Em uma conversa com o Cointelegraph Brasil, Leandro Davo, head da Ava Labs para a América Latina, destacou que a identidade digital será a próxima grande onda de adoção global, seguindo a ascensão da computação em nuvem e da inteligência artificial.

Durante a entrevista Davo enfatizou que, para a expansão geral da tokenização e a integração dos mercados financeiros com a tecnologia blockchain, dois elementos fundamentais ainda precisam de desenvolvimento significativo: a identidade digital e a privacidade.

"Acreditamos que a identidade digital é fundamental para o crescimento deste espaço e estamos muito próximos de torná-la tangível, com os governos começando a adotá-la," afirmou o especialista.

Um dos maiores desafios apontados é a verificação da identidade online, que se tornou ainda mais complexa com o rápido avanço da Inteligência Artificial.

"Hoje, é muito difícil provar que a pessoa online é a pessoa real, e principalmente agora com a inteligência artificial, é mais difícil provar que a pessoa em vídeo é a pessoa na realidade," observou.

Essa capacidade da IA não só complica a verificação de identidade, mas também questiona a confiabilidade das soluções de identidade existentes, muitas delas emitidas por governos. Para ele, a blockchain oferece a solução robusta e necessária.

"A única maneira de torná-los [sistemas de credenciais de identidade] suficientemente confiáveis e, digamos, resistentes a ataques informáticos e a falsificações baseadas em inteligência artificial, é construí-los em blockchain, o que confere imutabilidade, transparência e uma auditabilidade que não se tem nos sistemas tradicionais," explicou.

Identidade digital em expansão

A Avalanche está ativamente desenvolvendo soluções para identidade digital, por meio de parcerias com empresas na América Latina. Um exemplo notável, ainda a ser oficialmente anunciado, é a colaboração com a Pleryfy, uma empresa que está trabalhando com os governos de El Salvador e Panamá na emissão de certificados de identidade digital, incluindo carteiras de motorista e outras credenciais.

A solução da Pleryfy é flexível, compatível tanto com certificados emitidos por estados quanto com dados biométricos, como os utilizados no projeto WorldID. Segundo ele, a condição atual dos sistemas de gestão de identidade governamentais é uma preocupação primordial.

"Na Argentina, por exemplo, creio que já hackearam três vezes o registro de dados pessoais do Renaper, que armazena os dados pessoais dos documentos de identidade dos argentinos," revelou o especialista.

Ele acrescentou que esses sistemas "são muito inseguros, realmente obsoletos para esta finalidade e, à medida que a inteligência artificial avança, tornam-se ainda mais complexos".

Em contraste, as credenciais de identidade digital registradas em blockchain e emitidas pelo estado oferecem vantagens substanciais.

"A identidade digital com credenciais digitais registradas na blockchain emitidas pelo estado é algo muito interessante também, porque se tornam inalteráveis, praticamente impossíveis de hackear e permitem isso, identificar a identidade vinculada a uma transação em blockchain," enfatizou.

Olhando para o futuro, a visão é de um cenário onde os indivíduos gerenciarão múltiplas credenciais de identidade digital.

"O futuro será onde teremos carteiras, aplicativos em nossos telefones com os quais teremos credenciais de identidade emitidas por diferentes emissores, talvez algumas vinculadas a dados biométricos, talvez algumas emitidas por governos e outras, inclusive, por atores do setor privado, que poderemos gerenciar e acessar diversos serviços com essas diferentes credenciais," previu.

Confira a entrevista completa

Avalanche e Drex

Cointelegraph Brasil (CTBR): Quais são os planos da Avalanche para o Brasil? O que vocês estão planejando para cá?

Leandro Davo (LD): Em princípio, para te dar um pouco de contexto, eu me dedico ao desenvolvimento do ecossistema da Avalanche na América Latina em geral. E claramente, o Brasil é super, super interessante nesse sentido. Não apenas pelo tamanho do Brasil e o tamanho da sua economia, mas também pelo avanço em muitos sentidos na adoção de blockchain.

Isso o torna muito mais interessante do que apenas os números ou o tamanho. Então, definitivamente, é um país que nos interessa muito para gerar vínculos, para crescer e também para apoiar empreendedores brasileiros que constroem no ecossistema da Avalanche.

