Nos últimos meses, uma nova expressão vem ganhando força no universo das finanças digitais: DeFi 3.0.
Mas, mais do que uma evolução técnica, esse conceito marca uma mudança de mentalidade e sinaliza o amadurecimento das finanças descentralizadas. Em especial num país como o Brasil, onde a infraestrutura regulatória e tecnológica começa a se encontrar com a inovação real.
Da promessa à maturidade: o que muda com o DeFi 3.0
A primeira onda do DeFi foi marcada por experimentações.
Protocolos de empréstimos, exchanges descentralizadas e sistemas de staking mostraram que era possível replicar (e até melhorar) serviços financeiros tradicionais sem depender de intermediários.
Depois veio o DeFi 2.0, tentando resolver os problemas de liquidez e de governança que haviam surgido, mas ainda preso a um universo muito autocentrado, distante da economia real.
Agora, o DeFi 3.0 propõe uma ponte mais sólida entre o digital e o mundo concreto.
E essa ponte é construída com ativos reais tokenizados, contratos inteligentes mais seguros, interoperabilidade entre blockchains e, cada vez mais, ferramentas de inteligência artificial que aumentam a eficiência de ponta a ponta.
O que muda na prática é o grau de sofisticação e de aplicabilidade desses protocolos. Eles deixam de ser apenas ambientes especulativos para se tornarem, de fato, instrumentos de crédito, financiamento, pagamento e investimento mais acessíveis.
Com a tokenização de recebíveis, imóveis, operações de crédito agrícola ou mesmo de participações em fundos, o DeFi começa a dialogar com empresas reais, setores produtivos e investidores que até então estavam fora do universo cripto.
E essa transformação se torna ainda mais potente quando somada ao avanço da infraestrutura regulatória brasileira.
Um terreno fértil para a inovação no Brasil
O Brasil, inclusive, está se tornando um dos países mais interessantes para acompanhar essa nova fase do DeFi.
A regulamentação da tokenização avança de forma pragmática, o Banco Central segue com testes do Drex que priorizam programabilidade e interoperabilidade, e o ecossistema de Open Finance abre espaço para que dados e identidades fluam de forma segura entre diferentes plataformas.
Com esse cenário, surgem possibilidades reais de integrar operações DeFi a instrumentos já regulados, criando estruturas híbridas que combinam o melhor dos dois mundos: a transparência, eficiência e automatização dos contratos inteligentes com a segurança jurídica e a confiança dos modelos tradicionais.
Já existem pilotos e projetos em andamento no país que apontam para essa convergência.
São operações estruturadas que utilizam stablecoins e ativos tokenizados, plataformas que conectam protocolos descentralizados a sistemas bancários tradicionais e iniciativas que integram identidade digital, análise de crédito e compliance em tempo real.
Tudo isso com o suporte de uma comunidade técnica cada vez mais madura e de reguladores mais atentos.
Os desafios para essa nova fase se consolidar
É claro que esse movimento traz desafios. O primeiro é de educação.
Ainda existe um ruído grande em torno do que é o DeFi e para quem ele serve. Muitos investidores associam o termo a riscos excessivos ou a mecanismos que não dominam. É preciso mostrar que os protocolos estão mais maduros e que os casos de uso vão muito além de plataformas de yield instável.
Também existe um desafio de conformidade. Para que o DeFi 3.0 cresça com base sólida, será essencial que ele se alinhe às regras locais, não apenas para evitar conflitos, mas para conquistar credibilidade junto a investidores institucionais e originadores mais tradicionais.
E, por fim, há a questão da usabilidade. Por mais eficientes que sejam, esses protocolos ainda precisam ser simplificados para escalar.
Mas, mesmo com esses pontos de atenção, o que se vê hoje é uma base pronta para que o DeFi 3.0 se desenvolva com força no Brasil.
A descentralização, aqui, não é uma bandeira ideológica, mas uma forma prática de resolver problemas estruturais de acesso a crédito, democratização de investimentos e eficiência operacional.
O Brasil pode (e deve) liderar essa nova fronteira
A grande virtude dessa nova fase é justamente trazer propósito para a tecnologia: descentralizar para conectar melhor, automatizar para simplificar e tokenizar para incluir.
Se o DeFi 1.0 foi sobre provar que a descentralização é possível, e o 2.0 tentou organizar esse ecossistema, o 3.0 é sobre relevância.
É sobre estar onde o dinheiro real circula, onde os ativos têm lastro e onde as decisões precisam de agilidade, mas também de segurança.
E o Brasil, com todo seu histórico de inovação em meios de pagamento e estruturação financeira, tem tudo para se tornar um polo global nesse novo ciclo.
Estamos apenas no começo. Mas o caminho está sendo construído com consistência e com uma clareza que talvez ainda falte em outros mercados mais maduros, mas menos abertos à experimentação regulada. A nova fronteira das finanças descentralizadas está se formando e ela fala português.
Se quiser seguir essa conversa comigo, é só me encontrar no LinkedIn @DanielCoquieri. Tenho falado bastante por lá sobre o impacto da tokenização e das finanças descentralizadas na transformação do mercado financeiro. Nos vemos por lá!