Resumo da notícia:

  • Abaporu, novo cluster do Recod.ai da Unicamp, será usado para acelerar pesquisas voltadas a campos do pré-sal brasileiro.

  • Financiado pela Shell, cluster reúne 28 placas gráficas NVIDIA H200 e L40s, as mais rápidas do mercado para aplicações em IA.

  • Investimento inicial gira em torno de US$ 1 milhão.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) anunciou esta semana que inaugurou recentemente um supercomputador voltado a projetos de pesquisa que combinam inteligência artificial (IA) e engenharia de petróleo para otimizar decisões operacionais em campos do pré-sal brasileiro.

Segundo a Unicamp, o novo cluster do Recod.ai, laboratório de IA do Instituto de Computação (IC) da universidade, foi adquirido com recursos da Shell Brasil advindos da cláusula de PD&I da ANP, no âmbito do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro/Unicamp).

Batizado de Abaporu — em referência à obra modernista de Tarsila do Amaral e reinterpretado pelo grupo como o “devorador de dados” — o cluster reúne 28 placas gráficas NVIDIA H200 e L40s, as mais rápidas do mercado para aplicações em IA, e o investimento inicial gira em torno de US$ 1 milhão.

Instalado no data center do Instituto de Computação, o sistema atenderá prioritariamente aos projetos desenvolvidos em parceria com a Shell Brasil, podendo também ser utilizado em outras pesquisas do Recod.ai e Instituto de Computação, quando disponível.

O coordenador do Recod.ai e líder do projeto, professor Anderson Rocha, avaliou que “o Abaporu deve ser hoje o maior cluster de inteligência artificial da Unicamp, e um dos mais robustos dedicados à pesquisa universitária no país”.

Entre os objetivos da área de P&D da Shell está acelerar a utilização de tecnologia de ponta. Projetos como esse ampliam nossa capacidade de impulsionar a digitalização, aplicar inteligência artificial a desafios complexos da indústria de energia, integrando ciência, dados e inovação com impacto positivo nos negócios, disse o diretor-geral de Tecnologia da Shell Brasil, Olivier Wambersie.

IA para o pré-sal

De acordo com a Unicamp, o Recod.ai e a Shell Brasil mantêm uma colaboração de mais de seis anos voltada ao uso de inteligência artificial e aprendizado de máquina em desafios da indústria de energia. Na fase atual, o grupo avança em um novo ciclo de pesquisa — que se estende até 2028 — dedicado ao desenvolvimento de modelos de linguagem generativa aplicados à simulação e gerenciamento de reservatórios de petróleo.

Esses modelos permitirão que engenheiros e geocientistas interajam com sistemas complexos de simulação por meio de linguagem natural, transformando comandos tradicionalmente técnicos em instruções conversacionais, segundo a universidade.

O objetivo é criar uma interface em que o engenheiro possa literalmente conversar com o reservatório e, eventualmente, com simuladores de petróleo, explicou Anderson Rocha.

Segundo ele, “hoje, para realizar uma simulação de produção, é preciso dominar inúmeros parâmetros e escrever scripts extensos”.

Com a IA generativa, a interação se torna mais intuitiva e rápida — é o conceito de inteligência aumentada, que diminui a fricção entre o especialista e o problema que ele quer resolver, acrescentou.

Anderson Rocha salientou que, na prática, isso significa que um profissional poderá solicitar algo como “simule os próximos 12 anos de produção do campo X, considerando os poços Y e Z e variação de injeção de água”, e o sistema traduzirá automaticamente esse pedido para os formatos técnicos necessários, acionando simuladores clássicos de reservatórios. Caso faltem dados, a própria IA será capaz de questionar o usuário — “qual regime de injeção deve ser adotado?”, por exemplo —, tornando o processo interativo, dinâmico e guiado por diálogo.

A Unicamp destacou que, além da interface conversacional, os algoritmos em desenvolvimento também têm potencial para integrar e analisar dados sísmicos, geológicos e de produção em larga escala, identificando padrões complexos e anomalias que escapam à observação humana. O objetivo é oferecer apoio à tomada de decisão em tempo quase real, tanto na otimização de estratégias de injeção e extração quanto na previsão de desempenho de poços — uma aplicação direta ao contexto dos campos do pré-sal brasileiro.

Lançamento e equipe

A cerimônia de lançamento (3/11) teve a presença de Olivier Wambersie, acompanhado por outros três executivos da empresa, além do Prof. Anderson Rocha, coordenador do Recod.ai, da professora Ana Maria Frattini Fileti, pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, de Alessandra Davólio Gomes, vice-diretora associada do Cepetro, e do prof. Denis José Schiozer, coordenador do Grupo de Pesquisa em Simulação e Gerenciamento de Reservatórios (Unisim) do Cepetro.

O time conta com ao menos 35 integrantes entre os diferentes projetos, incluindo pesquisadores, pós-doutorandos, doutorandos e programadores.

Enquanto isso, a OpenAI decidiu condicionar um investimento de US$ 5 bilhões no país à mudança na lei de direitos autorais, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.