Nesse sentido, nos interessa muito o desenvolvimento do Drex. Me parece interessantíssimo o que estão desenvolvendo em torno do Drex, sobretudo as questões de empréstimos colateralizados, o mercado financeiro, os vínculos com o mercado financeiro, com Real World Assets.

Acredito que isso é muito interessante e adoraríamos participar desse desenvolvimento.Nós, da Avalanche, desenvolvemos um protocolo, na verdade, um padrão, chamado Encrypted ERC20, que usa ZK-Proofs e Homomorphic Encryption para transações privadas em blockchain.

Ao mesmo tempo, dependendo da configuração desses tokens, eles têm a possibilidade de serem compliant, de serem passíveis de auditoria, e esse tipo de coisa é muito importante para esse tipo de aplicação. Então, adoraríamos colocar essa tecnologia à disposição.

Obviamente, nos interessa que seja utilizada na Avalanche, mas ela é compatível com EVM. Com isso, pode ser utilizada no Ethereum, em qualquer blockchain compatível com EVM, e até mesmo interoperar com a própria blockchain do Banco Central.

Nos encantaria conectar com o Banco Central, disponibilizá-lo às equipes técnicas do banco e colaborar com esse desenvolvimento a partir daí. E também participar do desenvolvimento em nível de produtos e de parcerias com os bancos.

O setor bancário é de muitíssimo interesse para nós. E aqui, acredito que, da América Latina, o Brasil é um dos países mais avançados nesse sentido, com os bancos se voltando para aplicações de blockchain. Então, sim, estamos em conversas com alguns, queremos ampliar essas conversas – em parte, por isso estou aqui.

Nos interessam muito os bancos, e não só bancos, mas também empresas fintechs e exchanges, logicamente, os jogadores mais tradicionais do ecossistema de blockchain. Mas sim, as fintechs, por exemplo, que podem utilizar soluções de blockchain talvez no backend de seus produtos. Estamos em contato com várias fintechs brasileiras também nesse sentido.

Acredito que o que buscamos em termos de planos no Brasil é levar todas as nossas ferramentas, tanto em nível tecnológico quanto em nível de apoio a empreendedores e de desenvolvimento de negócios, para as companhias brasileiras, para os desenvolvedores e para as startups brasileiras.

É para integrá-las ao ecossistema, para apoiá-las em seus desenvolvimentos. Temos, por exemplo, uma incubadora no ecossistema que incubou vários projetos latino-americanos, mas nenhum brasileiro ainda. Adoraria ver algum projeto brasileiro na incubadora. E acredito que a razão é que talvez, por não termos uma presença tão forte aqui no território, muitos empreendedores nem souberam dessa possibilidade. Por isso, o vínculo com vocês, com a mídia, é super valioso para nós, para difundir essas possibilidades.

Quem sabe, alguém com algum empreendimento, uma startup, um projeto, possa aplicar e ter acesso a financiamento, a mentorias. Temos muitos programas de apoio para desenvolvedores e para empreendedores, e eu, pessoalmente, adoraria ver muitos brasileiros participando.

Por isso venho e, bem, espero vir mais vezes, esperamos ampliar a equipe aqui no Brasil também se tudo correr bem, o mais rápido possível, ter uma pessoa permanente aqui, não sei se em São Paulo ou onde, mas no Brasil, para ajudar nessa tarefa e também no vínculo com o setor público, com os bancos e demais.

Acredito que temos muito a aportar ao setor de blockchain em geral no mundo, na América Latina e no Brasil em particular. O ecossistema da Avalanche é muito interessante como infraestrutura para isso, e temos, como te disse, muitas ferramentas para apoiar empreendedores e também queremos gerar esses vínculos que sirvam a todo mundo, me parece, para crescer.

Ampliando horizontes no pais

CTBR: Como está sendo a receptividade das empresas, das fintechs, quando você fala sobre a Avalanche, sobre o ecossistema da Avalanche aqui no Brasil?

LD: Acredito que é super boa, estou muito contente. Sempre que venho ao Brasil, saio muito satisfeito. E acredito que é muito interessante porque o ecossistema de blockchain no Brasil, em particular, é muito diferente do argentino, por exemplo, e muito interessante.

