A eleição do primeiro presidente pró-cripto nos Estados Unidos teve um efeito imediato sobre o preço do Bitcoin (BTC) e o mercado de criptomoedas como um todo. 

A maior criptomoeda do mercado disparou da faixa de US$ 67.000 para atingir os US$ 99.486 na madrugada desta sexta-feira, 22, enquanto a capitalização total do mercado de criptomoedas ultrapassou os US$ 3 trilhões pela primeira vez desde novembro de 2021, de acordo com dados da CoinGecko.

Os sócios e gestores de fundos de capital de risco (VCs) afirmam que os preços estão refletindo as altas expectativas que os investidores e construtores estão depositando nas promessas do presidente eleito Donald Trump.

Maior clareza regulatória e segurança jurídica, por si só, já seriam suficientes para desbloquear inovações represadas durante a administração de Joe Biden, que se caracterizou pela hostilidade ao mercado de criptomoedas.

Outros avanços, como a adoção de Bitcoin em níveis institucional e governamental, políticas de estado favoráveis à mineração e a adoção de stablecoins para pagamentos em detrimento de uma CBDC (moeda digital de banco central) têm potencial para desencadear um ciclo de inovações sem precedentes no setor, destacou Lasse Clausen, sócio fundador do fundo de capital de risco 1kk, em uma reportagem do The Block:

“É preciso fazer parte da indústria para realmente compreender a escala de destruição de inovação causada pela administração anterior. Portanto, as pessoas de fora ainda estão subestimando a quantidade de produtos interessantes que serão criados nesse setor, agora que os fundadores estão livres para experimentar novamente.”

É possível que as criptomoedas estejam finalmente entrando em um “super ciclo” de crescimento, acredita Jake Brukhman, fundador e sócio-dirigente da CoinFund.

Em um contexto político e regulatório amplamente favorável, os investimentos dos fundos de capital de risco revelam para quais setores estão fluindo o “dinheiro inteligente” e, portanto, têm maior potencial de longo prazo.

Inteligência Artificial

A popularização de chatbots como o ChatGPT transformou a inteligência artificial (IA) no setor mais quente da indústria de tecnologia. Assim, a integração entre IA e tecnologia blockchain é vista por muitos VCs como uma tendência dominante no mercado nos próximos anos.

Brukhman acredita que 2025 será o ano do “verão da IA descentralizada", traçando um paralelo com o “verão DeFi” de 2020. O executivo acredita que os investidores de varejo que estiverem buscando exposição a IA investirão no setor por meio das criptomoedas:

A integração com infraestruturas físicas (DePin) para treinamento de modelos de IA generativa provavelmente será um dos casos de uso que mais ganharão tração daqui por diante, segundo Ed Roman, cofundador e sócio diretor da HackVC:

“Esse é um mercado de muitos trilhões de dólares para empresas da Web2. A IA não é uma moda passageira (como eram os NFTs). A IA está criando um valor comercial real e é provavelmente a inovação mais importante em tecnologia desde os telefones celulares e a Internet.”

Roman pondera, no entanto, que o sucesso do setor estará diretamente relacionado com o desempenho e as inovações das grandes empresas de IA, como Nvidia, Microsoft, Google, Meta, OpenAI e Anthropic.

DeFi

O setor de finanças descentralizadas (DeFi) pode se beneficiar duplamente da administração Trump, segundo VCs. Além de uma regulação que favorece a integração de DeFi com os mercados tradicionais, uma política de redução das taxas de juros tende a tornar o setor mais atrativo para os investidores.

O crescimento do uso de exchanges descentralizadas (DEX) em detrimento de suas contrapartes centralizadas e a possível confirmação de uma altseason nos primeiros meses de 2025 fazem do setor de DeFi uma “oportunidade geracional", de acordo com Roman, da HackVC.

A integração de tokens RWA (ativos do mundo real) ao ecossistema de DeFi acrescenta novas frentes de expansão para o setor, segundo Clausen, da 1kx:

“Basta pensar em como a negociação, a compensação e a liquidação nos mercados financeiros tradicionais estão quebradas, ao passo que em exchanges descentralizadas todo esse processo é efetivado em uma transação instantânea, sem qualquer risco de contraparte e transparência. É como pescar com dinamite – a competição chega a ser injusta.”

Stablecoins e pagamentos

O bloqueio do sistema bancário às empresas e startups de criptomoedas durante o governo Biden travou a adoção das stablecoins como meio de pagamento nos EUA. A oposição de Trump a uma CBDC do dólar e o interesse em manter a dominância da moeda americana no sistema financeiro mundial devem aquecer ainda mais o mercado de stablecoins, segundo Will Nuelle, sócio da Galaxy Ventures:

“Esperamos que os bancos que atendem a criptomoedas não precisem mais temer eventuais represálias da Corporação Federal de Seguros de Depósitos (FDIC) ou de outras agências, o que deve facilitar a capacidade dos bancos de integrarem as stablecoins ao sistema financeiro mais amplo.”

O ecossistema do Bitcoin não foi mencionado por VCs, mas um estudo recente da Galaxy Research sugere que US$ 47 bilhões em BTC podem migrar para soluções de camada 2 da rede até 2030, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.