O jurista especialista em direito empresarial Paulo Bardella Caparelli escreveu um artigo para o blog do jornalista Fausto Macedo, do Estadão, dizendo que "entre lágrimas e lenços, 2020 foi o ano das startups".

Segundo ele, 2020 será lembrado pelas dificuldades da pandemia de coronavírus, mas tabém foi o "ano das oportunidades" para outras empresas, especialmente as startups, que tiveram uma série de recordes:

"Ao que tudo indica, 2020 se encerrará com recordes em todos os dados envolvendo startups: o ano de maior número de aquisições, o maior número de aportes em startups, o maior volume de valores aportados. Os dados são da empresa Distrito, que monitora o segmento."

Caparelli lembra que 2020 já havia começado sob boa perspectiva para o setor, que esperava que os negócios fossem "destravados" e ganhassem mais escala.

Com a chegada do coronavírus, a realidade do lockdown forçado trouxe uma nova perspectiva:

"De um lado, empresas fornecedoras de produtos e serviços para o público em geral viram-se forçadas a buscar todo o tipo de soluções para efetivamente sobreviver (de renegociação de contratos a ajudas governamentais). Mas, para nossa surpresa, de outro lado uma série de companhias seguiram seus projetos de investimentos e transações que estavam em andamento. As startups seguiram este segundo grupo e surfaram uma grande onda, turbinada pela necessidade repentina de adaptação a um mundo digital."

Assim, os investimentos digitais - e em startups - ganharam força e finalmente trouxeram os aportes que foram adiados nos anos anteriores. O movimento, garante ele, "está longe de esfriar", já que houve uma "mudança de cultura" nos meses de pandemia, com trabalho remoto, maior digitalização - inclusive do dinheiro - e consequentemente, maior demanda por tecnologias distuptivas:

"Além das startups [...], o estudo Fintech Deep Dive PWC indica que Inteligência Artificial, Machine Learning, Blockchain e gestão de identidades são as principais tecnologias cujo domínio as startups pretendem aumentar nos próximos cinco anos."

O jurista também levanta outros aspectos importantes, como o projeto de lei que tramita no Congresso e que busca dar segurança jurídica para os investimentos em startups, e a busca por investimentos alternativos, entre eles em startups, fintechs e até moedas digitais como o Bitcoin, que apesar dos economistas mais tradicionais torcerem o nariz já superou os investimentos "seguros" do mercado financeiro em 2020.

Finalmente, Caparelli alerta para o risco de intervenção do Estado na economia e seu impacto sobre as startups, como já ocorreu nas quedas de braço dos governos contra Uber, Rappi e Loggi, por exemplo. E completa:

"Aqui não se discutem questões como intenção, acerto/erro, legitimidade etc. dos atos governamentais, mas apenas a constatação de que a intervenção excessiva do governo é um risco que deve ser endereçado pelos investidores e empreendedores, e sempre ajustado contratualmente no momento do ingresso deste novo sócio na companhia."

LEIA MAIS