A plataforma brasileira de negociação de criptomoedas e carteira autocustodial PicNic anunciou duas atualizações significativas para ampliar sua oferta de produtos DeFi (finanças descentralizadas) após um crescimento de 590% no volume negociado em 2024.
Na semana passada, o PicNic divulgou a integração de saques em Bitcoin (BTC) nativo com as melhores taxas do mercado brasileiro. A funcionalidade foi incorporada por meio da adoção do Swaps.io, um protocolo que utiliza a tecnologia de intents para viabilizar transações entre blockchains compatíveis com a Ethereum Virtual Machine (EVM) e a rede do Bitcoin.
“Intents são basicamente uma forma de realizar uma ação on-chain, sem especificar os passos exatos para execução", explica João Ferreira, cofundador do PicNic, em entrevista ao Cointelegraph Brasil.
“Imagine que você tem 1.000 USDC e quer comprar ETH. Com os intents, você basicamente abre um leilão e várias entidades (solvers) competem por esse lance. Ganha aquele que oferecer o melhor preço. Uma vez que o ETH é entregue na carteira de destino, o solver manda a prova de recibo para quem organizou o leilão e recebe os fundos do usuário.”
O Swaps.io inova ao viabilizar a comunicação entre redes EVM e a rede do Bitcoin via zk-Light Clients, que são contratos inteligentes leves que podem verificar o estado de outra blockchain sem a necessidade de processar seu histórico completo.
A tecnologia permite a verificação confiável de transações de Bitcoin, sem a utilização de pontes ou intermediários, garantindo que o processamento dos saques seja seguro, rápido e descentralizado.
Os intents têm como benefício adicional o baixo custo das transações, que permitem ao PicNic oferecer as melhores taxas do mercado brasileiro para saque de Bitcoin.
Como os solvers podem executar as trocas em apenas uma transação, o tempo de espera é reduzido e os custos adicionais de operações cross-chain são eliminados. Ao utilizar contratos inteligentes e provas criptográficas para validar as transações, os riscos de falhas de execução são significativamente reduzidos.
“É muito mais fácil construir esses produtos via DeFi do que por meio de uma corretora centralizada", afirma Ferreira. “Para construir algo parecido com o Picnic de forma centralizada, seria necessária uma infraestrutura bem maior, incluindo market makers para cada uma das moedas negociadas, o que resultaria em custos adicionais para o usuário final.
O PicNic não cobra nenhum valor adicional além das taxas de gás, mantendo o preço médio dos saques de Bitcoin entre US$ 1 e US$ 2 nas últimas semanas. No entanto, o valor pode variar, de acordo com a atividade da rede.
"Renda Fácil” oferece novas opções de investimento passivo
Em fevereiro, o PicNic reformulou seu produto de renda passiva para oferecer novas opções e maior liquidez aos usuários em busca de rendimentos fixos com criptomoedas.
Agora intitulado “Renda Fácil”, o serviço de renda passiva teve a sua infraestrutura reconstruída pela equipe da Pods Finance para permitir a inclusão de novos produtos regularmente, afirmou João:
“A principal diferença é a arquitetura. Antes, os produtos de renda fixa ficavam em uma carteira dedicada. Agora, fica tudo na mesma carteira e os usuários podem acompanhar seus investimentos por meio de ferramentas como o Debank.”
Com o objetivo de alcançar um público além da comunidade de criptomoedas, o PicNic pretende ampliar a gama de produtos para investidores com um perfil de risco super baixo, revelou João:
“Estamos nos preparando para lançar em breve o SDAI, uma versão da stablecoin DAI que gera rendimentos automaticamente, staking de ETH, e outras coisas do tipo. Vai ficar super fácil ir do Pix para investimentos que rendem até 10% ao ano em USD.”
Os usuários criptonativos também serão contemplados no processo de expansão, com a integração dos principais protocolos DeFi à plataforma.
“O nosso papel é facilitar o acesso dos nossos usuários ao ecossistema de DeFi", afirmou João, citando Aave (AAVE), Maker (MKR) e Morpho como exemplos. “Vamos seguir a demanda do mercado para decidir o que priorizar e integrar em sequência.”
Volume negociado no PicNic cresceu 590% em 2024
A partir da adoção do padrão ERC-4337 de abstração de contas em janeiro de 2024, o volume negociado no PicNic cresceu 590% entre fevereiro e dezembro, consolidando a plataforma como a líder do setor de exchanges descentralizadas (DEX) da categoria.
Volume negociado no PicNic. Fonte: Dune Analytics
Em dezembro, o PicNic movimentou US$ 29,8 milhões contra US$ 21,7 milhões da Coinbase Wallet, a segunda colocada. Em paralelo, a participação de mercado do PicNic atingiu a marca de 40,1%, com mais de 100 mil transações diárias e a interação de 8.467 carteiras únicas. Os dados são da Dune Analytics.
Participação de mercado das principais carteiras autocustodias que utilizam o padrão ERC-4337 de abstração de contas. Fonte: Dune Analytics
“Ficou claro que somos líderes globais em nossa categoria, mas coisas simples, como o uso de stablecoins para conversão on e off-ramp de moedas fiduciárias para criptomoedas, ainda não são consenso no mercado", escreveu João em um balanço sobre o crescimento do PicNic em 2024.
João projeta um potencial crescimento de “10 a 100 vezes” em 2025. “Temos uma janela de oportunidade e devemos acelerar para maximizar nosso potencial, pois temos fundamentos sólidos (retenção de produto muito forte), as parcerias certas e uma equipe incrível.”
O próximo passo rumo a esse objetivo será o lançamento de um cartão internacional em parceria com a Gnosis Pay, com uma infraestrutura baseada em DeFi, revela João:
“Vai ser o melhor cartão internacional do Brasil, com taxas super baixas e cashback agressivo.”
O lançamento é parte da estratégia do PicNic para expandir o alcance de sua plataforma em 2025 “furando a bolha cripto.”
O crescimento do PicNic no mercado brasileiro é parte de um movimento global mais amplo de migração dos investidores de exchanges centralizadas para protocolos DeFi, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.
Em janeiro de 2025, a participação de mercado das exchanges descentralizadas atingiu o topo de 20,2%, de acordo com dados do The Block e do DeFi Llama.
Participação de mercado de exchanges descentralizadas. Fonte: The Block/DeFi Llama