A fraude da criptomoeda OneCoin é um dos maiores golpes da história das criptomoedas, que vitimou milhares de pessoas a partir da venda de um ativo digital que depois revelou-se falso. A principal responsável, Ruja Ignatova, conhecida como "Cryptoqueen" - ou a "Rainha das Criptomoedas" -, equ desapareceu levando consigo 4 bilhões de libras esterlinas.

Segundo o portal G1, Ignatova, em 2016, chegou a subir em um palco no mítico estádio britânico de Wembley, em Londres, vestida de gala, dizendo à uma multidão que a OneCoin seria a "assassina do Bitcoin", prometendo disseminar a moeda por todo o mundo e levar o BTC ao esquecimento: "Em dois anos, ninguém vai mais falar de Bitcoins", teria dito.

Porém, em 2017, Ignatova e a OneCoin desapareceram do mapa. Segundo documentos da BBC, a Rainha Cripto e a One Coin faturaram quase 30 milhões de libras apenas no primeiro semestre de 2016 no Reino Unido, além de investimentos de países como Paquistão, Noruega, Canadá, Iêmen e até o Brasil.

Diferente do Bitcoin, que funciona sobre uma blockchain pública, a OneCoin sequer possuía uma blockchain para sua suposta criptomoeda. Naquele mês, o especialista blockchain Bjorn Bjercke teria recebido uma proposta para ser gerente técnico de uma startup cripto da Bulgária, ganhando salário anual de R$ 1,3 milhão, apartamento e carro disponíveis, com uma única missão: desenvolver a blockchain da OneCoin. Ele recusou a oferta.

No fim do mesmo ano, um webinar promovido pela Cryptoqueen no fim de 2016 exibia um currículo invejável: formação em Oxford, PhD e experiência em grandes empresas. Com isso, muitos britânicos convenceram-se que seria interessante investir em OneCoins, que prometiam ser um sucesso estrondoso.

Ao mesmo tempo, Timothy Curry, um entusiasta de criptomoedas, começou a investigar a OneCoin e chegou a Bjorn Bjercke, que alertou-o sobre a ausência de uma blockchain. Ao contactar a empresa, ele só recebeu uma resposta em abril de 2017:

 "Ok, Jen, eles não querem revelar essa informação, caso algo dê errado onde a blockchain está sendo guardada. (...) Nossa tecnologia blockchain é um servidor SQL com uma base de dados."

Uma blockchain em servidor SQL, segundo a escocesa Jen McAdam, que foi desfalcada pela OneCoin, não poderia abrigar uma criptomoeda real, pois permitiria que a rede fosse facilmente adulterada por qualquer pessoa. Ou seja, os valores da OneCoin não tinham qualquer significado real: eram apenas números digitados por uma pessoa da empresa, e não correspondiam ao mercado da suposta criptomoeda. Era o começo do fim da OneCoin.

Rainha desaparecida

A Rainha Cripto continuava viajando o mundo para levar a ideia da OneCoin adiante, com a empresa crescendo rapidamente e Ignatova investindo sua nova fortuna em propriedades milionárias em Sófia, capital da Bulgária, e viagens de luxo.

Porém, como é corriqueiro em crimes deste tipo, o retorno dos investimentos começou a ser adiado, e os investidores começaram a se preocupar. Em novembro de 2017, a Cryptoqueen deveria comparecer a uma conferência da OneCoin em Lisboa, mas não apareceu. Nem na conferência, nem nunca mais.

Ignatova estava escondida, segundo o FBI. O último registro conhecido dela é de 25 de outubro de 2017, duas semanas antes do evento em Lisboa, em um vôo de Sófia para Atenas.

Depois do sumiço da dona da OneCoin, os investidores cobraram a empresa por provas da existência de uma blockchain, mas nunca tiveram uma resposta da empresa.

A investigação do FBI, revelada pela BBC, indica que a OneCoin arrecadou 4 bilhões de libras entre agosto de 2014 e março de 2017, enquanto outras pessoas levantam a hipótese da falsa criptomoeda ter arrecadado até 15 bilhões de libras esterlinas.

A Cryptoqueen foi até alvo de um podcast de sucesso, o The Missing Cryptoqueen, produzido por Georgia Catt. Oliver Bullough, especialista em rastrear o destino dos fundos de criminosos e super-ricos do mundo, diz que não é simples seguir o dinheiro de fraudes como a da OneCoin:

"Esses bens continuam existindo e sendo usado para comprar influência política, casas e iates. Mas quando alguém tenta achá-los, seja um policial ou um jornalista, eles ficam invisíveis."

Segundo ele, como a OneCoin foi um golpe bilionário, "não é incomum que grupos obscuros estejam envolvidos". Mesmo as grandes propriedades compradas pela Rainha Cripto na Búlgária já passaram do nome de Ignatova para outras empresas, das quais ninguém conhece os proprietários.

A Justiça dos EUA, porém, conseguiu implicar o irmão de Ruja, Kostantin Ignatov, nos crimes praticados pela OneCoin, como noticiou o Cointelegraph. Ele foi preso em março de 2019 quando embarcava para a Bulgária, depois condenado a ressarcir US$ 400 milhões que teriam sido desfalcados de investidores americanos, assumindo a culpa por diversas acusações. Ruja também é processada nos EUA por fraude e lavagem de dinheiro.

Konstantin assumiu a OneCoin depois do desaparecimento de Ruja, segundo o Departamento de Justiça dos EUA, "com agentes importantes do crime organizado do Leste Europeu".

Apesar de todo o escândalo, a OneCoin continua com um escritório em operação e recebendo investimentos. No Reino Unido, a polícia abriu investigação mas encontrou dificuldades pelo fato de "empresas e indivíduos por trás da OneCoin estão fora da jurisdição britânica. 

O desaparecimento de Ruja Ignatova trouxe à tona uma série de boatos sobre seu paradeiro. Alguns dizem que ela é protegida pelo crime organizado na Bulgária, outros dizem que ela tem passaporte russo e viaja regularmente entre Rússia e Dubai, além de relatos de que ela ainda estaria em Londres ou que estaria morta. Outro relato diz que ela estaria em Frankfurt, Alemanha, com seu suposto marido, o alemão Bjorn Strehl.

Em uma resposta recente à BBC, a OneCoin, de forma incrível, garante que "de modo verificável, [a OneCoin] preenche todos os critérios de uma criptomoeda".

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