A atitude dos mineradores de Bitcoin (BTC) costuma ser um dos melhores indicadores sobre os estágios do mercado, mas o crash de junho, seguido das fortes perdas acumuladas desde o início de 2022, tornaram a avaliação das condições atuais mais nebulosas. Os mineradores já capitularam, contribuindo para o preço do BTC consolidar o fundo do atual ciclo de baixa ou ainda há mais dor pela frente?

Esta é uma dúvida que tem dividido os analistas. A seguir, vamos tentar entender qual é o estado atual da mineração de BTC e o que ele pode indicar a respeito dos rumos do mercado.

Os mineradores de Bitcoin são considerados os "últimos hodlers", pois quanto maior o preço do BTC maior será a lucratividade de suas atividades. Quando os mineradores se desfazem de suas posições em um momento de baixa do mercado, isso acontece principalmente para cobrir os seus custos operacionais. 

Em um cenário ideal, eles vendem durante os ciclos de alta e acumulam nas baixas, mas não é isso que está acontecendo agora.

Lucratividade comprometida

O mercado de baixa tem comprometido seriamente a lucratividade da mineração. Em 21 de junho, quando o bitcoin estava sendo negociado em torno de US$ 20.000, a gigante Bitfarm vendeu US$ 82 milhões em Bitcoin para reforçar seu caixa. Antes disso, em maio, as mineradoras públicas venderam 100% de sua produção mensal para remanejar suas dívidas e cobrir suas despesas operacionais.

Por outro lado, mesmo com o mercado em queda desde novembro do ano passado, a dificuldade de mineração continuou aumentando e está muito próxima de suas máximas históricas. Isso mostra que os mineradores não interromperam ou desaceleraram suas operações, pelo menos até aqui. Quando a rede registra um incremento do poder total de computação medido pela taxa de hash, automaticamente a mineração de novos BTCs se torna mais difícil e também mais cara.

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Taxa de hash e os custos de mineração

A taxa de hash do Bitcoin deve ser entendida como o “poder total de computação da rede do Bitcoin”. Tecnicamente, é o número de cálculos matemáticos que as entidades da rede fazem a cada segundo para tentar adivinhar o hash de um determinado bloco e serem compensados pela emissão de novos Bitcoins. Atualmente, a recompensa é de 6,25 BTC por bloco adicionado à rede.

À medida que mais computadores e recursos de mineração entram na rede, esse jogo de adivinhação fica mais difícil e os mineradores precisam usar mais eletricidade para obter as mesmas recompensas. Ou seja, há um aumento dos custos operacionais para todas as entidades da rede.

Assim, a taxa de hash é considerada um indicador aproximado do custo total da mineração. A segunda variável fundamental é o financiamento das atividades. Muitas empresas de mineração têm pagamentos de juros e obrigações de dívida que precisam ser adicionados aos seus custos operacionais do dia a dia.

Alavancagem e riscos de contágio

É normal que durante os ciclos de alta do mercado os mineradores tomem empréstimos para financiar a expansão de suas atividades. Em vez de gastar Bitcoin, eles usam seus rigs de mineração e recompensas em Bitcoin como garantia para tomar empréstimos com juros altos. De acordo com uma reportagem da Bloomberg, estima-se que, hoje, haja um passivo de cerca de US$ 4 bilhões contraídos através desta modalidade de financiamento.

Esse tipo de financiamento aumenta a pressão sobre as entidades do setor de duas formas diferentes. Primeiro, com grande parte de seus equipamentos utilizados como garantia, é ruim para as mineradoras reduzir as atividades mesmo quando a lucratividade é baixa. Em segundo lugar, os pagamentos dos empréstimos aumentam os custos totais de operação de uma forma que pressiona ainda mais as margens de lucro.

Portanto, se os mineradores estiverem em dificuldade para honrar seus empréstimos, eles podem ser obrigados a liquidar seus Bitcoins e entregar suas máquinas ao credor. Geralmente, é nesse estágio que a capitulação dos mineradores se confirma.

Por sua vez, os contratos de empréstimo têm riscos nas duas pontas. As dificuldades de pagamento dos mineradores pressionam os credores, mas os mineradores também correm o risco de perder as garantias oferecidas para obter financiamento.

A fragilidade dos balanços de alguns credores exige que os mineradores permaneçam ativos para honrar seus empréstimos. Ao mesmo tempo, mineradores operando no prejuízo contribuem para manter a taxa de hash da rede alta, sem oferecer alívio aos custos operacionais, gerando um círculo vicioso prejudicial tanto aos credores quanto aos devedores.

No entanto, a sobrevivência não é o único incentivo que mantém os mineradores ativos mesmo amargando prejuízos. As entidades que seguem operando estão de olho em um incremento em suas recompensas, a partir do momento em que os players menos eficientes ou superalavancados forem eliminados do mercado. 

Assim, os mineradores que permanecem ativos não apenas têm mais chances de reverter os prejuízos momentâneos em lucros futuros, mas também ganham mais Bitcoin a um preço mais baixo, potencializando duplamente seus ganhos em potencial.

A taxa de hash e a capitulação

Apesar das vendas maciças dos mineradores em maio e junho, a dificuldade segue aumentando e a taxa de hash ainda não caiu de forma significativa. Em 11 de junho, registrou a máxima histórica de 231.428 TH/s, de acordo com dados da Blockchain.com, e na tarde desta segunda-feira, 4, é de 212.931 Th/s.

Taxa de hash do Bitcoin (90 dias). Fonte: Blockchain.com

Ainda não houve um declínio substantivo da taxa de hash que indicasse uma grande capitulação dos mineradores como ocorreu de novembro de 2018 a janeiro de 2019.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, analistas têm sido unânimes em apontar a faixa de US$ 15.000 como o provável fundo do preço do BTC no atual ciclo de baixa do merado.

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