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Walter BarrosWalter Barros

Bitcoin entre o abismo e a consolidação após ‘despencar das nuvens’

Analista destaca lateralização, mas não descarta possibilidade de o rei das criptomoedas sofrer novos banhos de sangue em possível início de mercado de baixa.

Bitcoin entre o abismo e a consolidação após ‘despencar das nuvens’
Mercado

Resumo da notícia:

  • Shutdown e tarifaço de Trump sobre a China frustram “Uptober”.

  • Fed contém frenesi e provoca desconfiança no mercado cripto.

  • Mercado de baixa ainda não é certeza.

  • Perda de US$ 100 mil pode levar BTC a suportes de US$ 93,7 mil e US$ 70,3 mil.

  • Investidores precisam estar atentos ao Fed e aos movimentos geopolíticos de Trump.

A Coinext emitiu um relatório nesta quarta-feira (5), destacando os principais catalisadores do movimento corretivo do Bitcoin (BTC), desde a máxima histórica de US$ 126,2 mil em 6 de outubro. Para a exchange brasileira, há possibilidade de consolidação como riscos de novas correções por um início de mercado de baixa, ainda incerto.

De acordo com o relatório da equipe de pesquisa da Coinext, assinado pelo analista-chefe, Taiamã Demaman, a máxiam histórica do Bitcoin em outubro foi catapultada por expectativas por cortes de juros nos Estados Unidos e melhoria macroeconômica. A injeção de liquidez pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, com a sinalização de uma política econômica mais favorável a ativos de risco, alimentou os investidores, que projetavam mais um “Uptober” – em referência às valorizações históricas dentro desse mês em outros anos, segundo a Coinext.

Por outro lado, a exchange destacou que a realidade foi diferente, já que o shutdown, paralisação de serviços do governo estadunidense, foi sucedido por uma investida comercial do presidente Donald Trump contra a China, através de um anúncio de tarifação de 100% ao país asiático feito em 10 de outubro, o que provocou um crash em diversos mercados e marcou o primeiro outubro negativo em sete anos. Apesar disso, o BTC e o Ethereum (ETH) mantiveram suportes de preço fundamentais, que indicavam força para novas máximas, de acordo com a análise.

A Coinext acrescentou que, apesar da previsibilidade do prolongamento do shutdown (agora o mais longo da história) e da oficialização de uma trégua comercial entre EUA e China, anunciada nessa quarta-feira, o prolongamento da instabilidade da política interna nos EUA e a falta de divulgação dos dados econômicos se tornaram fator decisivo para a aversão ao risco (e para a queda dos ativos desde a última semana).

O relatório salientou que a postura branda do Fed foi contida e, em discurso na semana passada, o presidente Jerome Powell sinalizou que os cortes deverão levar mais tempo, já que as pressões inflacionárias pelas tarifas de importação cresceram e que os dados não estão totalmente disponíveis. Ainda assim, a perspectiva de um ambiente mais líquido em 2026 pode representar um ponto de virada para ativos de risco, mas dificilmente ainda em 2025 – a não ser que novos eventos ou os dados pendentes surpreendam positivamente.

Confira a análise da Coinext:

O Bitcoin volta a operar sob pressão, sendo negociado em torno dos US$ 100 mil, seu menor patamar desde o fim de junho. A tendência de curto prazo segue fragilizada, refletindo a perda de força compradora pelo aumento da cautela (e medo) entre investidores. O cenário reacende dúvidas sobre uma possível virada de ciclo, mas, apesar do clima de tensão, ainda não há sinais claros de que o mercado tenha entrado em um novo bear market (mercado de baixa). Pelo contrário.

Vale destacar que movimentos semelhantes ocorreram outras vezes ao longo deste ano. O Índice de Medo e Ganância, por exemplo, voltou a níveis vistos pela última vez em abril, quando o BTC caiu abaixo de US$ 75 mil durante a crise tarifária. Já em junho, o ativo foi negociado brevemente abaixo de US$ 100 mil em meio às tensões geopolíticas envolvendo Irã e Estados Unidos. Nos dois casos, o recuo foi seguido por recuperações que levaram o Bitcoin a renovar recordes nos meses seguintes. Porém, há uma incerteza nos próprios indicadores técnicos analisados: eles se assemelham tanto à consolidação de fundo de preço em abril (que marcou a recuperação de maio), quanto ao cenário que marcou o início do último bear market em dezembro de 2021. Sendo assim, o que definirá a trajetória no curto prazo? A resposta está nos suportes de preço.

