Em 2021, os tokens não fungíveis provocaram uma revolução no mercado de arte, movimentando cifras milionárias através de obras digitais ou colecionáveis, e criaram um novo modelo econômico para a indústria de games através dos jogos em blockchain, criando mecanismos que permitem que os jogadores sejam recompensados financeiramente em função de seus desempenhos.

Nesse contexto, 2021 foi um ano espetacular para que empreendedores da indústria de criptomoedas criassem negócios inovadores valendo-se da tecnologia que apresentou soluções para a questão de direitos econômicos e de propriedade de ativos digitais na internet.

Idealizada pelo empreendedor francês Nicolas Julia, a Sorare adicionou ainda um terceiro elemento à equação, cuja integração com a indústria de criptomoedas cresceu substancialmente no ano passado: os esportes. 

O Sorare é um fantasy game de futebol baseado em NFTs que permite aos jogadores comprar, colecinar e revender cards de jogadores dos mais de 100 times licenciados pela plataforma. Com os colecionáveis em NFT, os jogadores montam seus times para disputar competições, ganhando recompensas de acordo com seu desempenho, e também podem negociá-los no mercado secundário para potencializar seus lucros.

Baseado em sua experiência pessoal e sua visão de empreendedor cripto, o cofundador e CEO da Sorare apresentou 6 previsões para o futuro dos NFTs em 2022 e de que forma os tokens não fungíveis seguirão transformando os setores de games e esportes em um artigo publicado no site Sapo Brasil, na segunda-feira.

1. NFTs para acessar experiências exclusivas

Segundo Nicolas Julia, cada vez mais os NFTs serão utilizados para conceder aos seus portadores acesso a experências no mundo real. Ele lembra que, hoje, proprietários de um Bored Ape têm acesso exclusivo a determinados eventos, por exemplo. E a própria Sorare criou uma coleção de NFTs intitulada La Liga Ticket Edition que permite que seus portadores assistam presencialmente a determinados jogos do campeonato espanhol de futebol e possam vivenciar experiências personalizadas no estádio.

Por exemplo, além de ter direito a assistir à partida em uma área VIP, o detentor da edição especial do NFT tem direito a fazer uma visita guiada pelo estádio com acesso franqueado aos bastidores do futebol.

"As oportunidades são infinitas e eu acredito que os NFTs irão ajudar a criar ligações entre o mundo digital e o mundo físico", escreveu o CEO da Sorare, acrescentando que a empresa pretende ampliar a oferta de experiências aos seus usuários, e que provavelmente este tipo de ação seja disponibilizada em outras indústrias além da esportiva, como a música e o cinema, por exemplo.

2. Empresas de games tradicionais vão testar NFTs

Embora tenha havido resistências das empresas de games tradicionais e até mesmo dos próprios jogadores aos NFTs em algumas ocasiões no ano passado, com justificativas que vão desde os princípios de distribuição de valor dos jogos play-to-earn até o alto consumo energético da tecnologia blockchain, Nicolas Julia acredita que algum tipo de integração, ainda que experimental em um primeiro momento, será inevitável.

Segundo o empresário, inicialmente a sinergia tende a acontecer através de fusões ou aquisições de startups da Web3 por grandes empresas do mercado tradicional e do intercâmbio entre profissionais de ambos os universos. A atração de desenvolvedores para o ambiente descentralizado das empresas do universo cripto será uma tendência, afirmou o CEO da Sorare. No texto, inclusive, ele anuncia que a empresa tem mais de 50 vagas abertas a interessados em fazer tal migração.

Segundo ele, a principal resistência das empresas tradicionais será superada quando ficar provado que "a possibilidade de pegar em itens de jogo ganhos ou comprados e transferi-los de um jogo para outro traz muito mais valor para os jogadores, e também para os desenolvedores", a tendência é que haja uma transição natural. Pois quanto maiores os casos de uso destes itens, maior o valor dos ativos subjacentes, aumentando a sua utilidade e sua liquidez através da rede.

