*Por José Gabriel Bernardes, analista da Fuse Capital

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Tudo o que queremos fazer é tornar a sua experiência na world wide web mais suave. Mas será que é só isso?

A verdade é que a Web está quebrada

A Web foi inicialmente um aplicativo construído em cima da Internet dominada por um protocolo aberto, onde todos os projetos eram construídos em cima de HTTP (Hypertext Transfer Protocol) e de SMTP (Simple Mail Transfer Protocol). Quando Larry e Sergey criaram o Google, eles o fizeram em cima do HTTP, bem no topo da internet “não controlada”. A internet era um grande pool de informações com hiperlinks onde os usuários eram consumidores de informações.

Pense no início dos anos 2000 como um imenso livro digital, a maior enciclopédia já criada. A democratização ao acesso à informação tornou-se a ponta do iceberg do que a internet estava prestes a se tornar. 

O que agora é chamado de Web 2.0, transformou-se em uma web interativa, onde os usuários não apenas consomem, mas também produzem conteúdo. Criou-se, assim, uma onda de produtores de conteúdo nativamente digitais que usam plataformas sociais como Instagram, Youtube e Facebook. Com isso, aumentou também a necessidade de comoditizar a infraestrutura de produção e manutenção de páginas, com a Amazon AWS, Microsoft Azure, e Google Cloud. A ascensão da Web 2.0 foi impulsionada pelas mídias sociais, por dispositivos móveis e pela nuvem - e é aí que os peixes se tornaram megalodontes.

Não há dúvida de que a internet é a invenção mais importante do século passado, ela desbloqueou possibilidades infinitas; no entanto, também abriu as portas para um modelo de negócios que tem se mostrado insustentável.

O modelo “tudo grátis'' colocou o usuário como produto e os orçamentos de marketing como clientes. Mas, o problema com esse tipo de modelo de negócio é que todos nós sabemos que, na realidade, nada é gratuito. No fim, o pagamento acaba sendo feito na moeda incomensurável de dados do usuário e de distração. Daí pode-se concluir que dados são o novo petróleo e as Big Techs são a nova OPEC.

Essa realidade se traduz bem na visão de Chris Dixon, general partner da Andreessen Horowitz, segundo o qual as plataformas centralizadas, tais como as Big Techs, seguem um ciclo de vida previsível. Elas fazem de tudo para recrutar criadores, desenvolvedores e empresas. Conforme as plataformas sobem na curva S, como apontado no gráfico abaixo, seu poder sobre os usuários e terceiros cresce constantemente. Mas, quando elas chegam ao topo, seus relacionamentos com os participantes da rede mudam de soma positiva para soma zero. Então, como esses players continuam crescendo? Extraindo dados de usuários e competindo com (ex) parceiros. 

Entra em cena a Web 3.0

A Web 3.0 é vagamente definida por alguns, mas, a nosso ver, quaisquer definições ou tentativas de fazê-lo serão antitéticas, uma vez que a Web 3.0 ainda está nos seus primórdios e será subjetivamente definida pela comunidade que a usa, e não por uma entidade centralizada. Não existe uma aplicação que dite o seu estado atual ou o seu futuro; ela tornou-se uma plataforma multidirecional onde os usuários detêm os dados, o que se traduz no poder de consumir, interagir e governar por meio de tokens e smart contracts. Este último fornece a maneira mais pragmática de se compreender o estado atual e o potencial futuro da Web 3.0.

Tokens são criptoativos que rodam no topo de blockchains como Ethereum e Solana. Podem ser tokens de segurança, cujo valor é proporcional a um ativo específico, ou um utility token, pelo qual o token permitirá que você o utilize em diversos aplicativos. Já os Tokens Não Fungíveis (NFT) representam os direitos de propriedade de um ativo único.

