O country manager da Ripio no Brasil, Ricardo Da Ros, concedeu entrevista ao Cointelegraph Brasil em que falou sobre o primeiro ano da plataforma da empresa no país, sobre os planos para 2020, e disse que a queda de grandes players do mercado brasileiro como Atlas Quantum e Grupo Bitcoin Banco até "demorou" e que as empresas "sempre foram muito suspeitas".

Na entrevista, Da Ros revelou que a aceleração da Ripio no programa da gigante de pagamentos Visa evoluiu para um relacionamento mais estreito entre ambas as empresas, que deve dar no lançamento de um cartão de Bitcoin ainda em 2020 com a bandeira da Visa.

Além disso, ele falou também sobre as diferenças de perfil entre o consumidor brasileiro e o argentino, sobre as expectativas para o Halving, e mais. Confira a seguir:

Cointelegraph Brasil (CT) - Como foi o primeiro ano da Ripio no Brasil depois do lançamento da plataforma?

Ricardo Da Ros (RR) - Em relação ao primeiro ano, não é o primeiro ano oficial da Ripio no Brasil. Em 2016, 2017 e 2018 ela funcionou, digamos assim, em modo de testes, havia uma plataforma adaptada para sentir o mercado, e então em 2018 a empresa decidiu priorizar o Brasil, investir e criar uma infraestrutura. No final daquele ano a gente começou a conversar e em janeiro de 2019 eu entrei para estruturar. Então esse primeiro ano "de verdade", digamos assim, da Ripio no Brasil foi de estruturação, de processos de compliance, contratamos por exemplo um compliance officer aqui que vem de uma experiência de muitos anos com o HSBC de Londres, trabalhando naquele caso do HSBC com os cartéis mexicanos para investigar os procedimentos do banco no México.Mas voltando ao assunto, a gente quer trabalhar direito, então esse primeiro ano foi de formar essa estrutura, esse compliance para a gente trabalhar como se fosse uma entidade totalmente regulada, apesar do mercado não ter ainda uma regulação específica. Mas a gente trabalha como se fosse uma instituição financeira, adotando por vontade própria regulações e regras que não somos obrigados a cumprir por lei, mas que a gente prefere desta forma. E uma consequência disso foi que a Visa escolheu a gente no ano passado para o programa de aceleração deles. Depois de trabalhar muito perto deles, eles convidaram a gente pra ir pra lá pra ajudá-los a saber mais sobre cripto e também ajudar a gente a estar em mais mercados, então o ano foi intenso nesse ponto também. A gente também ampliou o número de funcionários e fez alguns ajustes de plataforma, no ano passado a plataforma mundial da Ripio passou por uma renovação e então uma nova plataforma foi lançada no fim do ano passado. Não pode ser uma plataforma que funcione igual para todo o país, cada lugar tem as suas particularidades, então a gente trabalhou forte nisso pra fazer com que a experiência da plataforma no Brasil fosse adequada ao público brasileiro, ainda estamos fazendo alguns ajustes mas teve bastante progresso e ela está bem estruturada para o Brasil.

CT - Na última entrevista ao Cointelegraph Brasil, foi citado que a empresa tinha meta de 1 milhão de usuários para 2019, este número foi alcançado? Como foi a repercussão das publicidades em metrôs e aeroportos em São Paulo?

RR - Em relação à meta de atingir 1 milhão de usuários, ainda não atingimos, por algumas razões, o mercado desaqueceu, então a gente só no fim do ano passado a gente foi fazer campanhas mais fortes para angariar usuários, então agora estamos com cerca de 500 mil na plataforma. As campanhas foram muito boas, e se você perceber, não falavam sobre comprar criptoativos, era do tipo "Conheça o Bitcoin", era educativa, para introduzir as pessoas, para que elas começassem a pensar nisso e para apresentar a marca da Ripio. A gente enxerga a estratégia a longo prazo, então aquele foi um primeiro movimento e agora neste ano a gente deve fazer mais duas rodadas de campanha ao longo do ano para o nosso nome ficar mais reconhecido na cabeça das pessoas, mas também as criptomoedas e especialmente o Bitcoin, para o mainstream. Para o mundo cripto, que é pequenininho, todo mundo sabe e tal, mas não é isso. O mercado brasileiro ainda é muito pequeno e a gente tem que expandir, não expandir para as pessoas caírem em golpes, mas expandir com conhecimento, boa parte da nossa plataforma é de conteúdo educacional para as pessoas entenderem o que é blockchain e criptomoedas, da parte financeira, investimentos, sem prometer nada, para que as pessoas possam saber com o que elas estão lidando.

CT - E quais as perspectivas para a empresa neste ano?

RR - Agora, daqui para frente, depois desta estruturação, é consolidar mais a marca, através de campanhas e de serviço de qualidade, e a gente vai lançar alguns produtos novos neste ano, um cartão de Bitcoin em parceria com a Visa, que é uma evolução da nossa aceleração, para as pessoas comprarem com Bitcoin, depósitos e retiradas 24 horas por dia.