3. Os NFTs serão os alicerces do metaverso

O crescimento do tempo despendido on-line por pessoas do mundo todo vai aumentar ainda mais com o desenvolvimento de recursos imersivos e virtuais e os NFTs terão um papel central no desenvolvimento do metaverso à medida que a propriedade de ativos digitais tornar-se mais usual e comum.

Segundo Nicolas Julia a oposição entre metaversos centralizados, comandados por grandes corporações como a Meta e a Microsoft, e descentralizados será inevitável. Os NFTs, enquanto dispositivo tecnológico que permite que os usuários tenham total controle sobre suas propriedades digitais, eventualmente acabarão provando que a lógica da descentralização beneficia os usuários em detrimento das empresas, e a adoção de plataformas descentralizadas acabará sobrepujando a de suas contrapartes centralizadas.

4. Os NFTs vão incentivar os esportes femininos

Segundo o empresário, o esporte feminino "tem sido historicamente sub-representado, subestimado e subvalorizado" em comparação com as mesmas modalidades disputadas por homens. Os NFTs podem funcionar como um acelerador do desenvolvimento do esporte feminino ao proporcionar dispositivos tecnológicos e econômicos para que os fãs apoiem diretamente suas ligas, equipes e jogadoras preferidas, criando um benéfico efeito de rede característico de empreendimentos bem sucedidos da indústria de criptoativos.

A Sorare, por exemplo, já permite que os usuários da plataforma invistam diretamente em seus jogadores preferidos, não importando o lugar do mundo em que estejam baseados. Segundo Nicolas Julia, facilitar este tipo de suporte ao esporte feminino está entre as prioridades da empresa para 2022.

5. Os casos de uso dos NFTs se tornarão mais sofisticados

Aqui, Nicolas Julia, propõe uma distinção entre criptoativos e NFTs. Enquanto os primeiros compõem um mercado, os segundos são fundamentalmente um dispositivo tecnológico. Em seguida, conclui:

"Em 2022 veremos o entusiasmo do do setor no ano passado canalizado por organizações desportivas no desenvolvimento de um conhecimento mais sofisticado sobre o poder dos NFTs na relação com os usuários, para acrescentar valor e conceder acesso a experiências. Com este conhecimento surgirão cargos especializados (como Chefe de Ativos Digitais) mas também um melhor entendimento das diferenças entre os possíveis modelos de negócio de cripto no ambiente esportivo bem como a distinção entre utilizadores legítimos e utilizadores não comprovados."

6. A maioria dos projetos de NFTs fracassará

A desconfiança em relação aos NFTs não se extinguirá e o fracasso de muitos projetos reforçará a impressão dos detratotes da nova tecnologia de que os tokens não fungíveis são apenas uma moda passageira alimentada pela irracionalidade do mercado de criptomoedas em um ano de crescimento excepcional, como foi o de 2021.

No entanto, o fracasso de diversos projetos, afirma Nicolas Julia, é a prova do sucesso da tecnologia em si:

"Eu acredito que a maior parte dos NFTs falhará da mesma maneira que a maior parte das empresas vão à falência. Os NFTs ajudam as pessoas a serem proprietárias de partes da internet, e como o nosso amigo Alexis Ohanian explica, a internet é uma máquina de cultura e um conector de comunidades. No final, os NFTs fazem agora parte dessa cultura e apesar do facto de que nem todos os NFTs sobreviverão, vamos sem dúvida ver projetos que terão valor durante os próximos séculos."

Nicolas Julia conclui suas previsões dizendo que a Web3 e os NFTs em si não passam de instrumentos. O que realmente importa é aquilo que se pode construir através deles. "Embora algumas destas previsões possam parecer ousadas ou exageradas, diria que não se trata de uma questão de 'se' mas uma questão de 'quando'", afirma.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, os NFTs seguem movimentando milhões de dólares diariamente e o OpenSea, maior marketplace da indústria de criptomoedas, acaba de quebrar seu recorde mensal em termos de volume transacionado, ultrapassando os US$ 3,5 bilhões até agora em janeiro.

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