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Receita Federal aperta cerco e inclui criptoativos em intercâmbio internacional de dados financeiros

Instrução Normativa nº 2.298/2025 adapta a legislação brasileira aos novos padrões da OCDE e amplia o monitoramento sobre ativos digitais a partir de 2026.

Receita Federal aperta cerco e inclui criptoativos em intercâmbio internacional de dados financeiros
Brasil

Resumo da notícia:

  • A Receita Federal publicou a IN nº 2.298/2025 para incluir obrigatoriamente os criptoativos no intercâmbio internacional de informações financeiras.

  • A nova regra exige que exchanges e custodiantes identifiquem controladores de contas e reportem montantes brutos de transações a partir de 1º de janeiro de 2026.

  • A medida alinha o Brasil ao padrão global da OCDE, reforçando o cerco à evasão fiscal em conjunto com o novo sistema de declaração Decripto.

A Receita Federal do Brasil atualizou as regras de identificação e reporte de contas financeiras para se alinhar aos padrões internacionais de transparência com a publicação da Instrução Normativa (IN) nº 2.298/2025.

A medida adequa a legislação nacional à versão mais recente do Padrão de Declaração Comum (Common Reporting Standard - CRS), aprovado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A IN, publicada no Diário Oficial da União em 26 de dezembro, estabelece novas diretrizes para o intercâmbio automático de informações sobre criptoativos e ativos digitais em nível internacional.

O texto altera a IN RFB nº 1.680/2016, que dispõe sobre o cumprimento do padrão internacional de transparência fiscal. A principal mudança é a inclusão explícita de "criptoativos declaráveis" na definição de ativos financeiros e nas obrigações de reporte das instituições financeiras, integrando o ecossistema de ativos digitais ao fluxo de informações sobre contas bancárias e investimentos tradicionais.

A IN define "Criptoativo Declarável" como qualquer representação digital de valor que utilize criptografia e tecnologia de registro distribuído (DLT). De acordo com as novas diretrizes da Receita Federal, as empresas que fazem a gestão de criptoativos em nome de terceiros passam a ser obrigadas a reportar as transações efetuadas pelos titulares das contas.

Nova IN e Decripto fecham o cerco à evasão fiscal

A IN aumenta o escopo de monitoramento da Receita Federal sobre o mercado brasileiro de criptoativos. As novas diretrizes exigem, por exemplo, o detalhamento de juros pagos ou creditados aos investidores e o produto bruto de vendas ou resgates de ativos financeiros. 

Se os dados já tiverem sido reportados de acordo com as normas da IN RFB nº 2.291/2025, que instituiu o Decripto – um novo padrão para declaração de operações envolvendo criptoativos no Brasil –, a obrigatoriedade de reporte pode ser dispensada em casos específicos. Por exemplo, contas com saldo médio de 90 dias inferior a US$ 10.000,00 podem ser dispensadas de certos reportes.

A eventual redundância entre a IN 2.298 e a Decripto reforça o cerco do governo brasileiro à evasão fiscal e aumenta o volume de dados compartilhados entre autoridades fiscais nacionais e internacionais.

A norma redefine o conceito de "Instituição de Depósito", obrigando a que as Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (SPSAVs) apliquem procedimentos de prevenção à lavagem de dinheiro e identificação de clientes capazes de identificar os controladores das contas similares aos de instituições financeiras tradicionais.

A IN estabelece prazos distintos para a classificação das contas financeiras. Contas ativas até 31 de dezembro de 2025 serão classificadas como “Pré-existentes”. Já as contas abertas a partir de 1º de janeiro de 2026 serão consideradas “Contas Novas” e estarão sujeitas a procedimentos de diligência mais rigorosos desde a sua origem. 

A norma entra em vigor imediatamente, mas seus efeitos práticos de reporte e diligência passam a valer a partir de 1º de janeiro de 2026. Na prática, significa que o anonimato em exchanges centralizadas deixará de existir a partir dessa data.

A atualização alinha o Brasil ao Crypto-Asset Reporting Framework” (CARF), padronizando o reporte e o compartilhamento de informações financeiras de acordo com os compromissos assumidos pelo governo em acordos multilaterais.

Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a Decripto estabelece que, a partir de 2026, todas as operações envolvendo criptomoedas, incluindo conversões de cripto para moedas fiduciárias, cripto para cripto, pagamentos, transferências e envios para carteiras autocustodiais deverão ser reportadas obrigatoriamente à Receita Federal.