Os investidores em criptomoedas entraram em pânico nesta segunda, 14, quando o preço do Bitcoin (BTC) despencou mais de 15%, levando o valor da principal criptomoeda do mercado a ser negociado abaixo de US$ 24 mil. O Bitcoin caiu aproximadamente 14% nas últimas 24 horas, enquanto o Ethereum caiu mais de 16% e a Dogecoin perdeu 17%.
Para Bradley Duke, co-CEO do ETC Group, a queda ainda é resultado do fracasso da stablecoin UST da Terraform Labs e o subsequente colapso da moeda vinculada Terra LUNA que, segundo ele, enviaram ondas de choque por todo o ecossistema.
"Não menos importante dos 80.000 BTC (~ $ 2,3 bilhões) que a Fundação Luna foi forçada a vender com uma perda considerável de valor. O Bitcoin permaneceu relativamente resiliente a esses choques, apesar dos mercados se inclinarem em baixa nos últimos seis meses. Mas cair de um nível chave em US$ 28.000 significa que o próximo grande suporte é de US$ 20.000", disse.
Além disso, Duke aponta que a queda levou o protocolo Celsius a fazer o anúncio extraordinário de que interromperia saques de criptoativos, citando “condições extremas de mercado”. No entanto, segundo ele aponta, a queda não é nada mais do que uma boa oportunidade de compra para os investidores que acreditam no potencial do BTC.
"Aqueles com capital de sobra podem ver oportunidades nessas quedas de mercado, enquanto os mais fracos ou superalavancados provavelmente estarão correndo para se proteger.”, disse.
Enquanto isso, Mikkel Morch, diretor executivo da ARK36, aponta que o ambiente econômico global está se tornando extremamente difícil para os investidores envolvidos em todos os tipos de mercados, por isso não é surpresa que o Bitcoin também esteja enfrentando uma crescente pressão descendente.
Ele destaca que as criptomoedas se tornaram um macro ativo global e, portanto, é de se esperar que elas reajam negativamente quando o sentimento geral do mercado é negativo como agora que os investidores perceberem que os bancos centrais não reagiram tão agressivamente quanto o necessário para manter a inflação sob controle.
Ainda segundo Morch, embora possamos eventualmente ver algum alívio no curto prazo, no médio prazo, todos estão realmente se preparando para mais desvantagens e os investidores em criptomoedas devem ser especialmente ágeis e observar os desenvolvimentos dentro do espaço tão de perto quanto no macroambiente mais amplo.
"Os mercados em baixa têm uma maneira de expor fraquezas anteriormente ocultas e projetos superalavancados, por isso é possível que vejamos eventos como o desenrolar do ecossistema Terra no mês passado se repetir. Por exemplo, Celsius e Tron são dois projetos que parecem particularmente arriscados no momento", apontou.
O analista também aponta que embora os mercados em baixa tragam muita dor para os investidores no curto prazo, eles são um filtro muito eficaz que ajuda o espaço das criptomoedas a crescer no longo prazo.
"Agora é a hora de se concentrar em encontrar e apoiar projetos com casos de uso fortes e verdadeira utilidade que inevitavelmente se sairão bem durante o próximo mercado em alta", finalizou.
Porque o Bitcoin caiu para menos de US$ 24 mil?
Para Bernardo Schucman, vice-presidente sênior da CleanSpark, a queda forte do Bitcoin acelerada nas últimas 24hs pode ser a indicação de tempos bem difíceis pela frente para os mineradores. A queda do preço também pode ser decisiva para marcar o passo de crescimento da força computacional, o hash rate.
Ele destaca que se o preço do BTC continuar caindo ou mesmo estagnar neste patamar, veremos um desaquecimento na expansão das atividades de mineração a curto e médio prazo.
Segundo ele, o mercado já estava assistindo um grande sell off de equipamentos de mineração nas últimas semanas e sem dúvida será catalisado para os próximos meses uma vez que com o preço abaixo dos 25 mil dólares 80% dos mineradores mundiais estão minerando seus bitcoins com prejuízo, abaixo do custo de mineração.
"Momentos como esse são favoráveis para os mineradores bem posicionados, com custo e eficiência acima da média mundial consolidarem suas operações. e para as operações menores o momento é de liquidar seus equipamentos e minimizar seus prejuízos além de repensar suas estratégias e modelos de negócios", disse.
