Há duas formas de encarar o atual momento do mercado de tokens não fungíveis (NFTs) em meio a um ciclo de baixa mais amplo que tem impactado não apenas as criptomoedas, mas também todas as classes de ativos de risco.

Se por um lado a queda do volume negociado tem sido brutal – agosto registrou números 98% inferiores aos de janeiro –, a quantidade de endereços que possuem NFTs praticamente dobrou no mesmo período, avançando de 3,36 milhões para 6,14 milhões no mesmo período.

Enquanto a primeira métrica em parte pode ser explicada devido ao inverno cripto, a segunda mostra que há um interesse crescente por tokens não fungíveis, possivelmente também entre aqueles usuários que não necessariamente são criptonativos.

Ou seja, apesar do revés momentâneo, trata-se de um mercado com alto potencial de expansão, especialmente quando houver uma reversão de tendência definitiva rumo a um novo ciclo de alta do ecossistema cripto. No entanto, a atração de novos usuários também depende do desenvolvimento de novos casos de uso para os NFTs.

A primeira onda de adoção de NFTs baseou-se na popularidade de cripto colecionáveis, especialmente pelo hype alimentado por coleções de fotos de perfil (PFP), como Bored Ape Yacht Club (BAYC), CryptoPunks, Azuki, entre outras.

Os próprios colecionáveis digitais podem passar por uma renascença, visto que há um potencial que chegou a ser explorado no ano passado no campo da arte digital, assim como no lançamento de NFTs exclusivos associados a marcas. 

Por exemplo, recentemente o Chicago Bulls, equipe de basquete que disputa a liga profissional dos EUA (NBA), se associou a artistas da Web3 para recriar o tradicional símbolo do touro que o caracteriza. A coleção contou com forte adesão dos fãs dos Bulls.

A seguir, o Cointelegraph Brasil apresenta três casos de uso ainda pouco explorados que podem desencadear uma nova onda de adoção – e valorização – dos tokens não fungíveis.

Games

Os games em blockchain também tiveram uma contribuição nada desprezível para a popularização dos NFTs no ano passado, mas a exploração do potencial de ativos de jogos ainda não foi além da superfície.

Indo além do nicho de blockchain games, bilhões de dólares são gastos em itens de jogos que não conferem direitos de propriedade aos seus detentores. Ao contrário, são propriedade da empresa por trás do jogo e podem ser descontinuados sem aviso prévio, desaparecendo da noite para o dia. Somente em 2020, foram gastos aproximadamente US$ 54 bilhões em skins digitais e bens virtuais de jogos que funcionam no modelo tradicional.

Na maioria dos casos, sem agregar qualquer valor ou utilidade no âmbito do jogo em si. Funcionam apenas com um símbolo de status para os jogadores. 

No futuro, há grandes chances de que todos jogos comercializem ativos digitais sob o formato de NFTs, conferindo real direito de propriedade aos usuários, permitindo que eles sejam utilizados onde bem entender e abrindo novas formas de monetização inimagináveis antes dos tokens não fungíveis. Será possível vendê-los, alugá-los e até arrendá-los, no caso de terrenos virtuais.

Embora sofram resistência de boa parte da comunidade gamer, gigantes de jogos eletrônicos como a Ubisoft e a Epic já estão explorando os recursos oferecidos pela tecnologia. Sem falar nas empresas de games nativas da Web3, as quais já levantaram aproximadamente US$ 7 bilhões em financiamento durante o atual inverno cripto.

Conexão entre criadores e fãs

Os NFTs têm o potencial de revolucionar a indústria criativa ao permitir que criadores possam gerar receita com o produto de seu trabalho, independentemente do tamanho de suas bases de fãs, de acordo com uma teoria criada por Kevin Kelly, um dos idealizadores da Wired, revista publicada nos EUA que é uma espécie de Bíblia dos universos digitais.

De acordo com Kelly, artistas e criadores cujas obras e produtos não têm o potencial para conquistar as massas podem gerar receitas através delas desde que consigam construir uma base de 1.000 fãs verdadeiramente fiéis. Caso eles estejam dispostos a pagar US$ 100 por ano para ter acesso a materiais inéditos e exclusivos, poderia ser gerada uma receita mínima de US$ 100.000. 

Não chega a ser uma soma capaz de mudar radicalmente a vida de alguém, mas permite que artistas ou criadores ganhem dinheiro fazendo aquilo que gostam. Pois os NFTs são o instrumento perfeito para fazer a fidelização destes fãs.

O primeiro aspecto – e o mais importante – é a possibilidade de criar uma comunidade em torno da emissão de NFTs. O modelo de negócios é algo totalmente aberto. Por exemplo, os NFTs podem ser emitidos em número limitado, gerando escassez e valorização de acordo com o interesse que despertam entre os fãs e usuários.

Mas principalmente porque podem conceder acesso a uma série de produtos, experiências ou o que quer que a imaginação seja capaz de inventar. De cara, é possível oferecer vantagens exclusivas, como um passe digital para os fãs.

Pode também, por exemplo, oferecer formas de investimento no sucesso do emissor do NFT, caso haja alguma forma de compensação financeira prevista no contrato inteligente no qual ele foi criado.

Clubes digitais

Os NFTs desbloqueiam uma nova forma de associação a clubes e sociedades fechadas, seja um time de futebol, um clube recreativo ou quaisquer associações formadas por grupos de pessoas com interesses comuns.

A lógica é a mesma do que a de associar-se a um clube para ter acesso a todos os seus benefícios, com a diferença de que ao invés de pagar uma taxa mensal ou anual, os NFTs podem ser encarados também como uma forma de investimento.

Aqui há um enorme potencial a ser explorado por marcas, as quais podem oferecer uma série de experiências ou até mesmo vender serviços por assinatura de forma personalizada mediante a emissão de NFTs.

Um exemplo de que a próxima onda de adoção de NFTs tem potencial para alcançar as massas é a notícia de que a Disney está em busca de um advogado especialista em Web3, NFTs e direitos de propriedade digital para focar no desenvolvimento de negócios voltados para esta nova classe emergente de ativos digitais, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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