A multinacional brasileira fabricante de aeronaves Embraer confirmou nesta semana que sofreu um ataque cibernético em 25 de novembro e que, por não ter pago resgate, sofreu vazamento de dados. A informação é da Folha de S. Paulo.

A empresa diz que não abriu negociação com os hackers que comandaram o ataque de ransomware e sequestraram os sistemas, ameaçando a Embraer de vazamento de dados. A companhia disse em nota publicada nesta quarta-feira:

"A companhia esclarece que recebeu pedido de negociação de potenciais pagamentos no contexto do ataque cibernético e que não iniciou qualquer processo de negociação, bem como não realizou quaisquer pagamentos a terceiros supostamente envolvidos em tal incidente"

As autoridades foram prontamente avisadas do ataque e a própria Embraer diz ter apurado "que certas informações foram divulgadas".

A empresa aérea ainda afirma que as operações foram restabelecidas nos sistemas de tecnologia de informação, que saíram do ar desde o ataque, e que ainda trabalha junto aos afetados pelo ataque.

Segundo a Embraer, depois da negativa da empresa de negociar com os hackers, uma parte dos arquivos invadidos foi divulgada na Deep Web, contendo dados pessoais de funcionários, correspondências sobre a venda de aviões militares do modelo A-29 Super Tucano e até informações dos participantes de um evento de confraternização de funcionários.

Segundo a Folha, foram publicadas quatro pastas com 200 documentos, entre elas os mais sensíveis seriam tabelas de excel com dados de funcionários. Além disso, há 22 PDFs detalhando o Programa Nigéria, um acordo comercial entre Embraer e o país africano pela compra de caças militares. A empresa completa em nota:

"[A Embraer] segue investigando as circunstâncias do ataque e a quantidade de informações exfiltradas ou divulgadas, avaliando a existência de impactos sobre seus negócios e terceiros, bem como determinando e tomando as medidas cabíveis"

A Lei Geral de Proteção de Dados prevê multas de até R$ 50 milhões a empresas que não protegerem os dados de funcionários e clientes, mas as sanções só podem ser aplicadas a partir de agosto de 2021.

A Embraer foi criada em 1969 em plena ditadura militar e foi uma empresa estatal até 1994, quando foi privatizada no governo Itamar Franco por R$ 154 milhões, tornando-se a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo.

Em 2019, a empresa fechou um acordo com a gigante americana Boeing para vender sua unidade de jatos comerciais por R$ 4,2 bilhões. O acordo, porém, foi cancelado meses depois com troca de acusações entre o governo brasileiro e a empresa norte-americana.

Apesar da privatização, o governo brasileiro ainda tem peso nas decisões estratégicas da empresa através da chamada "golden share", que definiu que as parcerias da Embraer com empresas estrangeiras precisam de aval estatal.

Um projeto de lei do senador Jaques Wagner (PT-BA) apresentado neste ano prevê a participação do BNDES em um possível processo de reestatização da empresa, mas ainda não foi discutido pelo legislativo.

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