O conceito de tokens não-fungíveis é, geralmente, associado às artes digitais. Outras expressões artísticas, porém, podem ser registradas na forma de NFTs. Músicas são um bom exemplo de conteúdo que se beneficia do registro em tecnologia blockchain.

O Cointelegraph Brasil entrevistou profissionais imersos nos ecossistemas da música e da Web3 para saber o que eles pensam sobre a interseção entre NFTs e produções musicais. Os benefícios dessa relação incluem formas diferentes de monetização, aproximação com o público e maior rentabilidade para artistas em início de carreira.

Encontrando “super fãs”

Pat Junior é um músico dos Estados Unidos que conta com 53,2 mil ouvintes mensais no Spotify. Ele também publica canções exclusivas na Sound, plataforma para comercialização de músicas em formato de NFT. “Eu comecei a interagir com músicas em NFT através da Iman Europe [cantora e chefe de relações com artistas da Sound]. Na verdade, sou o primeiro artista que ela levou até a Web3”, diz Pat ao Cointelegraph Brasil.

O artista conta que ouviu sobre NFTs pela primeira vez em 2021, em uma conversa ocorrendo no aplicativo Clubhouse. Desde então, Pat tem investido em criptomoedas. “É natural, então, que eu entrasse na cena dos NFTs musicais após eu aprender sobre moedas digitais e como a blockchain funciona.”

A primeira vantagem de publicar canções no formato de token não-fungível é a aproximação com “super fãs” e pessoas dispostas a apoiar a carreira do músico, avalia Pat. “Alguém que gasta dinheiro com a sua música para obtê-la como colecionável é alguém que não só identifica seu valor como artista, mas também se identifica com a história por trás da música.”

A importância da música em NFT agindo como colecionável é vista por outros artistas, como Marcus MPC, criador da coleção CryptoRastas. Em entrevista recente ao Cointelegraph Brasil, ao falar do selo musical CryptoRastas Music Label, Marcus comentou sobre a ideia de colecionar música no meio digital ser uma poderosa experiência para o usuário. Por sua vez, essa experiência aproxima artistas e seus fãs.

Além disso, o fã clube sempre vai querer ser impactado pelo trabalho do artista, não importa como ele se apresente, avalia Odilon Borges, cofundador da agência Atabaque. Assim como Pat, Odilon acredita que grandes fãs de um artista vão adquirir NFTs lançados por ele para fazer “parte da vivência”.

“Claro que sempre há os investidores que querem adquirir o NFT para futura negociação, mas o público que deve ser buscado no NFT da música são seus fãs. Um caso emblemático neste sentido é o NFT no estilo programa de recompensas, nos moldes do que Nando Reis recentemente anunciou”, afirma o cofundador da Atabaque.

Odilon elabora sobre os tokens não-fungíveis como formas de fãs obterem mais experiências, usando como exemplo um filme musical que a Atabaque está desenvolvendo. Serão usados NFTs, que são divididos em diferentes categorias, para permitir que fãs interajam com os artistas. 

“Dependendo do token, o fã terá direito a conhecer os artistas, acompanhar um pocket show, escolher a ordem das músicas no disco da trilha sonora e até a ter o seu nome aparecendo nos créditos do filme. E esse tipo de experiência é o que, de fato, faz a diferença para o fã.”

Para Odilon, o NFT é apenas mais uma forma que os artistas encontram para vender suas músicas, interpretadas como ativos pela Atabaque. “Se antes eu trabalhava na indústria do óleo e gás e vendia petróleo, hoje eu vendo música.”

Fonte extra de receita

A segunda grande vantagem do lançamento de músicas em forma de tokens não-fungíveis é a possibilidade de gerar receita por meio de um novo canal. Pat Junior classifica a venda de seus hits na plataforma Sound como um “forte canal de receita”, que facilita ao cantor investir em suas próprias produções.

Dados do Spotify Royalties Calculator apontam que dez reproduções no Spotify rendem aos artistas da plataforma cerca de R$ 0,20. Para músicos em início de carreira, o valor pode ser muito baixo. Em comparação, em plataformas onde músicas transformadas em NFTs são vendidas, é normal que artistas iniciantes vendam suas produções por 0,01 ETH. 

A título de comparação, considerando a cotação do Ethereum (ETH) a US$ 1.607,15, um artista precisa vender apenas 25 obras a 0,01 ETH para receber o equivalente a 10.000 reproduções no Spotify. Pat ressalta, no entanto, que as fontes de receita não são excludentes. É possível produzir conteúdo para ambas as plataformas.

Na mesma linha opina Odilon Borges, da Atabaque, ao dizer que NFTs e a remuneração das plataformas de streaming não competem entre si. Mais uma vez, ele reforça a ideia que é importante para o artista vender música em suas mais diversas formas. Nesse sentido, Odilon conta que a Atabaque está buscando várias oportunidades envolvendo blockchain, que envolvem até mesmo registro de contratos e recolhimento de royalties.
 
“O NFT é uma forma autêntica e nova de remunerar o artista, sem que venha a competir com as plataformas de streaming. Ao contrário, o fã clube do artista que já o segue nessas plataformas vai querer adquirir um NFT, que vai gerar mais reconhecimento ao artista”, conclui Odilon.

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