Isabela Rossa, country manager da Coin Cloud no Brasil, também destaca que com um aumento na inflação e especulações sobre uma futura recessão nos EUA, as pessoas estão procurando por investimentos mais "conservadores", ou mesmo liquidando por dinheiro. Ela também aponta que o crash na LUNA também afetou fortemente o mercado cripto.
"Vemos o impacto negativo no domingo e hoje nas empresas que bloqueiam temporariamente a retirada, criando mais medo nos investidores e incentivando outros a sair. Em momentos como esse, o melhor a fazer é ter uma estratégia sustentável, e não abri mão de todas as suas criptos ou investimentos financeiros. Após o salto de 2017, os investidores de Bitcoin viram essa "fase vermelha" em 2018, mas a moeda voltou a crescer no momento seguinte", apontou.
Altcoins podem cair ainda mais
Lucas Passarini, trader do MB, também é da opinião de que os mercados globais seguem pressionados com o avanço da inflação. Ele destaca que a expectativa de um aumento ainda maior na taxa de juros dos bancos centrais tem impactado o comportamento dos investidores que tem buscado liquidez nesse momento e se proteger das incertezas.
"O mercado cripto acelerou suas perdas nessa madrugada e sua capitalização de mercado está abaixo de 1 trilhão de dólares, nível visto apenas em janeiro de 2021. A volatilidade alta deve ditar o ritmo dos mercados, os pontos de controle estão em 22 mil dólares de suporte e 28 mil dólares de resistência para o BTC. As altcoins apresentarão movimentos ainda maiores nesse momento de stress", disse.
Sylmara Multini, CEO da IDG NFT, ressalta que as criptomoedas são um investimento de longo prazo e a queda atual pode ser uma nova chance de comprar BTC 'barato'.
"As criptomoedas vieram para ficar, a descentralização é o futuro, mas elas são, na minha opinião, um investimento a longo prazo. É um 'buy and hold', este é um ativo volátil voltado a para quem está predisposto ao risco. Mas é importante destacar que quem comprou a US$9.000 em junho de 2019 está muito feliz com o seu investimento. É preciso saber quando entrar", analisa.
Alexandre Ludolf, Diretor de Investimentos da QR Asset Management, disse que existe uma combinação entre a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia, com a inflação surpreendendo para cima no mundo todo e impacto negativo em todos os ativos de risco, e um movimento de grandes liquidações forçadas nos mercados digitais.
"Neste sentido, o bitcoin tem sofrido e se encontrado próximo à região da média móvel de 200 dias. O aumento da dominância do bitcoin denota uma busca por qualidade. Acreditamos que o bitcoin continuará sensível ao risco global, mas que, ainda assim, será o melhor projeto de tecnologia para os próximos meses devido às suas características de proteção inflacionária.”, refletiu
Mesmo em queda, ainda é vantajoso investir em Bitcoin
Marco Castellari, CEO da Brasil Bitcoin afirmou que diversos fatores influenciaram essa forte queda como os temores de um forte aumento das taxas de juros nos Estados Unidos e também de uma recessão.
"Isso está gerando um enorme impacto não só com o Bitcoin e outros criptoativos, mas também em todas as bolsas ao redor do mundo. Vale ressaltar que diante o cenário atual, o nível de correlação entre os mercados de ações e o Bitcoin vem aumentando consideravelmente", apontou.
O sócio-fundador do Hub do Investidor, Jayme Simão, destaca que esse período de lateralização vivido pelo bitcoin fez com que as perdas realizadas no mercado fossem maiores que os lucros.
"Mas o que analisamos, nas últimas semanas, a tese de investimento no ativo em longo prazo demonstra ótimas oportunidades”, explica.
Para o especialista, o mais importante para o investidor é sempre estudar os ativos – ou contar com apoio de analistas que entendam desse mercado, e ter no seu radar aqueles que possuem fundamentos sólidos.
Aliado a fatores macroeconômicos, indicadores on-chain e à formação de um padrão associado a uma tentativa frustrada de recuperação, o fato de o bitcoin ter demonstrado fraqueza em superar a faixa próxima aos US$ 32.000 ligou o alerta para os investidores.
Simão também destaca que é possível que a queda do ativo tenha sido influenciada também pelos resultados negativos dos primeiros dias de junho no mercado americano, onde Nasdaq 100 e S&P 500 fecharam em queda de 0,7%.
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