Um caso que demonstra bem a pluralidade da Web 3.0 é o Bored Ape Yacht Club (BAYC) - uma coleção de 10.000 NFTs, isto é, figuras digitais de macacos únicos criados na blockchain Ethereum. Cada macaco tem uma raridade singular, pode ser o que o macaco esteja vestindo, fazendo ou até o background de sua imagem. Conhecidos por reunir entre seus detentores famosos como Jimmy Fallon, Steph Curry e Mark Cuban, e por serem negociados a preços astronômicos de até US$ 3,4 milhões, os NFTs do BAYC simbolizam a força de uma comunidade, além da propriedade intelectual e custódia própria dos ativos - tudo com a seguridade e transparência da blockchain. Por ter a propriedade intelectual dos ativos, algo que não existia previamente na internet ou Web 2.0, indivíduos já se aventuraram a criar marcas de roupas, cafeterias, videogames e até bandas de rock, como feito pela maior gravadora do mundo, a Universal Music Group. 

Outro caso pode ser detalhado nas finanças descentralizadas, ou DeFi, onde os NFTs têm sido usados como garantia para empréstimos (NFTfi) e podem, inclusive, ser alugados para juros (RenFT). Já em jogos, ou o que alguns denominam como Metaverso, um personagem pode viajar em diferentes mundos (ou plataformas) com diferentes roupas, skins e ferramentas, todos eles sendo um NFT, que pode ser listado em um mercado de liquidez nas longas horas de um jogador para atingir um nível desejável.

Fora os NFTs, um desenvolvimento surpreendente foi introduzido em 2020 para alinhar incentivos entre projetos e usuários, quando o Compound, um protocolo de empréstimos, se descentralizou completamente. Tudo começou permitindo que os detentores de tokens controlassem os ativos de reserva do protocolo gerados a partir das taxas do tomador. A fim de encorajar o crescimento do capital e precificar os empréstimos democraticamente, a Compound começou a distribuir tokens COMP para aqueles que forneciam liquidez para o protocolo. Cada usuário ganhava uma  participação societária e o Compound tornou-se uma Organização Autônoma Descentralizada (DAO). Qualquer pessoa que tenha um token COMP pode ter uma palavra a dizer na adição de alterações no protocolo subjacente. As sugestões podem ser técnicas, como a Compound Proposal #31, aventar mudanças nas taxas e estratégias de tesouraria da reserva ou, ainda, ser ideológicas. Os mecanismos de votação e implementação são diferentes em cada protocolo, mas cada DAO funciona como democracia em outros lugares (se é que existem).

Estamos apenas no começo de uma revolução tecnológica, e sabemos que isso é a ponta do iceberg. É uma quantidade inimaginável de projetos que conversam entre si, e estamos ansiosos para acompanhar o desenvolvimento dessa nova rede, que, para muitos, ainda permanece um mistério inexplorado.

Convidamos agora todos a acessarem a Web 3.0, e assim experienciar ler este artigo em uma web descentralizada. Para tanto, vamos auxiliá-los em um simples passo a passo. Inicialmente, acesse o Brave Browser, o navegador de internet sem coleta de cookies, endereço IP, e com anúncios desnecessários bloqueados. Se você assistir anúncios, não se preocupe, pois você será pago em Basic Attention Tokens (BAT) - a Brave distribui a receita dos anúncios para o usuário. 

Em seguida, para continuar sua jornada pela Web 3.0, baixe o MetaMask, uma carteira privada da qual você detém a custódia através de uma chave privada (não perca a chave, e guarde bem a frase de recuperação para o caso de perdê-la). Lembre-se que para transformar dinheiro em criptoativos a forma mais fácil é se inscrever em uma exchange, como a Binance ou o Mercado Bitcoin. Uma vez comprada a criptomoeda que deseja, transfira a mesma ao seu Metamask. E se você, assim como eu, se animou a deter um NFT, ingresse na plataforma OpenSea, conecte sua carteira Metamask e vá às compras ou receba pela sua participação nas redes!

*José Gabriel Bernardes é analista da Fuse Capital, gestora de venture capital carioca, que possui empresas como Hashdex e Arthur Mining em seu portfólio.

O conteúdo deste artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não necessariamente reflete as opiniões do Cointelegraph Brasil.

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