A tese de que o Bitcoin é uma espécie de "ouro digital", oferecendo proteção aos investidores em momentos de crise, é constantemente questionada a cada novo evento de proporções globais que impacta diretamente os mercados financeiros.
Não foi diferente após a queda de 6,7% do preço do Bitcoin (BTC) em três dias, motivada pela contraofensiva do Irã contra Israel, que elevou as tensões no Oriente Médio a níveis extremos, provocando temores de uma possível escalada do conflito em proporções globais.
Embora a queda tenha sido relativamente modesta para os padrões históricos do Bitcoin, críticos da criptomoeda argumentam que a resiliência do BTC em períodos de turbulência foi novamente colocada à prova — e falhou.
No entanto, um relatório da BlackRock publicado em setembro afirma o contrário:
"Devido aos seus atributos, o Bitcoin tem sido visto como um refúgio seguro em tempos de medo durante alguns dos eventos geopolíticos mais disruptivos dos últimos cinco anos."
O relatório sustenta que o Bitcoin é o ativo financeiro menos afetado por variáveis macroeconômicas e geopolíticas. A longo prazo, sua correlação com o mercado acionário dos EUA é de apenas 0,2. A correlação de preços de diferentes ativos é medida em uma escala de 0 a 1, sendo que 0 indica a inexistência de correlação e 1 uma correlação perfeita, onde ambos se movem na mesma direção.
Eventuais picos de volatilidade causados por eventos extremos aproximam o desempenho do Bitcoin ao de outros ativos de risco, mas essa tendência geralmente é de curta duração e 'falha em produzir uma correlação estatisticamente significativa a longo prazo', afirma a BlackRock.
Segundo o relatório, isso acontece porque o Bitcoin é o primeiro ativo descentralizado e não soberano a ganhar ampla adoção global, eliminando riscos de contraparte, a dependência de sistemas centralizados e a influência de bancos centrais:
"Essas propriedades fazem do Bitcoin um ativo amplamente desconectado (em termos de fundamentos) de fatores de risco críticos, incluindo crises em sistemas bancários, crises de dívida soberana, desvalorização da moeda, disrupção geopolítica e fatores políticos e macroeconômicos internos de países específicos."
Bitcoin supera ouro e S&P500 em momentos de crise
Analisando o desempenho do Bitcoin em comparação com o ouro e o Índice S&P500 durante seis eventos globais disruptivos testemunhados nos últimos cinco anos, o relatório conclui que, embora o Bitcoin costume registrar um desempenho negativo no curto prazo, ele apresenta a maior capacidade de recuperação em uma janela posterior de 60 dias.
"Na maioria das situações, incluindo a recente liquidação global nos mercados financeiros em 5 de agosto, o Bitcoin retornou aos níveis de preço anteriores aos eventos em dias ou semanas e disparou em seguida, comprovando o potencial impacto positivo de tais eventos disruptivos, em reconhecimento aos seus fundamentos."
O relatório da BlackRock compara o desempenho do Bitcoin com o ouro e o S&P500 após a crise entre o Irã e os Estados Unidos em janeiro de 2020, o "Corona Crash" covid-19 em março de 2020, a eleição presidencial dos Estados Unidos em novembro de 2020, o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, a crise bancária nos Estados Unidos em março de 2023, e a valorização do iene em agosto de 2024.
Durante as duas crises de natureza geopolítica, o desempenho do Bitcoin superou significativamente o ouro e o S&P500. O assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, em 3 de março de 2020, em um ataque aéreo ordenado pelo presidente Donald Trump, resultou em uma alta de 20% do Bitcoin nos 60 dias posteriores ao evento, enquanto o ouro subiu 6% e o S&P 500 caiu 7%.
A invasão da Ucrânia por tropas russas em 24 de fevereiro de 2022 ocorreu durante o estágio inicial do mercado de baixa das criptomoedas, Ainda assim, nos 60 dias subsequentes, o Bitcoin valorizou 15%, contra 9% do ouro e 3% do S&P 500.
Comparação do desempenho de Bitcoin, Ouro e S&P500 durante eventos disruptivos. Fonte: BlackRock
Segundo a BlackRock, além da escalada das tensões geopolíticas globais, outros fatores devem contribuir para o crescimento da adoção do Bitcoin como um ativo de proteção:
"A longo prazo, a adoção do Bitcoin provavelmente será impulsionada pela intensificação das preocupações com a estabilidade financeira global, o equilíbrio geopolítico, a estabilidade política nos EUA e a sustentabilidade da política fiscal do governo dos EUA. Isso é o inverso da correlação atribuída tradicionalmente aos 'ativos de risco'."
A julgar pela análise da BlackRock, a retomada do mercado de alta do Bitcoin pode estar próximo. No final de julho a dívida federal do governo dos EUA ultrapassou a marca de US$ 35 trilhões, colocando em risco a estabilidade do dólar.
Enquanto isso, a disputa presidencial entre Donald Trump e Kamala Harris segue indefinida, e a política monetária do Banco Central dos EUA (Fed) começou a ser flexibilizada para injetar liquidez nos mercados financeiros.
Passados três dias desde o ataque balístico do Irã contra Israel, o Bitcoin mantém a sustentação do suporte de US$ 60.000. Na manhã desta sexta-feira, 4 de outubro, a maior criptomoeda do mercado está cotada a US$ 61.270, operando em alta de 0,8% nas últimas 24 horas, de acordo com dados da CoinGecko.