Diversas pesquisas já apresentaram informacões unânimes: operações de day trade costumam causar prejuízos aos pequenos investidores. Dados de operações de day trade de minicontratos futuros do Ibovespa e do dólar, de um período entre 2012 e 2017, reunidos por Bruno Giovanetti, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV), confirmam o senso comum, mas acrescentam uma informação nova: os investidores institucionais registraram lucros crescentes com o mesmo tipo de operação.

Negociações de minicontratos futuros permitem que investidores montem posições alavancadas com um pequeno capital inicial para apostar na alta ou na baixa dos ativos subjacentes aos contratos. Quando antecipam o movimento do mercado corretamente, o lucro pode ser grande. O problema é que quando quando fazem uma aposta errada os prejuízos são tão severos quanto teriam sido os ganhos.

Os dados da pesquisa foram apresentados sob a forma de dois gráficos publicados no Twitter nas primeiras horas do domingo,  21 - e imediatamente repercutiram entre os usuários da rede social.

O professor e economista já havia realizado alguns estudos para traçar um perfil dos investidores pessoas físicas que operam contratos de derivativos na bolsa movido pelo desejo de entender por que os resultados costumam ser majoritariamente negativos. 

A conclusão dos estudos anteriores já mostrara que apenas uma minoria obtém lucros relevantes. Mesmo para os day traders bem sucedidos, os ganhos costumam ser esporádicos. Dificilmente mantêm uma constância ao longo do tempo. 

No sábado à noite, Giovanetti resolveu usar os dados fornecidos por um convênio firmado entre a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Universidade de São Paulo (USP), onde é professor, para fazer um novo levantamento em que calculou os ganhos e perdas consolidados dos investidores.

Os dados revelaram que para os pequenos investidores individuais o prejuízo total torna-se cada vez maior com o passar dos anos. O gráfico postado no Twitter mostra a soma dos rendimentos das pessoas físicas dia a dia entre 2012 e 2017.

Investidores institucionais lucram alto

Por curiosidade, o professor e economista resolveu investigar o desempenho de investidores institucionais - e os dados consolidados mostraram um desempenho diametralmente inverso. Ao longo do tempo, os lucros aumentaram para esta classe de investidores.

Giovanetti atribui principalmente às ferramentas tecnológicas de que dispõe os investidores institucionais para justificar tamanha discrepância entre os resultados. A execução de ordens por computadores capazes de reagir em milésimos de segundo torna impossível aos investidores pessoa física competirem em pé de igualdade com as instituições, afirmou o professor em uma reportagem do Valor Investe publicada nesta segunda-feira, 21 de março.

Ou seja, o lucro depende da capacidade de execução de ordens quase instantaneamente, além da utilização de aplicativos sofisticados que analisam um volume expressivo de negociações concluídas e de ordens de compra e venda não executadas. 

Mas não basta apenas dispor do equipamento adequado. É necessário um investimento significativo em desenvolvimento de algoritmos e programação de robôs que são instalados em servidores exclusivos que ficam conectados em contiguidade física com os computadores da B3.

A conculsão que se depende de um investimento e de uma infraestrutura inacessíveis para os pequenos investidores individuais para se ter sucesso recorrente em operações de day trade.

O crescimento exponencial do prejuízo dos day traders pessoa física também foi motivado pela expansão do contingente de investidores no período analisado por Giovanetti. Entre 2015 e 2017, o número subiu de 2.000 para 15.000.

Além disso, a facilidade para realizar operações com altos graus de alavancagem é algo que vem se tornando cada vez mais simples para os investidores pessoa física a partir da redução das margens de garantia que precisam ser depositadas nas corretoras para utilização deste tipo de instrumento.

Como mencionado anteriormente, problema é que, em caso de prejuízo, essas posições alavancadas são liquidadas compulsoriamente pelas corretoras, potencializando ainda mais as perdas dos day traders.

Os dados levantados pela compilação de dados do professor e economista são delimitados a dois tipos de operação e não se aprofundam na clivagem das informações, mas confirmam que operações de day trade costumam ser prejudiciais aos pequenos investidores. As exceções confirmam a regra.

Recentemente, especialistas brasileiros do mercado financeiro compararam o risco dos famosos jogos play-to-earn, em que os jogadores são recompensados de acordo com seus desempenhos, a operações de day trade, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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