elevando-a para 11,75%. Enquanto isso nos EUA, o Fed (Banco Central dos EUA) optou por uma elevação moderada de 0,25%. Com a inflação em alta - o CPI (índice de preços ao consumidor) de fevereiro atingiu 7,9%, o patamar mais elevado em 40 anos - o juro real nos EUA está negativo.

Além disso, a ata da última reunião do Copom sinalizou um novo aumento de 1% na próxima reunião, marcada para o início de maio. Na mesma semana, o Fed muito provavelmente vai anunciar uma nova elevação dos juros nos EUA. No entanto, espera-se que esta não seja maior do que 0,50%, aprofundando ainda mais a diferença entre os juros reais no Brasil e nos EUA. E, em tese, favorecendo ainda mais a apreciação da moeda brasileira.

Segundo Ulrich, considerando-se a taxa de juros nominal e descontada a inflação, o real é uma das raras moedas do mundo todo que, hoje, pode oferecer rendimentos reais positivos aos investidores. "Isso atrai capital e ajuda a apreciar a nossa taxa de câmbio. Essa é a mágica do carrego, o famoso carry trade", explicou o economista.

Carry trade é um tipo de operação que consiste em tomar dinheiro emprestado a uma taxa de juros baixa em um país para realizar aplicações financeiras em outra moeda, que oferece taxas de juros maiores.

Outro fator que contribuiu para apreciação do real foram os termos de troca das pautas de exportações e importações da economia brasileira. Ulrich destacou três commodities que se valorizaram fortemente a partir da invasão russa à Ucrânia, contribuindo indiretamente para apreciação do real: o minério de ferro, cuja cotação se elevou em 29%, a soja, em 30%, e o petróleo, em 60%.

Ulrich estima que o valor justo da taxa de câmbio de acordo com a teoria da paridade do poder de compra seria de R$ 4,56. O cálculo é feito a partir do cruzamento dos poderes de compra do real e do dólar em relação aos índices de inflação de cada país.

Ou seja, ainda há espaço para que o dólar siga caindo nos próximos meses. Mas é bom lembrar que 2022 é ano de eleições presidenciais no Brasil e fatores políticos costumam exercer influência direta sobre a taxa de câmbio, advertiu o economista.

Ulrich conclui sua análise sobre a depreciação do dólar afirmando que esta se trata de uma ótima "janela de oportunidade" para que investidores aproveitem para dolarizar seus portfólios, apostando numa possível reversão da tendência atual no médio e longo prazos. 

A queda do dólar também oferece oportunidades interessantes para os investidores de criptomoedas, uma vez que estes têm suas cotações estabelecidas em paridade com a moeda norte-americana, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente.

LEIA MAIS