Ambos são dos dois mais interessantes da América Latina, mas muito distintos entre si. E acredito que sim, no Brasil em particular, há muita afinidade com a proposta de valor do ecossistema da Avalanche, com as necessidades que os empreendedores no Brasil, as empresas, os bancos, têm. Avalanche é muito, digamos, muito útil para aplicações financeiras por uma questão técnica da arquitetura da blockchain, das características da blockchain.

É muito, muito útil para esse tipo de aplicações, e aqui esse setor é muito forte, com os bancos levando sua infraestrutura blockchain, as fintechs também. Acredito que há muita afinidade e muito para se desenvolver e para crescer. E isso, muitos, muitos parceiros com os quais já trabalhamos.

Já trabalhamos com muitas empresas que estão atuando no mercado brasileiro, mas queremos incrementá-los.

Tokenização no Brasil é uma das mais avançadas do mundo

CTBR: E como você vê o ecossistema de tokenização do Brasil que está entre os pioneiros no mundo?

LD: Na Argentina, por exemplo, há um projeto da CNV, que é o equivalente no nosso país. É o órgão que regula os mercados financeiros, sobretudo de títulos de oferta pública, títulos públicos, e estão prestes a lançar uma regulamentação sobre tokenização para consulta pública, mas levará um tempo. Vocês estão mais avançados nesse sentido, e na América Latina, acredito que não há outro país tão avançado.

E em nível global, você só tem regulamentações bastante amplas na União Europeia, com seus prós e seus contras dessa regulamentação, mas ela existe, e em alguns mercados asiáticos, e não muito mais. Realmente, o Brasil está muito avançado em nível global. E é por isso também que nos parece tão interessante, não é?

O setor financeiro, por exemplo, para Avalanche é de muito interesse, e para nós na Avalabs, é algo onde entendemos que há uma afinidade da infraestrutura para esse tipo de aplicações, e nos interessa muito desenvolver esse tipo de aplicações no ecossistema. Então, acredito que o Brasil é interessantíssimo.

Tokens RWA

CTBR: Você falou de toda essa sinergia entre o mercado blockchain e o mercado financeiro. Acredito que a tokenização, os tokens RWA (Real World Assets), podem fazer essa ponte para conectar esses dois sistemas. Como você vê este mercado?

LD:. Acredito que as stablecoins são como esse primeiro caso onde pode haver um uso massivo de soluções baseadas em stablecoins, e isso está sendo visto, por exemplo, em pagamentos transfronteiriços ou em mercados de divisas tokenizados.

Por exemplo, há uma empresa muito interessante que está sediada no México, os fundadores são mexicanos, mas trabalham em toda a América Latina, seu principal mercado se chama Nonco. E o que eles fazem são mercados de câmbio (Fx) on-chain, então são muito mais eficientes que as vias tradicionais para fazer intercâmbio de divisas. Os custos são muito mais baixos, os tempos são muito mais rápidos, é super interessante o que estão fazendo. E eles trabalham com o Real Brasileiro, que é um de seus principais ativos nesses mercados.

E assim como isso, para pagamentos transfronteiriços de empresas, estão usando muito stablecoins. E acredito que é como o primeiro, digamos, o primeiro caso em que pode haver um uso massivo tanto de usuários de varejo quanto de empresas que as utilizam.

Mas, além disso, à medida que as regulamentações o permitam, acredito que a mesma dinâmica acontecerá com ações tokenizadas, com títulos de dívida tokenizados, sejam públicos ou privados, fundos de investimento que já estão sendo vistos cada vez mais, a BlackRock tokenizando fundos de investimento.

Isso é importantíssimo na Avalanche, e tudo o que é Real World Assets, na Avalanche em particular, eu diria que tem muito mais preponderância do que em outros ecossistemas de blockchain. Se você vir, por exemplo, o TVL (Total Value Locked) dos projetos na Avalanche, há muitos que são de Real World Assets que ranqueiam muito alto. Então, isso é algo que nos interessa muito também, porque é a dinâmica natural e um pouco para o que a Avalanche foi construída: esse tipo de tokenização de ativos.

E acredito que o interessante é a combinação disso, desse tipo de ativos tokenizados com DeFi (finanças descentralizadas), com protocolos de empréstimos nos quais os ativos tokenizados podem ser usados como colateral.

