A linguagem humana e a representação das coisas estão ligadas à sobrevivência da espécie. O que se relaciona à quantificação do tempo, a noção de passado, presente e futuro, e tudo mais que existe no mundo. Isso porque, na essência, o que existe é o “aqui e agora.” A teoria que vale para o mundo físico também  pode valer para o metaverso, ideia que coloca como realidade tudo que acontece no mundo virtual. Pelo menos esta é a teoria do filósofo australiano David Chalmers, expressa no livro Reality+, uma das grandes obras lançadas nos Estados Unidos este ano, ainda inédita no Brasil

Para o autor, a vida no universo virtual pode ser tão plena quanto no mundo real que, segundo ele, pode já ser uma simulação virtual. A tese do professor de filosofia e neurociência da Universidade de Nova York se popularizou quando ele utilizou os conceitos de seu estudo sobre a consciência descritos no livro The Conscious Mind e compartilhados no Centro da Mente, Cérebro e Consciência da New York University, para jogar luz sobre o metaverso, por meio da “tecnofilosofia.”

Chalmers é casado com a filósofa brasileira Claudia Passos e costuma visitar o Rio de Janeiro todos os anos. Em entrevista à Época Negócios, ele falou sobre diversos conceitos abordados no livro Reality+, alguns considerados polêmicos, como a possibilidade de vida plena no metaverso. 

Segundo ele, embora muitas pessoas considerem falsa, a realidade no metaverso é genuína e as pessoas podem se relacionar no mundo virtual tal qual o que mostrou um filme recente em que dois amigos percebem que são personagens de um game. Ocasião em que um deles questiona se tudo aquilo que eles estavam vivendo seria irreal, quando o outro personagem rebate argumentando que estava sentado com seu melhor amigo, ajudando-o em um momento difícil e que aquilo era real.

O filósofo também refutou que a vida no metaverso seja um escapismo da vida real, uma manifestação de desistência das pessoas em relação às suas vidas. Ele exemplificou os casos de pessoas que se mudam para outros países, para outros continentes, como forma de começar uma nova vida em outro lugar, o que não quer dizer que elas desistiram de suas vidas. 

Em relação às regras no metaverso, ele se posicionou favoravelmente à manutenção dos padrões existentes no mundo físico. Ao ser confrontado sobre outra afirmação polêmica de seu livro, a respeito de a espécie humana já estar vivendo uma simulação, em um mundo virtual, ele disse que só afirmou que a possibilidade existe e que não pode ser negada, em razão do desenvolvimento tecnológico que deverá criar réplicas perfeitas do mundo. 

Em caso de simulação, David Chalmers concordou que a desigualdade no mundo, as guerras, as pandemias, sugerem que as motivações dos eventuais simuladores não são boas e acrescentou que as pessoas também fazem questionamentos sobre Deus. Mas ele acrescentou que, o “metaverso da vida real humana” pode ser uma entre centenas de outros experimentos. 

Ele manifestou certo pessimismo ao comparar as big techs a “deuses do metaverso” ao questionar os múltiplos interesses dessas empresas sobre os usuários e a manutenção das desigualdades, embora ele tenha feito um balanço positivo para o metaverso, universo que precisa de debates éticos, políticos e filosóficos sobre como ele será construído. Segundo ele, embora seja necessária a escolha das melhores formas de governo e organização social, muita coisa vai ser decidida por grandes corporações, como Meta, Apple e Google.

Enquanto isso, alguns problemas do mundo físico parecem já ter chegado ao metaverso, entre eles a bolha imobiliária que fez os preços dos terrenos virtuais desabarem 85% em meio ao declínio do interesse, conforme noticiou o Cointelegraph.

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