Apesar do momento de fragilidade, o Bitcoin segue acima da faixa dos US$ 100 mil, mantendo um suporte psicológico importante, já sustentado por 180 dias. O suporte técnico entre US$ 101 mil e US$ 103 mil é o nível-chave no curto prazo, garantindo no mínimo uma lateralização para o restante do ano. Caso seja rompido para baixo, o risco é aumentado e você deve acompanhar os alvos em US$ 97,4 mil e US$ 93,7 mil.

Uma perda mais acentuada abriria espaço para quedas até US$ 78,7 mil e, finalmente, US$ 70,3 mil, que indicaria o fim do atual ciclo de alta. Do contrário, ainda haverá espaço para altas, mesmo que apenas em 2026.

O mercado ainda monitora uma possível reversão técnica do Bitcoin, que começaria a ganhar força com fechamentos semanais consistentes acima dos US$ 103 mil e seria confirmada com o rompimento da resistência em US$ 108 mil.

O que acompanhar além desses níveis?

Apesar da pressão recente, o momento ainda não indica um esgotamento estrutural do ciclo. Há, no horizonte, fatores com potencial de sustentação. Além dos níveis de preço que apontamos acima, é importante observar em que grau as flexibilizações monetárias e regulatórias esperadas nos EUA se concretizarão. Para isso, é fundamental acompanhar:

  • O fim do “shutdown” e a divulgação dos dados represados;

  • As próximas sinalizações do Fed e discursos dos seus diretores;

  • Novos movimentos geopolíticos de Donald Trump (que podem aumentar a imprevisibilidade);

  • O desempenho das empresas de tecnologia S&P500 (que ajudam a entender os ativos que têm maior correlação com o BTC).

Vale destacar também que o mercado cripto parece se aproximar do fundo da correlação negativa com o S&P, a Nasdaq e o Ouro. Conforme histórico, esse comportamento costuma ter ciclos de 60 dias. Com isso, existem dois cenários possíveis: ou os índices desses outros ativos iniciarão uma correção, ou o BTC se consolidará em torno de US$ 100 mil. Isso reforça a importância de acompanhar os suporte de preço e os indicadores do mercado tradicional.

Ethereum cede à pressão vendedora

Após três semanas testando o suporte em torno dos US$3,9 mil, o Ethereum cedeu à pressão vendedora e confirmou a tendência de baixa no gráfico semanal, abrindo espaço para um possível teste da estrutura de alta mensal.

O centro da faixa permanece entre US$ 3,3 mil e US$ 3,5 mil, servindo como suporte intermediário crucial no curto prazo.

Em um cenário mais negativo, o suporte final em torno de US$ 2,8 mil ganha destaque: sua manutenção ainda evitaria a confirmação de um novo bearmarket.

Mais análises

Apesar da queda da maioria das criptomoedas, a Santiment observou esta semana que os traders estão comprando a queda do Bitcoin de olho na ‘catapulta do S&P 500’, enquanto Wall Street amedronta e as liquidações cripto chegam a US$ 1,7 bilhão.

A manutenção de saída de capital líquido do mercado de criptomoedas coincidia com a retração de índices acionários como o S&P 500 e o Nasdaq, historicamente associados ao desempenho da criptomoeda, encerrados em respectivos 6.771,55 (-1,17%) e 23.348,64 pontos (-2,04%).

O FUD (medo, incerteza e dúvida) se intensificou após declarações de gigantes bancários de Wall Street de que o mercado acionário pode ter se transformado em uma bolha prestes a explodir, amargando retrações de até 20% nos próximos dois anos.

Esta semana, especialistas também sugeriram que a autocustódia deve limitar queda do Bitcoin, cuja dominância, por outro lado, pode atrasar recuperação das altcoins, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

Este artigo não contém conselhos ou recomendações de investimento. Todo investimento e operação comercial envolvem riscos, e os leitores devem realizar suas próprias pesquisas antes de tomar qualquer decisão.