O brasileiro tem que trabalhar 149 dias exclusivamente para pagar impostos. A constatação é do novo estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) e compartilhado com o Cointelegraph Brasil. O levantamento indica que a carga tributária efetiva sobre os brasileiros está, para esse ano de 2025, em 40,82%.

E tem mais pela frente a depender de como o Banco Central do Brasil irá publicar as regras para o mercado de criptomoedas e stablecoins. Além das normas para exchanges (conhecidas como VASPs) operarem no Brasil, o regulador ainda pretende classificar stablecoins como câmbio e, portanto, com incidência de IOF pela Receita Federal, tornando mais caro negociar criptoativos no país.

Inclusive, recentemente, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, sugeriu elevar a tributação sobre remessas de criptomoedas para o exterior

De acordo com a análise do IBPT, atualmente o peso dos tributos na vida do cidadão brasileiro se mantém elevado. Para se ter ideia, em 2003, esse percentual era de 36,98%, chegando a ultrapassar os 41% em diversos momentos.

“É estarrecedor constatar que, mesmo após décadas de altas cargas tributárias, se exigem quase cinco meses de trabalho do brasileiro só para custear o Estado. O pior é que, mesmo com essa elevada arrecadação, o cidadão não vê esse dinheiro retornar em serviços públicos de qualidade”, critica o presidente executivo do IBPT, João Eloi Olenike.

A composição da carga tributária, do rendimento médio do contribuinte evidencia que os impostos sobre o consumo ainda são os que mais penalizam a população: representam 22,73% da renda, no período pesquisado, ou seja, 83 dias de trabalho. Já os tributos sobre a renda – como o Imposto de Renda Pessoa Física, que exigem o pagamento de tributos em determinados casos nas operações com criptoativos, consomem 15,06% da renda, equivalentes a 55 dias.

Os impostos sobre o patrimônio, como IPTU, IPVA, ITCMD e ITBI, representam 3,03% da renda e demandam 11 dias. Somados, esses tributos totalizam os 40,82% e os 149 dias.

Governo precisa ter atenção com stablecoins

Com o Banco Central se preparando para publicar regulamentação específica sobre stablecoins no Brasil, especialistas alertam para a urgência de marcos normativos mais modernos diante do crescimento acelerado do setor.

Segundo estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS), stablecoins como Tether (USDT) e USD Coin (USDC) representaram quase metade dos fluxos globais de criptomoedas em 2021, que chegaram a US$ 2,6 trilhões.

"O desafio regulatório consiste em equilibrar a inovação tecnológica com a segurança jurídica, construindo um arcabouço normativo adaptável às rápidas transformações do setor", explica Lorena Botelho, especialista em regulação financeira e criptoativos do escritório Urbano Vitalino Advogados.

Ganha mais de R$ 10 mil, então pague mais impostos

O estudo do IBPT também apresenta recortes por faixa de renda. Os cidadãos com rendimentos mensais de até R$ 3.000 trabalham até o dia 29 de maio para pagar seus tributos, assim como quem tem renda média de R$ 6.500.

Já os que recebem entre R$ 3.000 e R$ 10.000 (classe média) trabalham até o dia 22 de maio. Por outro lado, os contribuintes com rendimentos superiores a R$ 10.000 precisam trabalhar até 5 de junho, em função da maior incidência de Imposto de Renda em seus ganhos.

Ao analisar o cenário internacional, o IBPT também converteu a carga tributária em relação ao PIB, dos países da OCDE em número de dias trabalhados. O Brasil aparece em 14º lugar, com 122 dias, atrás de nações como Alemanha (143), Itália (151) e Dinamarca (153). Apesar da diferença de carga bruta ser aparentemente menor, o grande diferencial é a qualidade dos serviços públicos prestados. 

“Cobramos como países desenvolvidos e entregamos serviços como os de nações em desenvolvimento. O Brasil tem um sistema regressivo, ineficiente e que pune mais quem ganha menos. A Reforma Tributária aprovada no Congresso Nacional tem a obrigação de ser simples, justa e transparente, promovendo um melhor desenvolvimento social, para tirar o país dessa situação lamentável em termos de retorno ao bem-estar social da população”, reforça Olenike.

Impostos no Brasil

Entre os fatores que impactaram a carga de 2025 estão o aumento das alíquotas modais de ICMS, especialmente sobre combustíveis e comércio eletrônico internacional, por meio do Programa Remessa Conforme.

Além disso, o retorno gradual da contribuição previdenciária patronal – que antes era substituída por alíquotas sobre a receita bruta para setores específicos – também passou a valer a partir de janeiro, já com reflexos detectados no período-base do estudo (maio de 2024 a abril de 2025).

O histórico apresentado pelo IBPT mostra que, em 1970, os brasileiros trabalhavam, em média, 76 dias para pagar tributos – ou seja, menos da metade do tempo exigido atualmente. A média por década cresceu substancialmente: foram 102 dias nos anos 90, 138 nos anos 2000, 141 nos anos 2010 e 151 dias na atual década, revelando um aumento contínuo e preocupante. “Trabalha-se hoje mais que o dobro do que se trabalhava nos anos 70 apenas para sustentar o Estado”, conclui Olenike.

O levantamento, em sua edição 2025, foi conduzido pelos tributaristas Gilberto Luiz do Amaral, João Eloi Olenike, Letícia Mary Fernandes do Amaral, Cristiano Lisboa Yazbek e Fernando Steinbruch.