A condução da economia pelo Banco Central (BC) do Brasil e pelo mercado financeiro falhou durante a crise do coronavírus, segundo o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Luiz Carlos Mendonça de Barros.

O economista, que foi brevemente Ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na semana passada que a manutenção dos juros a 2% ao ano criou uma armadilha para o Banco Central:

"Há uma armadilha muito grave para o Copom. O Banco Central acreditou nas previsões que o mercado fez, há quatro ou cinco meses, para a inflação deste ano e do ano que vem. O mercado errou, a expectativa era de 2% para este ano e, mesmo para o ano que vem, era baixa, entre 2% e 2,5%. O BC levou isso a ferro e fogo, sem criticar. E agora o mercado mudou a expectativa de inflação, para mais de 3% em 2021"

Barros também defendeu que " deveria reconhecer que errou e que o mercado errou também", e que a taxa de juros atual é insustentável:

"É insustentável ter os juros a 2%, mas não se sabe como o BC vai sair dessa arapuca. Não adianta aumentar 0,15 ponto porcentual, ele vai ter de dizer no “forward guidance” (prescrição futura) que errou tanto a intensidade da recuperação quanto a inflação futura. A lição é que todo protocolo para ação macroeconômica do governo precisa ter uma base analítica correta. Mais do que isso, se errou, corrige. Já deveria ter corrigido. Vão jogar a culpa na questão do déficit público, mas isso não tem nada a ver."

Ele ainda defende que os juros precisam acompanhar a expectativa de inflação de 2021, que é de 3,5%. O Ministério da Economia do atual governo prega uma economia de juros baixos, com o ministro Paulo Guedes muitas vezes destacando isso como vantagem.

Nesta semana, o Congresso também prepara a votação da autonomia do Banco Central, algo que foi defendido na semana passada por Guedes e definido como "um sonho".

Como noticiou o Cointelegraph Brasil, o sonho do ministro de uma moeda "independente de pressões políticas" atende por outro nome: é o Bitcoin.

Luiz Carlos Mendonça de Barros foi ministro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por menos de um ano, em 1998. No auge das privatizações da Era FHC, o ministro foi pego em grampos negociando a formação de um consórcio do Sistema Telebrás, pedindo demissão em seguida e alegando que "não houve uma vírgula fora de lugar" nas privatizações sob sua responsabilidade.

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