Principais pontos
O rendimento do staking de Ethereum caiu para menos de 3%, ficando atrás de muitos protocolos DeFi e de RWA.
Stablecoins com rendimento, como sUSDe e SyrupUSDC, agora oferecem retornos entre 4% e 6,5% e estão ganhando participação de mercado rapidamente.
A maioria dos produtos concorrentes de rendimento é construída sobre a Ethereum, o que significa que o aumento da adoção ainda pode fortalecer o valor da rede ao longo do tempo.
Renda fixa não é mais exclusividade da TradFi. O rendimento on‑chain se tornou um pilar central das criptomoedas, e a Ethereum, a maior blockchain de proof-of-stake, está no centro desse ecossistema. Sua economia depende de usuários que bloqueiam seus ETH (ETH) para ajudar a proteger a rede e, em troca, recebem rendimento.
No entanto, a Ethereum não é a única opção disponível. Hoje, usuários de cripto têm acesso a uma variedade crescente de produtos com rendimento, alguns dos quais competem diretamente com os retornos do staking da Ethereum, o que pode enfraquecer a blockchain. Stablecoins com rendimento oferecem maior flexibilidade e exposição às finanças tradicionais, com retornos atrelados a títulos do Tesouro dos EUA e estratégias sintéticas.
Ao mesmo tempo, os protocolos de empréstimos DeFi ampliam a variedade de ativos e perfis de risco disponíveis para os depositantes. Ambos costumam entregar rendimentos maiores do que o staking de Ethereum, levantando uma questão crítica: a Ethereum está perdendo silenciosamente a disputa por rendimento?
Rendimento do staking da Ethereum em queda
O rendimento do staking da Ethereum é o retorno obtido pelos validadores por protegerem a rede. Ele vem de duas fontes: recompensas de consenso e recompensas da camada de execução.
As recompensas de consenso são emitidas pelo protocolo e dependem do total de ETH em staking. Quanto mais ETH estiver em staking na rede, menor é a recompensa por validador — por design. A fórmula segue uma curva de raiz quadrada inversa, garantindo retornos decrescentes à medida que mais capital entra no sistema. Já as recompensas da camada de execução incluem taxas de prioridade (pagas pelos usuários para que suas transações sejam incluídas nos blocos) e MEV (valor máximo extraível), um lucro adicional obtido por meio da ordenação otimizada das transações. Essas recompensas adicionais variam com o uso da rede e a estratégia do validador.
Desde o The Merge, em setembro de 2022, o rendimento do staking da Ethereum vem caindo gradualmente. De cerca de 5,3% no pico, o rendimento total (incluindo recompensas de consenso e gorjetas) agora está abaixo de 3%, refletindo o aumento do total de ETH em staking e a maturidade da rede. De fato, mais de 35 milhões de ETH, ou 28% de sua oferta total, já estão em staking.
No entanto, o rendimento completo do staking só é acessível a validadores solo, aqueles que operam seus próprios nós e bloqueiam 32 ETH. Embora fiquem com 100% das recompensas, também assumem a responsabilidade de permanecer online, manter o hardware e evitar penalidades. A maioria dos usuários opta por alternativas mais convenientes, como protocolos de staking líquido, como o Lido, ou serviços de custódia oferecidos por exchanges. Essas plataformas simplificam o acesso, mas cobram taxas — normalmente entre 10% e 25% — o que reduz ainda mais o rendimento final recebido pelo usuário.
Embora o rendimento anual do staking da Ethereum abaixo de 3% possa parecer modesto, ainda é competitivo em relação ao seu principal concorrente, Solana, cuja APY média da rede está atualmente em torno de 2,5% (com o maior APY da rede em 7%). Em termos reais, o rendimento da Ethereum parece ainda melhor: sua inflação líquida é de apenas 0,7%, contra 4,5% da Solana, o que significa que os stakers na Ethereum enfrentam menos diluição ao longo do tempo. Mas o principal desafio da Ethereum não são outras blockchains, é o crescimento de protocolos alternativos com rendimento.
Stablecoins com rendimento ganham participação de mercado
Stablecoins com rendimento permitem que os usuários mantenham um ativo atrelado ao dólar enquanto recebem renda passiva, geralmente derivada de títulos do Tesouro dos EUA ou de estratégias sintéticas. Diferentemente das stablecoins tradicionais como USDC ou USDT, que não oferecem rendimento aos usuários, esses novos instrumentos distribuem parte dos retornos dos ativos subjacentes.
