*Atualizada em 28 de novembro, às 12h, para corrigir informações sobre a interrupção dos serviços da World no Brasil em 2023
O Brasil é peça-chave nos planos de expansão global da World, o projeto de identidade digital e prova de humanidade coordenado pela Tools for Humanity, startup que tem Sam Altman, CEO da OpenAI, como um de seus fundadores.
Após um hiato de quase um ano, a World voltou a operar no Brasil em 13 de novembro, com a abertura de 10 pontos de coleta de dados biométricos de usuários dispostos a ter suas íris escaneadas em troca de 53 unidades de WLD – aproximadamente US$ 125 na cotação de mercado atual do token nativo do projeto, de acordo com dados da CoinGecko.
Damien Kieran, Chief Privacy Officer da Tools for Humanity (TFH), afirmou que, considerando o tamanho e a relevância do Brasil no cenário global, o país é indispensável para as pretensões da World de “verificar o maior número possível de pessoas no mundo e proporcionar a elas acesso à economia global.”
“O projeto visa atender às necessidades de uma ampla gama de pessoas e as localizações operacionais podem mudar ao longo do tempo para atender melhor à demanda dos usuários", afirmou Kieran em entrevista à Forbes Brasil.
São Paulo foi escolhida como base para a reativação do projeto no Brasil por ser a maior cidade do país e também devido à diversidade de sua população. No futuro, a World pode expandir os pontos de verificação de humanidade para outras cidades e regiões do país, segundo o executivo, embora oficialmente não haja planos nesse sentido.
O escaneamento de íris no qual se baseia o sistema de identidade digital da World utiliza um dispositivo eletrônico criado especialmente para tal fim – os Orbs. Atualmente, há mais de 900 Orbs operacionais em diversas regiões do mundo.
Kieran explicou que a coleta de dados biométricos é feita por operadores independentes sem vínculos com a World Foundation ou a TFH. “Espera-se que eles sigam um código de conduta rigoroso e respeitem as leis locais das jurisdições em que atuam”, acrescentou o executivo.
Lançamento da World foi cercado de controvérsias
Originalmente lançado como Worldcoin em julho de 2023, o projeto tem a ambição de criar uma identidade digital e uma rede financeira para distribuição de renda básica universal (UBI) – uma espécie de “bolsa família” para cidadãos diretamente afetados pela automação do mercado de trabalho.
O fato de Sam Altman ser um dos idealizadores da iniciativa chamou atenção para a World. Se por um lado, a empresa atingiu a marca de 16 milhões de usuários em pouco mais de um ano, ela também enfrentou críticas e a desconfiança de ativistas de direitos humanos e digitais.
Alguns países chegaram a proibir as operações da World em suas fronteiras ou abriram investigações sobre as práticas da empresa.
Kieran reconhece que os maiores desafios enfrentados até agora pela World foram “os mal-entendidos em torno do protocolo e de como ele funciona, algo que pode gerar alguma confusão e hesitação.”
O executivo esclareceu que o sistema de coleta e gerenciamento de dados da World utiliza tecnologias que possibilitam “anonimizar e proteger de forma segura os códigos de íris dos titulares do World ID verificados pelos Orbs.”
Na prática, os Orbs capturam imagens de alta resolução da íris dos usuários. Recursos criptográficos como prova de conhecimento zero (ZK-Proof) e Computação Multipartidária Anônima (AMPC) permitem que os cidadãos provem que são humanos sem a necessidade de vincular as imagens capturadas a dados pessoais ou de identidade, explica Kieran:
“Uma vez tirada a fotografia, o Orb converte a imagem em um código, anonimiza o código, criptografa os dados pessoais de ponta-a-ponta, envia o pacote de dados pessoais (conhecido como Pacote de Custódia Pessoal de Dados) ao celular do usuário, exclui as informações pessoais enquanto apenas o código anônimo é retido.”
Esse processo garante que os usuários tenham o controle dos seus dados pessoais, segundo o executivo. “A imagem da íris, que não é retida ou guardada, não revela informações pessoais, como nome, endereço ou RG das pessoas; ela é usada apenas para confirmar que um ser humano único e anônimo está interagindo online ou em qualquer ambiente digital", acrescenta Kieran.
Prova de humanidade
A tendência, segundo o executivo, é que a prova de humanidade se transforme em uma credencial essencial para interações em ambientes digitais à medida que os sistemas de inteligência artificial (IA) atinjam capacidades de processamento de informação e comunicação similares às de pessoas reais:
“O avanço da IA tornará a internet mais útil do que nunca, mas também trará crescentes desafios, como scambots, deepfakes e outras fraudes de identidade e desinformação. Por isso, em nosso entendimento, sistemas de prova de humanidade serão essenciais para capacitar humanos e gerar confiança nas transações digitais.”
Em última instância, o objetivo do projeto é promover a “coexistência produtiva entre humanos e IA”, afirma Kieran.
O protocolo World já conta com mais de 7 milhões de humanos verificados, enquanto o World App possui mais de 16 milhões de usuários ativos, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.
O aplicativo é a porta de entrada dos usuários no protocolo. Além de servir como uma carteira de criptoativos autocustodial para recebimento e movimentação dos tokens WLD, é por meio dele que se pode agendar o escaneamento de íris no Brasil.