Dois dos maiores casos de pirâmides financeiras desmontadas pela Polícia Federal do Brasil nos últimos meses tiveram uma coincidência: tanto a Unick Forex quanto a InDeal, empresas que juntas captaram mais de R$ 10 bilhões e fraudaram milhares de pessoas no país e no exterior, tinham sede em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.

Na última semana, a Unick Forex, que já foi uma das mais proeminentes empresas de investimentos em criptomoedas do Brasil e oferecia rendimento de 3% por dia a investidores, teve seu presidente e diretores presos pela polícia, além de ser alvo do cumprimento de dezenas de pedidos de busca e apreensão relacionados aos envolvidos no "núcleo criminoso", como definiu a PF, da empresa.

Já a InDeal teve suas atividades interrompidas pela Operação Egypto, com cinco sócios e cinco colaboradores presos em maio, deixando milhares de investidores desfalcados e R$ 1,1 bilhão em dívidas.

Ainda na região, em 2017, foi desmontado outro esquema de pirâmide financeira, a D9 Trader, de Sapiranga, outro município do Vale do Sinos, como é chamada a região de Novo Hamburgo. Este talvez tenha sido o pioneiro dos casos subsequentes.

Segundo o jornal regional NH, em matéria desta segunda-feira, 21 de outubro, "nenhuma outra região do mundo concentrou os números faraônicos do golpe de 2017 a 2019". O delegado do 1o. Distrito Policial de Novo Hamburgo, Tarcísio Kaltback, tenta explicar ao NH o porquê dos fraudadores buscarem o Vale do Sinos como núcleo de suas atividades criminosas:

"Acredito que os piramideiros busquem o Vale do Sinos pela concentração de riqueza e alto poder aquisitivo, além da posição geográfica, que liga Porto Alegre à Serra, atraindo clientela tanto de empresários quanto de pessoas de menor poder aquisitivo."

O caso da D9 Trader que terminou de forma brutal. O suposto chefe do esquema, Márcio Rodrigo dos Santos, conseguiu sua liberdade na Justiça, mas foi brutalmente assassinado por investidores em Balneário Camboriú (SC), com seu corpo encontrado carbonizado dentro de seu automóvel. O líder mundial da D9 Trader, Danilo Vunjão Santana Gouveia, acabou capturado pela Interpol nos Emirados Árabes, e hoje vive uma "vida de luxo em suposta prisão domiciliar, com os milhões da D9".

Na matéria, o jornal NH diz que o escândalo da fraude da D9 Trader, em vez de inibir os criminosos, serviu de inspiração. Segundo o texto, "a ostentação de luxo, dinheiro, joias e viagens nas redes sociais, no estilo 'você também pode', era uma marca da D9 que foi nitidamente copiada pela Unick". O texto ainda lembra que um dos réus do caso da D9, Danter Navar da Silva, virou garoto-propaganda da Unick, acabando preso na operação da PF na última semana.