As cinco maiores stablecoins com rendimento — sUSDe, sUSDS, SyrupUSDC, USDY e OUSG — representam mais de 70% do mercado de US$ 11,4 bilhões e utilizam métodos distintos para gerar rendimento.
Emitida pela Ethena, uma empresa com apoio da BlackRock, a sUSDe depende de uma estratégia sintética neutra em relação ao delta, envolvendo derivativos de ETH e recompensas de staking. Ela entregou alguns dos maiores rendimentos do setor cripto, com taxas históricas variando entre 10% e 25% ao ano. Embora os rendimentos atuais tenham caído para cerca de 6%, a sUSDe ainda supera a maioria dos concorrentes, apesar de apresentar risco elevado devido à sua estratégia complexa e dependente do mercado.
A sUSDS, desenvolvida pela Reflexer e pela Sky (ex-MakerDAO), é lastreada por sDAI e RWAs (ativos do mundo real tokenizados). Seu rendimento é mais conservador, atualmente em 4,5%, com foco em descentralização e mitigação de riscos.
Emitida pela Maple Finance, a SyrupUSDC direciona rendimento por meio de títulos do Tesouro tokenizados e estratégias de MEV. Ofereceu retornos de dois dígitos no lançamento, mas hoje rende 6,5%, ainda acima da maioria das alternativas centralizadas.
A USDY, emitida pela Ondo Finance, tokeniza títulos do Tesouro de curto prazo e rende 4,3%, voltada para instituições com perfil regulado e de baixo risco. A OUSG, também da Ondo, é lastreada pelo ETF de títulos do Tesouro de curto prazo da BlackRock e oferece rendimento em torno de 4%, com exigência total de KYC e forte foco em conformidade regulatória.
As principais diferenças entre esses produtos estão no colateral (sintético vs. mundo real), no perfil de risco e na acessibilidade. sUSDe, SyrupUSDC e sUSDS são totalmente nativas do DeFi e sem permissões, enquanto USDY e OUSG exigem KYC e são voltadas para usuários institucionais.
As stablecoins com rendimento estão ganhando tração rapidamente, ao combinar a estabilidade do dólar com oportunidades de rendimento que antes eram exclusivas para instituições. O setor cresceu 235% no último ano e, com a demanda crescente por renda fixa on‑chain, não dá sinais de desaceleração.
O DeFi de empréstimos ainda está centrado na Ethereum
Plataformas de empréstimos descentralizados como Aave, Compound e Morpho permitem que usuários obtenham rendimento ao fornecer criptoativos para pools de empréstimos. Esses protocolos definem as taxas de forma algorítmica com base na oferta e demanda. Quando a demanda por empréstimos aumenta, as taxas de juros também sobem, tornando os rendimentos do DeFi mais dinâmicos — e muitas vezes não correlacionados com os mercados tradicionais.
O Chainlink DeFi Yield Index, que acompanha os retornos médios de empréstimos nas principais plataformas, mostra que as taxas de empréstimos de stablecoins geralmente giram em torno de 5% para USDC e 3,8% para USDT. Os rendimentos tendem a disparar durante mercados em alta ou momentos de euforia especulativa, como em fevereiro–março e novembro–dezembro de 2024, quando a demanda por empréstimos dispara.
Em comparação com os bancos, que ajustam as taxas com base na política do banco central e no risco de crédito, os empréstimos DeFi são impulsionados pelo mercado. Isso cria oportunidades para retornos mais altos, mas também expõe os credores a riscos únicos, como falhas em contratos inteligentes, erros em oráculos, manipulação de preços e crises de liquidez.
Paradoxalmente, muitos desses produtos são construídos sobre a própria Ethereum. Stablecoins com rendimento, títulos do Tesouro tokenizados e protocolos de empréstimos DeFi dependem, em grande parte, da infraestrutura da Ethereum e, em alguns casos, incorporam o ETH diretamente em suas estratégias de rendimento.
A Ethereum continua sendo a blockchain mais confiável tanto para as finanças tradicionais quanto para o ecossistema cripto-nativo, mantendo a liderança na hospedagem de protocolos DeFi e RWAs. À medida que esses setores ganham adoção, aumentam o uso da rede, impulsionam as taxas de transação e reforçam indiretamente o valor de longo prazo do ETH. Nesse sentido, a Ethereum pode não estar perdendo a disputa por rendimento, ela pode simplesmente estar vencendo de outra forma.
Este artigo não contém conselhos ou recomendações de investimento. Toda decisão de investimento e negociação envolve riscos, e os leitores devem conduzir suas próprias pesquisas.