A Universidade de São Paulo (USP) anunciou esta semana o desenvolvimento do Braine, plataforma de inteligência artificial (IA) para auxílio a pessoas neurodivergentes, como as que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou dislexia.
Segundo Gabriel Cirino, pesquisador da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP e responsável pelo desenvolvimento da plataforma, o projeto é fruto de uma proposta interdisciplinar que une tecnologia, neurociência e escuta humanizada.
O pesquisador classifica a iniciativa como uma aposta em integração inédita entre ciência e tecnologia, combinando elementos da psicanálise, da neurociência e da inteligência artificial para gerar acolhimento digital.
Cirino, que possui TDAH, explica que a Braine está sendo desenvolvida com foco em três soluções principais. A primeira é o Aura-T, uma ferramenta de rastreio rápido para apoiar o diagnóstico do autismo. A segunda é o Care 360, uma plataforma de cuidado integral voltada a profissionais, famílias e pessoas neurodivergentes. Por fim, há a Bruna, uma assistente virtual brasileira com inteligência artificial treinada para oferecer suporte emocional e auxiliar na gestão de crises.
“Mais do que tecnologia, queremos gerar significado e acolhimento digital. Para isso, a equipe aposta na escuta ativa e na construção conjunta com o público-alvo. A Braine é construída junto com autistas, pessoas com TDAH, dislexia e profissionais de saúde mental. Isso garante que cada solução tenha base ética, científica e, principalmente, humana”, destaca.
Para se ter uma ideia do potencial alcance da ferramenta de IA, a Organização Mundial de Saúde (OS) estima que 70 milhões de pessoas em todo o mundo estejam no espectro autista. No Brasil, são cerca de 2 milhões de pessoas.
Realidade brasileira
Ao lembrar da existência de soluções semelhantes no exterior, o pesquisador afirma que a Braine se destaca por sua abordagem voltada à realidade brasileira. A proposta, segundo Cirino, é desenvolver “dados com alma”, capazes de refletir as necessidades de diferentes territórios, inclusive fora dos grandes centros urbanos, que muitas vezes são ignorados por soluções tradicionais.
Segundo ele, a plataforma é pensada para atender a um público diverso, que inclui desde famílias e pessoas neurodivergentes até educadores, profissionais da saúde, de recursos humanos e operadoras de saúde. “Nosso objetivo é oferecer uma tecnologia que sirva às pessoas, com o ser humano sempre em primeiro lugar”, destaca o especialista.
Braine em fase avançada
Gabriel Cirino acrescenta que plataforma está atualmente em fase avançada de testes e a equipe se prepara para lançar uma versão beta em parceria com instituições estratégicas. Ele afirma que o foco agora está em consolidar a base científica do projeto e garantir que as ferramentas desenvolvidas tenham impacto real na vida das pessoas.
“Queremos ser uma referência global em cuidado ético, tecnológico e inclusivo. Mais do que crescer, queremos ajudar a construir uma nova consciência sobre saúde mental e inclusão, onde todas as mentes sejam muito bem-vindas”, diz o pesquisador.
Segundo a USP, a Braine foi recentemente incubada pelo Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) por meio da incubadora USP/Ipen e também recebeu o selo DNA USP, que reconhece inovações desenvolvidas por alunos e ex-alunos da Universidade. A plataforma pode ser acessada pelo site braine.digital e também pelos perfis oficiais no Instagram e no LinkedIn.
Esta semana, o governo também publicou uma resolução criando um Grupo de Trabalho (GT) para coordenar o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.