A fome é covarde, impiedosa, injusta, não tem partido, não tem time de futebol, tampouco religião. Quando ela chega, o que existe é o desespero, o sofrimento, a agonia. Nestas horas, um prato de comida tem um valor inestimável, porque representa o alívio, a sobrevivência ou, pelo menos, a sobrevida. A fome é a realidade, o dia a dia de 33,1 milhões de pessoas no Brasil segundo um levantamento divulgado na última quarta-feira (8) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). 

Os dados estão contidos no 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, produzido com base em 12.745 entrevistas em áreas urbanas e rurais de 577 municípios do país pelo Instituto Vox Populi, com apoio da Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Serviço Social do Comércio (Sesc). 

Segundo o documento, a pandemia de Covid-19 também trouxe como sequela o crescimento da fome no país ao aumentar em 14 milhões o número de pessoas que não têm o que comer, a zona mais crítica de uma parcela que representa 58,7% da população brasileira vivendo em algum grau de insegurança alimentar, seja ela leve, moderada ou grave, número que equivale a 125,2 milhões de pessoas, em números absolutos. 

Os dados favorecem a compreensão da envergadura do problema e, nesta hora, qualquer ajuda é válida. Um exemplo é a utilização de tecnologias disruptivas como as criptomoedas e a blockchain, usadas com sucesso em diversos projetos ao redor do mundo, incluindo o Brasil. 

Um dos casos é o da startup ImpactMarket, que resolveu fazer da blockchain e das criptomoedas ferramentas de combate à fome em diversos países por meio de doações que são convertidas em renda básica por meio de contratos comunitários RBI (Renda Básica Universal). O que representa um total de 45,6 mil pessoas beneficiadas em todo o mundo, distribuídas em 254 comunidades de 34 países, a maioria no Brasil, segundo os dados da plataforma desta sexta-feira (10). 

Em outra frente, a blockchain e a IoT (internet das coisas) se apresentam como aliados no combate a outra questão relacionada aos alimentos: o desperdício. Um problema que, além de agravar a fome, responde por 8% a 10% das emissões globais de gases responsáveis pelo efeito estufa e que gera um prejuízo anual de US$ 165 bilhões só nos Estados Unidos

Neste contexto, que inclui a redução de doenças causadas pelo consumo de alimentos contaminados, a FDA, agência reguladora do departamento de saúde dos EUA,  desenvolveu a estrutura HACCP, sigla em inglês para Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, que é uma certificação de qualidade para empresas alimentícias utilizada em todo mundo, incluindo o Brasil. 

A HACCP determina todos os pontos de contato da cadeia alimentar em que os produtos são vulneráveis à contaminação, já a blockchain e a IoT simplificam os planos HACCP ao unificarem o gerenciamento de tarefas digitalizadas, checagem da temperatura em tempo real, rastreabilidade e relatórios de conformidade automatizados.

Por exemplo: se um sensor de IoT detecta que a geladeira de um consumidor do varejo excedeu a temperatura de armazenamento de hambúrgueres definida pela HACCP, um alerta real é enviado para o computador de mão do associado indicando toda a ação corretiva a ser tomada. Por sua vez, a blockchain é aproveitada para reduzir ineficiências críticas de rastreabilidade que reduzem a precisão da conformidade. 

Longe de serem a solução para os problemas, as criptomoedas e a blockchain se apresentam como ferramentas de colaboração. Um exemplo recente foi a utilização de uma carteira digital destinada a arrecadar doações em Bitcoin para ajudar moradores da região metropolitana do Recife atingidos por um temporal que matou mais de 100 pessoas, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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