No dia 24 de novembro, o preço do Bitcoin (BTC) atingiu novas máximas históricas. No Brasil, ele chegou a ser negociado a R$ 105 mil. No par BTC/USD, ele foi negociado a US$19.800, atingindo os patamares da máxima de 2017. 

Atualmente, o par BTC/USD está sendo negociado pouco menos de 1K da ATH de 2017 e 35% acima da ATH de 2017 no par BTC/ BRL. Apesar do preço ser virtualmente idêntico à máxima de 2017, o cenário hoje é substancialmente diferente.

Um ecossistema inteiro de DeFi se desenvolveu, altcoins do TOP 10 estão distantes de novas máximas, algumas moedas do TOP 10 não existiam em 2017 e além disso, novas regulamentações e investidores institucionais passaram a compor o mercado, comprando mais Bitcoins do que a taxa de emissão de novas moedas.  Algumas métricas e gráficos podem compor o quadro das diferenças entre a alta de 2017 da que começamos a viver em 2020. 
 

ATH da Capitalização do Mercado do Bitcoin (BTC)

Apesar do preço por unidade do BTC não ter ultrapassado a ATH em dólares, a capitalização da criptomoedas em dólares já passou a máxima histórica. Em 2017, a capitalização do Bitcoin era de US$330 bilhões, em novembro, ela atingiu os US$ 357 bilhões. A capitalização total do mercado, entretanto, não atingiu novos patamares. Em 2017 ela era responsável por $835 bilhões. Hoje, é de $567 bilhões. 

 

 

Fonte: Blockchain.com 

O que acontece, entretanto, é que hoje, há mais Bitcoins em circulação, junto de muitos outros projetos novos terem entrado no mercado. O aumento do supply e a criação de novas criptomoedas com relevância no mercado criam o fenômeno da diluição.

Diluições: Inflação & Dominância

O primeiro problema da diluição diz respeito à inflação. Na ATH de 2017, 16.7 milhões de moedas haviam sido mineradas. Hoje, há 18.5 milhões, uma inflação de aproximadamente 10%. Isso faz com que o mesmo capital não seja suficiente para elevar o preço das moedas a novas máximas. É necessário mais capital para chegarmos ao mesmo preço.  

Assim, o suprimento total de um protocolo e sua taxa de emissão afetam o desempenho do preço de um ativo. Criptomoedas com alta emissão podem ter dificuldade em recuperar o preço, mesmo com o aumento da capitalização geral do mercado. Ripple (XRP), Chainlink (LINK), Polkadot (DOT), Stellar (XLM), Tron (TRX) e Tezos (XTZ) são moedas cujos investidores devem ficar atentos ao supply.  A XRP, por exemplo, em novembro de 2017, haviam 37 B de XRP em circulação, hoje há 45 B de XRP, e a moeda tem um  supply de 100B. Ou seja, apenas 45% das moedas foram emitidas e o preço se encontra 40% abaixo da sua máxima histórica no par XRP/USD. No caso do Bitcoin, 85% das moedas já foram emitidas. 

Dominância

O segundo problema da diluição diz respeito à dominância do mercado. Em 2017, inúmeros projetos surgiram para competir com o BTC, marketizando-se como protocolos melhores, mais rápido e com taxas mais baratas. E o mercado de criptomoedas vivenciou a explosão das stablecoins, tokens de exchanges e das finanças descentralizadas (DeFi). 

Apesar dessas promessas, explosões e da volatilidade do mercado, a dominância do BTC hoje é parecida com a dominância de três anos atrás, variando nos últimos meses dentro do range dos candles formados durante a alta de 2017. A constante da dominância em um mercado em ebulição, mostra que o BTC conseguiu se sustentar como moeda principal do mercado.  

Dominância do Bitoin. Fonte: Tradingview.com

O mesmo não pode ser dito sobre outras criptomoedas que detinham as primeiras posições do TOP 5 em 2017.  ETH, XRP e LTC perderam dominância e relevância para outros projetos. 

A dominância do ETH em 2017 era de aproximadamente 20%, hoje ele é responsável por 12% do mercado. A XRP que chegou a deter 15% do mercado no início de 2018, hoje tem apenas 5% do mercado. 

A Polkadot (DOT)  que ocupa a hoje a 9a posição do mercado, não existia em 2017. 

Fonte:coinmarketcap.com

 

Break Even Price: BTC vs ETH

Há mais endereços lucrando com posições em Ether do que endereços lucrando com Bitcoin. Isso pode parecer um contrassenso, já que o ETH precisa subir mais de 130% para atingir sua máxima histórica.