Bem, o Henrique do Banco Central falou desse tipo de coisa, de usar imóveis ou automotores como colateral. E eu acredito que, independentemente de ser feito com Drex ou com stablecoins ou como for feito, acredito que vai acontecer. Talvez seja uma combinação de ambas as coisas.

E me parece que aí as coisas se tornam muito mais interessantes, porque DeFi é muito interessante por si só, mas às vezes faltam ativos que sejam tão interessantes quanto os protocolos nos quais funcionam. Então, quando se pode levar ativos, sejam ações ou imóveis tokenizados, ou bens, ativos do mundo real, para esse tipo de dinâmicas de protocolos onde se podem programar dinâmicas econômicas, me parece que será interessantíssimo. E acredito que nesse ponto é realmente para o que todos trabalhamos, não é?

Sistema financeiro 2.0

CTBR: Acredita que estamos vivendo uma transição para um sistema, digamos, um sistema financeiro 1.0 para um sistema financeiro 2.0 com a tokenização, com as carteiras digitais, com a identidade digital?

LD: Bem, sim, identidade digital é chave. Há pouco tempo, lançamos um trabalho, colaboramos em um relatório sobre tokenização com a Mastercard, e uma das conclusões do relatório, posso te passar se te interessar, era essa: a necessidade para que a tokenização em geral e os mercados financeiros cheguem à blockchain, duas coisas básicas que ainda existem, mas ainda falta desenvolvimento, são identidade digital e privacidade.

E nisso, bem, na Avalabs, estamos trabalhando ativamente para gerar soluções. Esse padrão ERC20 é um deles, para oferecer privacidade no IBM. E outro é a identidade digital. Estamos trabalhando em parceria com empresas que estão trabalhando em identidade digital na América Latina.

E acredito que isso é chave também para o crescimento do espaço, e acredito que estamos muito perto de que seja tangível, que os próprios governos comecem a adotá-la. Acredito que a identidade digital me parece fascinante.

Identitdade digital

CTBR: Esse desafio da identidade digital fica ainda maior com a inteligência artificial?

LD: Veja, nós trabalhamos com uma empresa chamada Pleryfy que está trabalhando em identidade digital. Ainda não anunciaram, peço reserva por enquanto, logo, acredito que no próximo mês, sairão os anúncios.

Estão trabalhando com o governo de El Salvador e o do Panamá para a emissão de certificados de identidade digital para distintos propósitos, em alguns casos licenças de motorista, em outros credenciais de identidade digitais.

E, bem, estão se expandindo pela América Latina também. Isso estão fazendo na Avalanche, e é chave porque a inteligência artificial... o fundador dessa empresa é realmente interessantíssimo para conversar com ele, e, bem, conversávamos que não só questiona a identidade da pessoa por trás de uma conta em blockchain, mas também questiona as soluções de identidade que temos vigentes hoje em dia emitidas por governos, porque em breve os sistemas de credenciais de identidade que temos hoje em dia não serão confiáveis.

E a única maneira de torná-los suficientemente confiáveis e, digamos, resistentes a ataques informáticos e a falsificações baseadas em inteligência artificial é fazê-los, digamos, construídos em blockchain, que lhes dá imutabilidade, transparência, uma auditabilidade que você não tem em um sistema tradicional. Então, acredito que isso é algo que vem com força.

Uma mentira registrada em blockchain continua sendo uma mentira

CTBR: Nisso, há um grande desafio, na minha opinião, que é como garantir que a informação que está sendo registrada na blockchain seja uma informação real? Não é porque o blockchain não permite que as pessoas modifiquem a informação que a informação de entrada não está errada. Se você contar uma mentira no registro imutável, continua sendo uma mentira. Porque quando falamos de tokenização, se temos um ativo real, como provar que, por exemplo, eu vou tokenizar minha casa? Sem a participação dos governos, as soluções que hoje, por pior que sejam, garantem que eu tenho a casa, que eu tenho os carros...

LD: Eu acredito que é uma ferramenta... Não é questão de... Entendo o que você está colocando, e acredito que a Crypto tem muito disso de dizer "vamos tirar o governo do meio de muitas coisas".

