Não há dúvida de que estamos em pleno inverno cripto, apesar da tímida reação do mercado nos últimos dias. O Bitcoin (BTC) voltou a flutuar acima de US$ 20.000, mas ainda está 68,7% abaixo da máxima histórica de US$ 69.000, de acordo com dados do CoinGecko, enquanto a capitalização total do mercado agora tem a marca de US$ 1 trilhão como resistência a ser batida. Um nível mais de três vezes menor do que o seu topo de US$ 3,06 trilhões, registrado em 8 de novembro do ano passado.

Os ciclos do mercado apresentam semelhanças, mas nunca se repetem. Ainda assim é interessante olhar para o passado como forma de se preparar para os desdobramentos futuros.

2018-2019

No longo inverno de 2018 e 2019, o Bitcoin encontrou o fundo mais de 80% abaixo do que o recorde histórico de preço registrado em dezembro do ano anterior. A maioria dos projetos que compunha o top 20 do ranking de capitalização de mercado, hoje está praticamente esquecida. Mas como a indústria chegou a esse ponto?

Depois de anos à margem dos mercados financeiros, as criptomoedas explodiram em 2017. A capitalização total do mercado multiplicou 46 vezes, chegando à soma recorde de US$ 829 bilhões em janeiro de 2018. Logo a seguir, veio uma correção brutal e nos quatro meses seguintes, o mercado como um todo perdeu 70% do seu valor. A título de comparação, em valores nominais, seria mais ou menos o estágio em que nos encontramos agora.

Naquela época, tanto a euforia quanto a depressão couberam as ICOs, ou Ofertas Inicias de Moedas. Um mecamismo através do qual investidores, majoritariamente do varejo, podiam investir em novos projetos supostamente inovadores enquanto estes se capitalizavam para financiar o seu desenvolvimento.

O hype em torno dos ICOs produziu uma típica bolha, cujo estouro minou a credibilidade do mercado, colocando em dúvida a sua sobrevivência. Muitos projetos de fato morreram, mas a trajetória daqueles que emergiram como líderes de inovação do bull market de 2020-2021, pode ajudar os investidores a identificar quem poderá se destacar no próximo ciclo de alta do mercado.

MakerDAO (MKR)

O MakerDAO (MKR) foi lançado oficialmente em dezembro de 2017, durante o ápice do penúltimo ciclo de alta e foi engolfado pelo crash que veio logo a seguir. Em uma reportagem do The Defiant, Haseeb Qureshi, sócio-gerente da Dragonfly Capital, atribuiu o sucesso do protocolo justamente às condições do mercado que ele enfrentou: 

“Uma das razões pelas quais o MakerDAO é tão resiliente é que eles nasceram nesse tipo de ambiente. Em um mercado em baixa, você precisa resolver grandes problemas. Há muitas coisas que sabemos que estão fundamentalmente erradas a respeito da forma como as criptomoedas funcionam, como interoperabilidade, privacidade, escalabilidade, identidade, experiência do usuário… É preciso ser muito criterioso ao analisar os projetos."

A Dragonfly Capital é uma empresa de capital de risco que investiu no MakerDAO durante a fase inicial de desenvolvimento do protocolo. 

O MakerDAO Maker foi um dos primeiros projetos com foco em finanças descentralizadas e é responsável pelo DAI, a maior stablecoin descentralizada do mercado. No final do ano passado, o DAI chegou a perder a liderança nesse quesito específico pelo TerraUSD Classic (USTC), a stablecoin algorítmica do Terra Classic (LUNC) e foi até mesmo ameaçada de morte pelo polêmico CEO do Terraform Labs, Do Kwon.

No entanto, à medida que o USTC entrou em colapso após perder a paridade com o dólar, desencadeando uma espiral da morte que liquidou todo o ecossistema da rede em que estava baseado, o DAI atravessou imune à turbulência que se abateu sobre o mercado devido ao seu modelo econômico robusto e já testado em condições adversas.

O DAI é uma stablecoin sobrecolateralizada cuja emissão se baseia no seguinte mecanismo: um usuário deve depositar Ethereum (ETH) – ou outros tokens ERC-20 aprovados pela DAO – em um cofre (vault), que é um contrato inteligente onde as garantias são mantidas e há o controle do valor em dólares do ETH depositado. A partir daí, o usuário pode emitir DAI até um certo nível em função das garantias depositadas.

A quantia depositada em ETH precisa ser superior a 100% do DAI emitido. Dependendo do cofre em que a garantia for depositada, será necessário entre US$ 1,50 e US$ 2,00 em ETH para obter 1 DAI, que, em tese, equivale a US$ 1.

A sobrecolateralização, ou seja, o ETH excedente em relação ao valor de US$ 1, serve para garantir a manutenção da paridade do DAI com o dólar.

Uniswap (UNI)

A Uniswap introduziu no mercado um conceito absolutamente novo: o de criar uma exchange descentralizada (DEX) em que a liquidez para viabilizar as negociações seria fornecida pelos próprios usuários através de um mecanismo intitulado Formador Automatizado de Mercado (AMM).

Tratava-se de um conceito não muito popular quando o projeto foi lançado em novembro de 2018, em um dos momentos mais sombrios daquele inverno cripto. A convicção e o poder de convencimento de seu líder, Hayden Adams, na capacidade de criar um sistema mais igualitário de distribuição de riqueza através de um protocolo financeiro de código aberto foi fundamental para o sucesso do projeto.

Hoje, a despeito da baixa do mercado, a Uniswap disputa com a Ethereum (ETH) a liderança do ranking de geração diária de receitas. Ambos estão muito a frente de outros projetos populares no ambiente DeFi, como o protocolo de empréstimos Aave, a MakerDAO e o próprio Bitcoin, de acordo com dados da plataforma de monitoramento de dados Crypto Fees.

OpenSea

Maior marketplace de NFTs (tokens não fungíveis) do mercado em termos de volume negociado, o OpenSea não era o projeto favorito dos investidores que estavam de olho neste nicho do mercado no inverno cripto de 2018. O posto cabia ao Rare Bits, que acabou não sobrevivendo ao ciclo de baixa devido a algumas escolhas erradas.

Enquanto testava novos modelos de engajamento e ferramentas em um momento em que havia pouco envolvimento de criadores e usuários com projetos de tokens não fungíveis, o OpenSea manteve-se focado na criação de um modelo de negócios sustentável.

Ao relembrar aquele período, o cofundador do marketplace, David Finzer, disse que o foco da empresa sempre esteve no longo prazo – e não em tornar-se imediatamente o líder do mercado:

"Nossa disposição era de nos mantermos no espaço a longo prazo, independentemente da trajetória de crescimento imediato. Queríamos construir um mercado descentralizado para NFTs, e não haveria problema em nos mantermos pequenos ao longo de três ou quatro anos.”

Hoje, como se sabe, o OpenSea é o principal responsável pela infraestrutura do mercado de NFTs, com 237.000 usuários cadastrados e um volume mensal médio de vendas de US$ 280 milhões, apesar do recente declínio do setor. Em 2020, no início do atual ciclo de alta, a empresa possuía apenas 7 funcionários integralmente dedicados ao negócio.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, um dos setores mais promissores da indústria de criptomoedas é o de blockchain games. Apesar da queda do mercado, a base de usuários tem crescido. O ex-executivo de games do TikTok acaba de anunciar que deixou a gigante chinesa das redes sociais para lançar uma empresa dedicada a promover a interoperabilidade dos games em blockchain.

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