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China lança primeiro fundo tokenizado em yuan para desafiar stablecoins e hegemonia do dólar

China Asset Management lança primeiro fundo tokenizado em yuan com rendimento nativo, alinhado ao movimento estratégico de desdolarização do governo chinês.

China lança primeiro fundo tokenizado em yuan para desafiar stablecoins e hegemonia do dólar
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A China Asset Management (ChinaAMC) surpreendeu o mercado financeiro global ao lançar o primeiro fundo tokenizado denominado em yuan. Emitido e negociado por meio da tecnologia blockchain, o produto não representa apenas uma inovação tecnológica, mas um movimento estratégico para impulsionar a internacionalização do yuan e desafiar a hegemonia do dólar.

Lançado em julho em Hong Kong, o fundo é estruturado como um fundo de mercado monetário tradicional. Seus recursos são alocados em ativos de alta liquidez e baixo risco, como títulos governamentais e compromissos de recompra, com o objetivo de gerar rendimentos estáveis para os detentores das cotas.

A estrutura de governança e operação do primeiro fundo monetário atrelado ao yuan envolve instituições financeiras licenciadas pelo o órgão regulador de Hong Kong. A gestão do fundo é de responsabilidade da ChinaAMC, enquanto a custódia dos ativos e o processo de tokenização são de responsabilidade do Standard Chartered, por meio de sua subsidiária especializada em ativos digitais, a Libeara. A distribuição e a comercialização do fundo cabem a corretores qualificados, como a Citic Securities Brokerage Hong Kong.

Analistas internacionais avaliam que o lançamento do fundo tokenizado em yuan é parte de uma estratégia mais ampla do governo chinês de promover a adoção do yuan em nível internacional e o uso de Hong Kong como um ambiente de testes para sua integração com as finanças digitais globais.

Yuan digital e a agenda da desdolarização das finanças globais

A iniciativa alinha-se ao objetivo de longo prazo do governo chinês de aumentar a relevância do yuan no comércio e nas finanças globais para desafiar a hegemonia do dólar. Enquanto o yuan digital (e-CNY) avança dentro da China, produtos como o fundo tokenizado da ChinaAMC oferecem uma alternativa prática para investidores internacionais alocarem capital na moeda chinesa sem a necessidade de recorrer ao sistema financeiro tradicional.

Sob o princípio de "Um País, Dois Sistemas", Hong Kong possui um sistema jurídico e financeiro distinto do da China continental, onde o mercado de criptomoedas enfrenta restrições impostas pelo governo.

Nos últimos anos, Hong Kong tem se posicionado ativamente como um hub global para ativos digitais e Web3, implementando um regime regulatório claro para provedores de serviços de ativos virtuais (VASPs) e abertura para inovações como stablecoins.

Com isso, Hong Kong se transformou em uma espécie de "sandbox" regulatório para a China continental, permitindo que instituições financeiras testem inovações como stablecoins e tokenização de forma integrada ao mercado global de criptoativos em um ambiente controlado e juridicamente seguro para as empresas do setor.

O principal objetivo do fundo é ocupar um nicho que as stablecoins líderes do mercado de criptomoedas Tether (USDT) e USD Coin (USDC) não atendem: a combinação de um ativo estável que gera rendimento aos seus detentores dentro de um ambiente regulado.

A Lei GENIUS aprovada recentemente nos Estados Unidos proíbe a emissão de stablecoins com rendimento. Assim, os casos de uso do USDT e do USDC se limitam a meios de pagamento ou reserva de valor. Para gerar rendimentos sobre esses ativos, os investidores precisam recorrer a protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) ou plataformas centralizadas, assumindo riscos de contraparte e de contratos inteligentes.

O produto da ChinaAMC foi desenhado para preencher essa lacuna. Por ser um fundo de mercado monetário, ele gera retornos financeiros de forma nativa, ao mesmo tempo em que busca manter a paridade com o yuan.

Além disso, enquanto as principais stablecoins atreladas ao dólar enfrentam escrutínio constante sobre suas reservas e sofrem restrições regulatórias, o fundo em yuan opera sob as leis de ativos digitais de Hong Kong.

O lançamento do fundo atrelado ao yuan reflete uma tendência mais ampla de alocação de capital nos mercados de ativos digitais asiáticos, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.

“Enquanto o Japão está construindo consistência a longo prazo, Hong Kong está mostrando como a agilidade pode dar vida à experimentação," destacou Maarten Henskens, chefe de crescimento de protocolo no Startale Group, em entrevista ao Cointelegraph.