Há coisas em que se pode tirar o governo do meio, há coisas em que não. Por exemplo, quando se pensa em Bitcoin como ferramenta de reserva de valor ou de pagamento de transações, o que for, que não precisa do governo no meio para transmitir valor, e isso é interessantíssimo.

E o mesmo com outras criptos. Agora, quando falamos de ativos do mundo real tokenizados, necessariamente tem que haver alguma participação do governo. Porque é ele quem atesta justamente que os registros são verídicos, e isso, além de cripto ou não cripto, bem, alguém tem que dar garantias sobre isso.

Como eu vejo a blockchain para esse tipo de aplicações é uma ferramenta para conceder mais transparência a coisas que hoje não são transparentes, a sistemas que não são transparentes, sejam sistemas gerenciados pelo governo ou pelo setor privado. Se falamos, por exemplo, de mercados de valores, em geral os mercados de valores são auditados pelos governos, são geridos por empresas privadas.

Na Argentina é a Bima, no Brasil, como se chama a empresa que gerencia a bolsa de valores brasileira? B3. Isso. E, bem, nos Estados Unidos acontece o mesmo, na Europa o mesmo, não é? E se pensarmos, esse é um bom exemplo de que papel a blockchain pode cumprir ali e por que tokenizar ativos em vez de se manejar com os sistemas que já temos, é que inclusive a auditabilidade em blockchain pode ser instantânea e a transparência é muito mais alta.

Então, até para os auditores, para os reguladores auditores, com os sistemas tradicionais, eles sempre vão atrás das coisas. Quando há uma questão opaca, alguma questão fraudulenta, manejos desleais, o que for, o que acontece? Alguém que é afetado denuncia e o auditor tem que ir analisar os registros que talvez tenham dias ou semanas ou meses ou anos de antiguidade.

E é muito difícil porque são sistemas opacos que não estão pensados para serem auditados, mas muitas vezes tudo o contrário. E ao tokenizar esses ativos, a auditabilidade pode ocorrer em tempo real e até se pode programar o sistema de maneira que permita determinadas dinâmicas e outras que sejam diretamente impossíveis de executar porque é tudo programável. Então, acredito que é uma grande ferramenta.

Talvez nesses casos não seja necessário, nem acredito que seja viável, eliminar o Estado desse tipo de gestão de bens ou de papel de garantia sobre os registros, mas sim que é uma ferramenta chave não só para dar mais eficiência, mas para dar mais transparência a esse tipo de mercados.

E se pensarmos em tokenização imobiliária, por exemplo, na Avalanche, há pouco tempo, há uma semana, acredito que foi o anúncio, em New Jersey, nos Estados Unidos, levaram para blockchain os registros de propriedade de todos os imóveis de um monte de condados de New Jersey.

É a atualização mais massiva até a data de ativos imóveis em geral. E isso dá aos registros imobiliários que hoje, bem, eu sou advogado de profissão, se você vir como são manejados os registros de titularidade de imóveis no registro de propriedade imobiliária da Argentina, do Brasil, dos Estados Unidos, de onde seja, são realmente sistemas obsoletos, e tokenizar ou levá-los para blockchain, acredito que faz todo o sentido.

Porque sempre você terá nesse tipo de ativos o Estado, digamos, dando veracidade às transações e à titularidade – sua casa é sua e, bem, o registro é verídico – mas na veracidade dos registros, na auditabilidade, na rastreabilidade, na transparência e na eficiência na hora de transferir esses ativos, acredito que é uma vantagem gigante. E acredito que é algo mais interessante que pode acontecer e que vai acontecer em um futuro não muito distante, é que, tokenizando-os, também se podem dar essas dinâmicas que hoje não são possíveis, por exemplo, de acesso a crédito.

Do que falou hoje o Banco Central do Brasil de utilizar um imóvel como colateral para pedir um empréstimo, e isso pode ser feito com protocolos DeFi como os que hoje utilizamos em finanças descentralizadas, mas com ativos imóveis, e isso é interessantíssimo.

E hoje muitas das limitações para o acesso ao crédito em países como os nossos, Brasil, Argentina, em geral, na América Latina, passam pelas ineficiências do sistema e os altos custos que ele tem de gestão.