CT - Qual é o perfil médio do cliente brasileiro, se é que ele pode ser traçado, e quais as diferenças para a Argentina?

RR - Como tudo é muito novo, não vale a pena ainda tentar desenhar um perfil para atacar. Acho que a gente tem que identificar ao longo do tempo e abordar ainda de uma forma mais geral. Claro, no básico o que a gente identifica é que a maioria dos usuários é homem, tem uma faixa etária mais predominante, são de classe média, mas regionalmente não vale a pena traçar perfis diferentes. Até em relação à Argentina, tem uma diferença muito grande de perfil dos clientes. Na Argentina eles estão mais acostumados a lidar com dólar, e agora com a crise, com o peso desvalorizando, para o Argentino o Bitcoin é uma saída muito forte para se proteger contra riscos políticos, econômicos e financeiros. Já o brasileiro quer ganhar dinheiro rápido, ficar milionário, então essa ainda é uma diferença muito grande, que também passa pela parte de informar os investidores como eu falei.

CT - Hoje a Ripio tem suporte na carteira às duas maiores criptomoedas, BTC e ETH, e a duas stablecoins. Há planos de adotar mais moedas?

RR - Da forma como a Ripio está estruturada, existem dois serviços principais. Eu gosto de fazer um paralelo com a Coinbase, que começou como uma carteira digital de compra e venda de Bitcoin e uma ou outra moeda, depois lançaram a XDEX, que é uma exchange com vários pares e tal. A Ripio funciona da mesma forma, nós temos a wallet, com as moedas que a gente suporta e que tem ali compra e venda em reais e uma outra parte da plataforma que é uma exchange, que aí sim temos outros pares, que é um produto extremamente novo, ainda sem muita liquidez. E tem dois perfis de usuário, o que quer entrar e comprar Bitcoin e pronto, não quer ver orderbook nem nada, e o usuário mais hardcore que quer fazer trade, que quer mais moedas, então para esse tem a exchange. A gente quer manter a wallet o mais simples possível, com duas stablecoins, Ethereum e Bitcoin.

CT - Há outros projetos de criptomoedas que podem entrar para a wallet?

RR - Tudo ainda é muito fluido, a gente pode incluir novas moedas na wallet sim, mas outros projetos seriam incluídos principalmente na exchange ainda não vejo a necessidade de ter na carteira, justamente para não confundir o usuário. A gente tá falando do usuário mainstream, o usuário novo, que está começando a aprender sobre Bitcoin, e acho que até o BTC é suficiente para ele. Se der muita opção, a tendência é ele se perder, ou se assustar e não querer participar, então quanto mais simples melhor para esse usuário novo. E para o usuário mais avançado tem a exchange com todas essas opções de trade. É bom ter essa distinção entre essas duas plataformas.

CT - Também no ano passado vocês tentaram uma aquisição no mercado brasileiro. Isso evoluiu? Ainda há planos?

RR -  gente teve negociações extensas com alguns grandes players do mercado no ano passado, quase fechamos negócio mas no último momento não deu certo e preferimos focar na nossa nova plataforma. Agora em 2020 continuamos abertos a essa possibilidade, não estamos procurando ativamente como no ano passado, mas agora não. Hoje não vale a pena pagar um preço muito alto, as exchanges do Brasil em geral não estão com saúde financeira muito boa e o mercado por enquanto não está ajudando.

CT - Também em 2019 o Brasil sofreu com muitas pirâmides financeiras e a queda de grandes empresas que aparentavam solidez, como a Atlas Quantum e o Grupo Bitcoin Banco. Como isso afetou o mercado?

RR - Muitas dessas empresas pareciam sólidas para parte das pessoas, mas para mim sempre foram muito suspeitas. Mas essas empresas, pelo o menos para mim, já estava claro que não eram muito "legítimas", vamos dizer assim. Para nós não teve impacto direto nenhum, mas o impacto de curto prazo assusta as pessoas que poderiam querer comprar Bitcoin e olham para o mercado e pensam: "Ah, tem um monte de picareta". E a gente também está neste mercado e pode ser julgado desta forma, prejudica o mercado como um todo, mas é de curto prazo. Mas acho que no fim foi ótimo essas empresas quebrarem ou falirem, enfim, e a gente pode ficar esperto que outras dessas vão aparecer, como já até existem, pois era muito dinheiro girando nesse esquemas. Acho que sem elas no mercado fica um espaço para as empresas sérias ocuparem, incluindo a Ripio, com uma oportunidade aí em 2020 de fazer isso acontecer. Demorou para elas caírem, mas achei ótimo que isso aconteceu.

CT - 2020 também é o ano do halving do Bitcoin. Qual a expectativa para a maior criptomoeda?

RR - Eu vejo uma pressão cada vez maior de pessoas interessadas, aprendendo sobre Bitcoin e entrando no mercado e querendo comprar, e a oferta do Bitcoin sempre reduzindo e ficando mais difícil de encontrar a partir do halving. Então, essa pressão é positiva para o preço no longo prazo, mas o que vai acontecer no caminho ninguém sabe.