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Não haverá agricultura no futuro sem blockchain e novas tecnologias, dizem especialistas brasileiros

Especialistas do setor do agronegócio no Brasil destaca que não haverá agricultura no futuro sem novas tecnologias como blockchain

Não haverá agricultura no futuro sem blockchain e novas tecnologias, dizem especialistas brasileiros
Notícias

O grande potencial do Brasil com sua variedade de biomas e de desenvolvimento de biotecnologia foram destaque da programação do Digital Series Agronegócio, que discutiu soluções para abastecer a população mundial nas próximas décadas com segurança dos alimentos, além do aumento da produtividade no campo.

O evento gratuito e virtual, que reuniu especialistas do mercado, representantes do Governo e instituições ligadas ao agronegócio, teve como tema de abertura “Agro High Tech - Como criar uma cultura de inovação e adoção de tecnologias no campo?”.

Durante os paineis, emboras as opiniões tenham sido divergentes em alguns temas a conclusão dos especialistas foi de que o agronegócio não vai viver sem a adoção de novas tecnologias como blockchain e inteligência artificial, o Agro 4.0.

As startups do setor, hoje definidas como Agtechs, são apontadas como as protagonistas da transformação digital do campo, a começar pelos participantes do debate, referências em inovação do agronegócio – Mariana Vasconcelos, fundadora da Agrosmart, e José Augusto Tomé, CEO da AgTech Garage, mediados por Gustavo Brigatto, jornalista e fundador do portal Startups.com.br.

A primeira questão aborda se o agronegócio no Brasil está ou não engajado em tecnologia inovadora.

Para Tomé, “o nível de inovação nas soluções que as startups estão apresentando tem uma força brutal e o valor a ser gerado com novas tecnologias é imenso”. Mariana ratifica a opinião com afirmação de que o agro sempre foi tecnológico.

“Para ser a potência que somos, o Brasil, precisamos ser tecnológicos e a pandemia foi catalisadora para realmente acelerar a consciência e adoção de tecnologia para melhorar operação e produtividade”, declara Mariana, ao afirmar que o País é hoje a maior promessa global do agronegócio.

Tecnologia

A mudança do comportamento dos produtores rurais e dos trabalhadores do campo também foi tema do painel.

A conectividade e o uso de aplicativos de comunicação e troca de informações foi um dos motivos apontados como transformadores para o engajamento no setor. Hoje já são usados por inúmeras propriedades rurais softwares de ponta para gestão por assinatura (software as a service), como comentou Tomé. E é consenso que a evolução para o Agro 4.0 vem com as startups.

O diretor do Futurecom, Hermano Pinto, abriu o segundo painel do Futurecom Digital Series em uma conversa enriquecedora com Alysson Paolinelli, atual presidente da Abramilho, ex-ministro da Agricultura e indicado ao Nobel da Paz 2020.

Personagem fundamental na história do agronegócio brasileiro, Paolinelli foi o fundador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1973 – prova de que a ciência sempre caminhou ao lado do produtor para ganho de produtividade e qualidade dos alimentos.

Para Paolinelli, não se pode desprezar a ideia de que “a ciência e a tecnologia sempre foram fundamentais para usarmos os recursos naturais sem prejudicá-los e devolvê-los à natureza de forma que possam ser aproveitados pelas gerações futuras”.

Depois de situar o agronegócio do Brasil historicamente, o painelista ressalta a valorização do cerrado como a maior área do mundo para produção de alimentos que serão necessários nas próximas décadas, como se prevê até 2050. “O Brasil é capaz, pois temos a maior reserva biotecnológica do mundo”, conclui Paolinelli.

Conectividade

O produtor brasileiro é muito conectado e utiliza uma série de plataformas digitais para fechar seus negócios, especialmente via WhatsApp. Quem afirma é a gerente executiva de TI da Cocamar, Paula Rebelo, que participou do painel “Agropecuária Digital: Extraindo o potencial máximo de produção através da automação e inteligência de dados”, ao lado do Prof. Antonio Alberti, do INATEL; Edson Vendruscolo, CEO e fundador do Grupo Velho Tata; Paulo Bernardocki, diretor de Produtos e Tecnologia da Ericsson, e Thierry Soret, CFO da Usina Coruripe, sob a mediação de Marco Canongia, sócio-diretor do Lumicom.

Para Thierry, a agenda digital deve ser uma prioridade dos CFOs, que precisam buscar soluções para ampliar a conectividade no campo, principalmente em áreas remotas. Este cenário permitirá acesso ao conhecimento, contribuindo para a formação de profissionais que entendam e promovam a transformação digital.

Outro ponto defendido pelo executivo da Usina Coruripe é a necessidade de oferecer linhas especiais de financiamento para que os pequenos e médios produtores possam investir em novas tecnologias.

“Como disse Alysson Paolinelli, temos uma herança de inovação, porém somos deficientes até hoje em infraestrutura rodoviária, ferroviária e nos portos. Colocar agora toda essa tecnologia é um grande desafio, pois precisamos avançar em conectividade”, destaca Vendruscolo.

De acordo com o executivo da Ericsson, é fundamental preparar a força de trabalho para lidar com essa transformação digital.

“As pessoas querem inovar, mas nem sempre estão prontas. Precisamos oferecer condições para que elas se qualifiquem e possar atuar neste novo cenário. A conectividade não resolve todos os problemas, mas é um primeiro passo para habilitar todo o ecossistema.”

O Prof. Antônio Alberti, do INATEL, acredita que a cobertura é um dos principais problemas da conectividade. “Muitas pessoas em áreas remotas têm recursos para investir em conexão e contratar determinado tipo de serviço para a fazenda, mas não conseguem por falta de cobertura”, ressalta.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 70% das propriedades rurais em solo nacional ainda não possuem internet. “O INATEL tem defendido a importância de se trabalhar com foco em conectividade em áreas remotas, com a integração de tecnologias disponíveis.”

Automação e inteligência de dados

Para o CEO da Terra Santa Agro, José Humberto Teodoro, a comunicação máquina-máquina, em tempo real, produzirá um volume elevado de dados, que poderão se transformar em insights para a definição de estratégias de negócios.

Por isso, a importância de as empresas do agro desenvolverem uma cultura Data Science. Quando máquinas e sensores estão conectados em tempo real, é possível realizar a coleta de informações, conferindo ao gestor a capacidade de interferir imediatamente.

“Os produtores lidam com dados e processos muito complexos, que seriam humanamente impossíveis de serem analisados sem a automação. Temos um longo caminho a percorrer para melhorar e agilizar os processos, mas certamente os projetos de IoT contribuirão para aumentar a produtividade do setor”, enfatiza Teodoro.

Para finalizar o Digital Series, Solange Almeida e Ângela Diaz, respectivamente diretora e gerente de Desenvolvimento de Negócios da ST Engineering Geo-Insight, abordaram o tema “Agronegócio: Aumentando a produtividade e a competitividade com a tecnologia de satélite.

As executivas destacaram como as soluções podem contribuir para realizar a gestão de inventário e irrigação, segurança, fertilização direcionada e classificação de culturas.

“Por meio dos satélites é possível detectar a umidade do solo, monitorar o crescimento das culturas em tempo real e fazer a contagem da plantação. É o que chamamos de agricultura preditiva”, complementam.

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