A Lemon Cash, exchange de criptomoedas argentina que inaugurou operações no Brasil este ano, anunciou o corte de 38% de sua força de trabalho e a revisão de seus planos de expansão na América Latina diante das condições desfavoráveis do mercado, informou reportagem da Bloomberg Linea publicada na quinta-feira, 24.

As informações foram confirmadas pelo cofundador e CEO da empresa, Marcelo Cavazzoli. O executivo também revelou que a Lemon Cash teve prejuízos diretos decorrentes da falência da exchange de criptomoedas FTX.

O braço de investimentos da exchange de Sam Bankman-Fried, a FTX Ventures, participara com um pequeno montante do total de US$ 27,8 milhões da extensão da rodada de financiamento de série A da Lemon Cash. Ao todo, a startup levantou US$ 41,1 milhões em financiamento.

Segundo Cavazzoli, a participação da FTX foi uma das menores entre todos os investidores que participaram da rodada de financiamento, que foi liderada pelo fundo britânico Kingsway Capital e contou ainda com DST Global, Valor Capital Group, CMP Capital e Cadenza entre os investidores:

"Desse valor [US$ 27,8 milhões], a FTX participou com um investimento muito pequeno. A FTX foi um dos investidores que participou dessa captação de recursos, e foi um dos que menos investiu, e dos que tinham a menor parcela da tabela de capitalização."

A participação da FTX na extensão da rodada de investimento da Lemon Cash só foi divulgada após a falência da exchange. O valor não foi revelado. Em um primeiro momento, a Lemon Cash havia negado qualquer exposição à FTX.

Cavazzoli também revelou à Bloomberg que a Lemon Cash fizera um investimento na FTX:

"Antes do colapso, a FTX era a segunda maior exchange do mundo, contava com os maiores investidores desse mercado e acumulava mais de US$ 2 bilhões em investimentos. Nesse contexto, nós decidimos fazer um investimento equivalente ao que eles haviam feito na Lemon. Nós não temos expectativas de recuperá-lo, mas isso nã0 afeta os nossos usuários ou tem um impacto significativo sobre a nossa empresa.

Gestão de risco eficiente

Cavazzoli disse que o comitê de gestão de risco da Lemon Cash sacou todos os fundos que mantinha depositados na FTX entre 3 e 4 de novembro, logo depois que o balanço patrimonial da Alameda Research, fundo de hedge fundado por SBF e que mantinha relações financeiras estreitas com a exchange falida, foi vazado pela imprensa.

Assim, afirmou Cavazzoli, os ativos da Lemon Cash depositados na FTX, incluindo fundos de usuários, não teriam sido comprometidos com os desdobramentos que resultaram na falência da exchange global.

A Lemon Cash utilizava os serviços da FTX e da Alameda para rentabilizar os fundos dos usuários depositados na exchange através do Lemon Earn, o serviço de renda passiva oferecido pela exchange. Os ativos mantidos pelos usuários na exchange automaticamente pagam juros aos usuários.  

O CEO da Lemon Cash citou os US$ 44,1 milhões levantados durante a rodada de financiamento de série A para garantir que a empresa está capitalizada para enfrentar as condições adversas do mercado que vieram se aprofundando ao longo do ano a partir do colapso do ecossistema Terra (LUNA), seguido pela insolvência do fundo de capital de risco Three Arrows Capital (3AC) e a recente falência da FTX.

Mesmo que uma reestruturação do quadro de funcionários e dos planos de expansão da empresa esteja sendo posto em prática neste momento, a empresa está preparada para enfrentar pelo menos mais alguns anos de inverno cripto, segundo declarou Cavazzoli a uma reportagem do CoinDesk:

"Essa extensão nos dá a espinha dorsal para enfrentar o inverno [cripto]. Não dependemos de mais investimentos para os próximos anos. Se o mercado se recuperar antes, ótimo, mas não é algo de que vamos correr atrás”.

Mudança de estratégia no Brasil

A Lemon Cash chegou ao mercado brasileiro em junho deste ano, em pleno inverno cripto, trazendo uma proposta de integrar as criptomoedas aos serviços financeiros tradicionais através de sua plataforma de negociação e de produtos e serviços bancários.

Em outubro, poucos dias antes do colapso da FTX, a Lemon Cash integrou o Pix aos seus serviços. Havia planos de lançar um cartão de débito pré-pago que permite aos usuários realizar pagamentos no dia a dia diretamente com criptomoedas ou reais com cashback em Bitcoin (BTC), nos mesmos moldes do que impulsionou a expansão da empresa no mercado argentino.

startup também pretendia oferecer no futuro rendimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) aos clientes brasileiros, que poderiam optar por receber os juros em reais ou criptomoedas.

Grande parte dos recursos levantados na rodada de financiamento foram direcionados à entrada no mercado brasileiro. Em entrevista concedida ao Cointelegraph Brasil em outubro, Borja Martel, cofundador, CBO da Lemon Cash e líder das operações da empresa no país, disse ter a intenção de formar uma equipe de aproximadamente 60 funcionários dedicados exclusivamente ao mercado local.

A demissão de cerca de 100 de um total dos 273 funcionários anunciada por Cavazzoli impacta diretamente as operações brasileiras da Lemon. Ainda não se sabe se os planos serão mantidos.

Cavazzoli limitou-se a dizer que a atuação da exchange no Brasil será "mais estratégica e de nicho." Os planos de expansão para outros mercados latino-americanos, que incluía Chile, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai foram temporariamente suspensos.

Prova de Reservas

Cavazzoli disse ainda que a Lemon Cash divulgou uma prova de reservas e uma prova de responsabilidades certificadas por um auditor na semana passada e na última quarta-feira, 23, adicionou um teste de reservas acessível aos usuários do aplicativo. Em breve, a empresa planeja apresentar uma prova de reservas baseada em criptografia.

Outra mudança na estratégia empresarial da Lemon Cash prevê a transição da utilização de produtos e serviços dependentes de plataformas de empréstimos centralizadas para gerar rendimentos às criptomoedas dos clientes depositadas na plataforma para protocolos de finanças descentralizadas. Caberá aos usuários escolher as plataformas em que desejam aplicar os seus ativos, afirmou Cavazzoli.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a adoção de sistemas de prova de reservas representam um avanço para a indústria, mesmo assim não oferecem segurança total para os usuários de exchanges e de plataformas de negociação e empréstimos de criptomoedas centralizadas.

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