A criação de uma identidade digital descentralizada a partir da utilização da tecnologia blockchain foi um dos temas em destaque na última quinta-feira (7) durante o Encontro Anual Drex 2023.
O evento, que debateu o futuro digital do sistema financeiro e apresentou o andamento do Drex, versão brasileira de moeda digital emitida por banco central (CBDC, na sigla em inglês), aconteceu em Brasília (DF), na sede do Banco Central do Brasil (BC), organizador do evento.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A identidade digital foi destacada nos pronunciamentos de abertura do evento pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, que defendeu a importância de as pessoas serem efetivamente donas de seus próprios dados. Foi o que observou o gerente de produtos do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), Fernando Marino, ao lembrar que o formato atual é composto por vários cadastros, com senhas e IPs distintos, em meio a um ambiente de vazamentos de dados recorrentes e falta de clareza em relação à forma de processamento desses dados pelas empresas.
“Esse dados ficam disponíveis nas camadas da internet e geram uma série de problemas de compliance”, observou.
Segundo ele, a blockchain pode permitir a criação de uma credencial armazenada em carteira digital, verificável e reutilizável, de forma mais completa que o CPF porque pode ser acrescentada com outros dados da pessoa, como o perfil para o investimento e níveis de serviços que podem ser acessados.
Na mesma direção, o coordenador do Drex no BC, Fábio Araújo, acrescentou que a criação de identidade digital em blockchain pode ser um divisor de águas dentro do Open Finance, que é o compartilhamento de informações dentro do ecossistema financeiro.
Comparando o sistema atual com a nova proposta, Araújo explicou que “não é só a questão de usar senha para cada aplicativo financeiro, mas de poder construir um histórico e níveis de acesso a determinadas transações no sistema financeiro.”
“Você pode ter tudo isso numa camada de identificação que oferece o acesso da informação necessária para cada uma das operações. O Banco Central, como regulador do sistema financeiro, já tem alguma expertise em regular qual é o nível de identificação, o grau de segurança da informação, os mecanismos de KYC (Conheça seu Cliente, na sigla em inglês), de prevenção à lavagem de dinheiro, que funcionam bem porque são padronizados”, emendou.
Citando uma das possibilidades da identidade digital em blockchain, o CEO e fundador da Liqi Digital Assets, Daniel Coquieri, destacou que a tecnologia possibilita, por exemplo, o bloqueio de transações sem o respectivo direito de serem processadas, como determinadas compras efetuadas através de cartões corporativos.
Em outro evento realizado esta semana, o presidente do BC declarou que a DLT não foi criada para o sigilo e aponta lentidão nos protocolos de privacidade, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.