A participação de mercado das exchanges descentralizadas (DEXs) de criptomoedas tem registrado um forte crescimento ao longo de 2024. Em julho, o volume negociado nas DEXs alcançou a marca de US$ 192 bilhões.

A proporção do volume negociado diariamente entre DEXs e exchanges centralizadas (CEXs) atingiu um recorde histórico de 14,22% no fim de julho, chegando a picos de até 22% em 30 de julho, de acordo com dados do DeFiLlama e do The Block.

Gráfico anual do volume negociado à vista em DEXs em comparação com CEXs. Fonte: The Block/DeFi Llama

Embora o volume mensal movimentado pelas DEXs tenha ficado abaixo do recorde de US$ 267 bilhões registrado em março de 2024, e seja inferior ao US$ 1,11 trilhão movimentado em exchanges centralizadas (CEXs), os números confirmam um crescimento robusto e contínuo das plataformas descentralizadas. Cada vez mais, os investidores de criptomoedas estão dando preferência às transações on-chain

A ascensão contínua da participação de mercado das DEXs pode ser atribuída a diversos fatores, afirmou João Ferreira, cofundador da plataforma de negociação e carteira autocustodial PicNic, em entrevista ao Cointelegraph Brasil.

A popularidade crescente das memecoins no atual ciclo de alta desempenhou um papel fundamental na adoção de plataformas descentralizadas. Geralmente, esses tokens são lançados em DEXs, atraindo investidores que buscam oportunidades de alto retorno.

Ao serem listadas em exchanges centralizadas, as memecoins normalmente já atingiram capitalizações de mercado relativamente altas, o que restringe seu potencial de valorização.

Embora ainda haja questões a serem aprimoradas, tanto a liquidez quanto a experiência dos usuários de DEXs têm se tornado melhores, afirma Ferreira. 
Uma das principais desvantagens das DEXs em comparação com as CEXs era a falta de liquidez, resultando em maior variação na cotação dos pares de negociação e dificuldades para realizar grandes transações.

Por sua vez, a abstração de contas tornou a experiência do usuário mais simples e intuitiva, evitando a necessidade de gerenciamento de chaves privadas, a aprovação de transações e a interação com interfaces pouco amigáveis ao interagir com plataformas descentralizadas.

Em uma postagem publicada no X em 31 de julho, Ferreira destacou o crescimento de mais de 100% na adoção de contas baseadas no padrão de abstração de contas ERC-4377. Atualmente, já há mais de 4 milhões de endereços ativos.

À medida que se torna mais fácil fazer operações on-chain e os custos de taxas de transação são reduzidos com soluções de camada 2 na Ethereum (ETH) e a tecnologia subjacente à Solana (SOL), a tendência é que os usuários troquem as CEXs pelas DEXs, afirma Ferreira:

"Hoje, a proporção de uso de DEX versus CEX está em torno de 15%, e eu tenho convicção de que nos próximos quatro anos devemos passar dos 50%. É um caminho sem volta que passa basicamente pela resolução de alguns problemas de usabilidade que estão começando a ser solucionados."

Segundo Ferreira, embora as barreiras para adoção de DEXs e DeFi (finanças descentralizadas) ainda sejam grandes, o fato de a participação de mercado das plataformas descentralizadas estar em crescimento revela que as vantagens de operar on-chain são evidentes. Especialmente porque elas oferecem maior controle e transparência aos usuários:

"A infraestrutura baseada em contratos inteligentes das DEXs cria um sistema transparente e auditável. Na prática, isso significa que o usuário não precisa confiar em exchanges centralizadas, porque tem controle sobre os ativos em sua carteira e das contrapartes com quem está se envolvendo."

Ferreira também destaca que a integração das DEXs ao ecossistema mais amplo de DeFi (finanças descentralizadas) favorece a inovação. "Tudo que é fronteira, tudo o que é novidade vai acontecer primeiro on-chain", afirma.

PicNic cresce 800 vezes em um ano

O crescimento das DEXs teve reflexo nas operações do PicNic. A plataforma descentralizada brasileira, que oferece serviços de carteira autocustodial e a negociação de mais de 8.000 criptomoedas, registrou um aumento de 800 vezes no volume transacionado em um ano.

Em julho, US$ 7,7 milhões foram movimentados pelo PicNic, de acordo com dados da Dune Analytics, configurando um recorde histórico para a plataforma. Além disso, atualmente o PicNic responde por cerca de metade do volume global movimentado por carteiras que adotam o padrão de abstração de contas, superando inclusive a Coinbase Wallet.

Volume por carteira de DEX ERC-4377. Fonte: Dune Analytics

Ferreira destaca que o pioneirismo do PicNic na adoção do padrão ERC-4377 foi fundamental para o crescimento da plataforma, assim como para a retenção de usuários. Ao mesmo tempo, uma adoção mais ampla ainda esbarra no desconhecimento sobre o produto e a tecnologia subjacente:

"O PicNic tem a vantagem de estar fazendo um produto novo, que entrega coisas que outros produtos não entregam, mas, por outro lado, é uma tecnologia com a qual pouca gente está familiarizada."

Apesar do crescimento exponencial do PicNic, Ferreira reconhece que ainda há algumas barreiras a serem superadas para manter os patamares atuais de expansão:

"Resolvida a questão da usabilidade, o custo das taxas de gás e a liquidez, em comparação com as exchanges centralizadas, ainda são questões a serem aprimoradas. O objetivo é fazer a experiência on-chain ser tão boa quanto a de uma CEX para poder competir com exchanges centralizadas."