E isso se torna muito mais acessível levando para blockchain. Eu acredito que vejo dessa maneira, e sempre haverá esses outros ativos que, como Bitcoin, como o próprio AVAX, como montões de outras criptos que talvez são mais independentes do Estado ou dos governos, mas para os que sim, têm dependência do papel de fiel depositário do Estado, acredito que ainda assim a blockchain tem muito a aportar.

Como garantir que uma pessoa é ela mesma na internet

CTBR: E como podemos fazer com a identidade digital? Como garantir que o cidadão que criou aquela carteira, realmente, não tenha criado outra carteira? Que aquela seja a identidade digital dele mesmo?

LD: Acredito que há duas maneiras que não são necessariamente excludentes, que podem ser complementares. E uma delas é essa, através de dados biométricos.

A proposta do World ID tem seus prós e seus contras, como toda tecnologia, mas é muito interessante nesse sentido, porque o escaneamento da íris permite escalar para bilhões de pessoas. Identificá-las e diferenciá-las umas das outras.

E há poucas, inclusive biometricamente, poucas maneiras de gerar esse tipo de distinção entre seres humanos. Então, isso, acredito que é muito interessante no World ID.

Acredito que a maneira como foi proposta, sobretudo originalmente, e como foi a saída para o mercado, teve muitas questões muito, pelo menos, polêmicas, sem entrar em muitos detalhes, mas acredito que o conceito é válido e é interessante.

Tem uma série de dificuldades: as credenciais vinculadas a dados biométricos são imodificáveis, e isso é uma dificuldade em si mesma para qualquer sistema informático. Porque pense no seu registro, não sei, uma conta de e-mail, por exemplo, você quer ter a possibilidade de criar um novo e-mail ou de trocar a senha de um e-mail que você tem atualmente

. E se está vinculado a todos os dados biométricos, é imodificável, está vinculado ao dado biométrico e pronto, você não pode alterar, não pode escolher sair do sistema porque uma vez que você está registrado no sistema com seus dados biométricos, não há como sair. Ou seja, também tem seus percalços, mas uma dessas é a interessante como uma solução que não depende do Estado para atestar seu caráter de pessoa humana.

E então, acredito que isso vai existir no futuro, mas vai existir com um sistema no qual o Estado também ateste a identidade das pessoas, e isso pode ser feito em blockchain de maneira muito mais segura, como conversávamos antes, do que com os sistemas atuais.

Na Argentina, por exemplo, acredito que já hackearam três vezes o registro de dados pessoais do Renaper, que é o que armazena os dados pessoais dos DNI, as credenciais de identidade dos argentinos.

Hackeiam a todo momento, são sistemas muito inseguros, realmente muito obsoletos para esse tipo de finalidade, e à medida que a inteligência artificial avança, se tornam ainda mais complexos.

Então, acredito que a identidade digital com credenciais digitais registradas na blockchain, emitidas pelo Estado, acredito que é algo muito interessante também, porque se tornam inalteráveis, tornam-se praticamente impossíveis de hackear e permitem isso, identificar a identidade vinculada a uma transação em blockchain. Além de outras possibilidades que traz.

A Pleryfy, por exemplo, é uma solução que é compatível com ambos. Pode trabalhar com os certificados emitidos pelos estados ou pode trabalhar com, por exemplo, com World ID ou similares.

E acredito que isso vai existir, me parece que o futuro será onde teremos wallets, aplicativos em nossos telefones, com os quais teremos credenciais de identidade emitidas por distintos emissores, talvez algumas vinculadas a dados biométricos, talvez algumas emitidas por governos, e outras que, inclusive, por atores do setor privado, que a pessoa poderá gerenciar e acessar a distintos serviços com essas distintas credenciais.

Acredito que esse é o futuro, e, por exemplo, não se trata apenas de identificar transações em blockchain, mas também no sistema financeiro ou inclusive o login em aplicativos. Em um futuro muito próximo, também as senhas serão comprometidas pelo avanço tecnológico, e acredito que gerar identidades digitais, por exemplo, para fazer o login em seu home banking, acredito que é algo que será necessário em muito curto prazo.

Há normativa, por exemplo, na União Europeia, nos Estados Unidos, acredito que está para sair também muito em breve em países latino-americanos sobre identidade digital, e acredito que muito em breve vamos começar a ter isso disponível, e acredito que a maneira de fazê-lo é através da blockchain.