O Drex, a CBDC do Banco Central do Brasil, deve transformar o sistema financeiro nacional e habilitar novos produtos no país, defendeu ao Cointelegraph Filipe Pena, diretor executivo da Acrefi.
Para Pena, com o Drex bancos podem usar ativos digitais como Bitcoin e tokens RWA para liberar empréstimos para os clientes. A lógica, defende ele, é a mesma do sistema financeiro atual que usam bens como imóveis ou veículos para concessão de empréstimos.
No caso destes bens, o registro no cartório (ou no documento do carro) garante a alienação do bem para o banco que realiza o empréstimo. Assim, como Drex vai habilitar um sistema de contratos inteligentes dentro do SFN, o mesmo pode ocorrer com os ativos digitais, que passam a ser alienados, via contrato inteligente, e liberados após a quitação do contrato.
Com a tokenização e até mesmo com a moeda digital, você consegue ter novos produtos financeiros que hoje sequer existem. Entre outras coisas, o DREX será uma nova forma de financiamento. Vai ter produtos que estavam somente no ambiente físico/real, no ambiente virtual, trazendo toda uma cadeia de custódia em cima daquele ambiente”, disse.
Ele também defendeu que o Drex vai trazer mais segurança para o sistema financeiro do Brasil e citou como exemplo o que ocorre atualmente com o financiamento de veículos.
“Quando você vai comprar um carro, você tinha aquela dúvida: "Eu transfiro primeiro o documento, ou eu faço primeiro a transferência bancária? Eu faço Pix, ou assino no cartório?" Com o Drex, não. Com o Drex, você já tem o smart contract, você já tem a liquidação imediata das operações de uma forma muito mais segura e muito mais transacional. Bateu no cartório, assinou, dinheiro na conta, ou vice-versa. Então, você traz muito mais segurança”, disse.
Bens tokenizados
Pena também defendeu que o Drex vai permitir que o mesmo bem seja tokenizado em múltiplas partes, justamente para que partes desse bem sejam dadas como garantia, como uma casa, que pode ser tokenizada em multiplos tokens e parte deles sendo usada como garantia para uma quantia de empréstimo e não o bem total como ocorre hoje.
“Quando você tem múltiplas partes do bem, você pode usar uma parte do bem dada em garantia para depois você conseguir pegar um outro contrato dando uma outra parte do bem como garantia. Então, eu vejo que existe, sim, um potencial pra gente criar cada vez mais espaço e criar cada vez mais produtos financeiros”, defendeu.
No entanto, assim como defende o Banco Central, o Drex é parte de uma agenda ampla de inovação financeira que inclui o Pix e o Open Finance, que segundo Pena já adugou a democratizar o mercado de crédito para o consumidor.
“Com o Open Finance eu consigo entender o perfil de comportamento do cliente, eu consigo gerar uma melhor condição de crédito para ele, seja uma taxa mais atrativa, um parcelamento mais atrativo, uma parcela que seja ali mais adequada, ou até mesmo um montante que aquele cliente não esteja almejando naquele momento, mas que dependendo da operação você vai conseguir aglutinar outras dívidas ou outros débitos para quitar uma outra operação. Então, eu vejo que, do ponto de vista do consumo, pro consumidor em si, você gera muito mais acesso com Open Finance, a partir do momento que você consegue ter muito mais capilaridade”, disse.
De acordo com o Banco Central, mais de 55 milhões de pessoas no Brasil já participam do Open Finance e compartilharam dados no sistema. Isso repressenta quase um terço da população brasileira.
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“São muitas pessoas que não eram enxergadas, que não eram vistas e que agora têm acesso a créditos e a melhores condições”, defende.
Sistema Financeiro 2.0
Essa união entre Drex, Open Finance e Pix é a tríade de sucesso do Brasil e vai criar o sistema financeiro 2.0.
“Essa união é nossa tríade de sucesso e nosso sistema financeiro 2.0, mas quando a gente junta siso com Web3 e todas suas possibilidades, eu acho que a gente junta quase um 5.0 aqui do sistema financeiro nacional, e o Brasil saindo na frente com tudo isso, com todo esse ecossistema, trazendo mais garantia e sendo protagonista no resto do mundo, assim como já com o Pix”, afirmou.
Entretanto, para isso se concretizar, ele apontou que há ainda muito a ser feito, pois as instituições financeiras estão começando a entender o que são contratos inteligentes e o ambiente dos criptoativos, além da necessidade de uma regulamentação para o mercado.
“Existe uma necessidade, inclusive, de uma regulação específica sobre o tema, que é o que vai sair agora com as VASPS, com o edital de consulta pública 109, 110, 111, e o Drex com as próximas etapas de teste e tudo mais”, finalizou.