Mas cerca de  39 milhões - 80% do total- de endereço ETH estão no lucro, contra 31 milhões de endereços BTC - 93% da rede. O que esse dado nos mostra é que apesar da distância da ATH, os investidores estão com lucro e podem estar preparados para abrir novas posições.  Os $ 20.000 de 2017 do BTC e os $ 20.000 de hoje não são os mesmos. Naquela época, o Bitcoin subiu mais de 1500% em menos de um ano quando chegou a $ 20.000. Agora, foram 200%, é uma diferença substancial.  

Fonte: Intotheblock 

Fonte: Intotheblock 

 

Adoção: Endereços com algum Bitcoin

Nunca antes houve tantos endereços de Bitcoin com pelo menos $10 de saldo. Ou seja, existem muito mais pessoas com Bitcoin hoje do que existiam em 2017.  Na máxima histórica de 2017, haviam 28 milhões de endereços com algum balanço. Hoje, há 33 milhões.  

Em outubro, o PayPal lançou seu serviço para compra, venda e custódia de criptomoedas, oferecendo exposição ao mercado de criptomoedas para uma base de 300 milhões de pessoas ( e as ações da empresa subiram 17% desde então). A facilidade que serviços como PayPal e Robinhood prove aos investidores têm grande potencial de expandir ainda mais a base de varejo das criptomoedas.

 

Fonte: Intotheblock 

O interessante dessa métrica, é que ela mostra a dispersão dos investidores de varejo - que apesar de terem perdido o holofote para os investidores institucionais neste ano, continuam sendo relevantes. O baixo interesse do varejo pode ser visto nas métricas do Google Trends, que quase não mudou. 

Fonte: Google Trends

 

Institucionais e o desequilíbrio na oferta

BlackRock, Square, MicroStrategy, MassMutual e o PayPal entraram no mercado, exigindo cada vez mais Bitcoin para serem acumulados e criando um desequilíbrio na oferta/demanda para atender esses investidores institucionais. 

A Cash App, serviço de pagamento mobile da Square, está comprando sozinha cerca de 40% de todos os bitcoin recém-emitidos. O Paypal passou as semanas seguintes de seu lançamento comprando 70% da nova oferta de Bitcoin.  Em novembro, a Grayscale sozinha comprou o dobro de Bitcoins que os mineradores criaram. 

No dia 8 de dezembro, a MicroStrategy anunciou a emissão de US$ 400 milhões em títulos para comprar mais Bitcoin, três dias depois, ela vendeu US$ 650 milhões para o financiamento dos Bitcoins. Em agosto, a empresa anunciou a compra de 21.454 BTC por US$250 milhões. Em setembro, ela comprou mais 16.796 BTC por US$ 175 milhões. A preços atuais, a empresa conseguiria comprar mais 20.833 Bitcoins, controlando cerca de 73.000 BTC. 

O anúncio gerou reação do Citibank, que rebaixou a nota da empresa, em uma posição crítica, apontando um ''foco desproporcional no Bitcoin''. A ofensiva do Citi não impactou o desejo dos institucionais. No dia 10 de dezembro, a MassMutual anunciou a compra de US$ 100 milhões em Bitcoin, 5.470 unidades. 

Juntas, PayPal, Grayscale e CashApp estão comprando mais do 150% de todos os bitcoin emitidos. Segundo o portal Bitcoin Treasuries, que mapeia os Bitcoin em posse das maiores corporações do mundo, as maiores empresas de capital aberto do planeta são donas de 888.000 BTCs, ou US$ 17 bilhões - ou ainda: 4,23% do suprimento total de Bitcoins em circulação.

 

Fonte: bitcointreasuries.org/

Interesse Institucional no Bitcoin no Brasil

Durante o ano de 2020, o interesse institucional também foi evidente no Brasil, com novos fundos aprovados e disponibilizados para investidores qualificados. Atualmente, há quatro gestoras reguladas (QR Asset, Vitreo, Hashdex e BLP), oferecendo 14  fundos multimercados, que somam R$ 743 milhões AuM. No dia 31 de agosto,  pela primeira vez na história, um fundo de Bitcoin foi eleito o mais rentável do Brasil, com 66% de valorização no ano. Em dezembro o marco se repetiu e, fundos com exposição em Bitcoin superam todas as outras aplicações financeiras no Brasill, acumulando rentabilidades acima de 200%. 

Fonte: Mais Retorno

Em 2017, a alta foi impulsionada pelos investidores varejistas, mas dessa vez, algo muito diferente está acontecendo, o dinheiro institucional está arrebatando todas as compras e elevando o preço às máximas históricas. É surpreendente ver que apenas três empresas conseguem absorver todo o novo suprimento do mercado. O mercado ainda não chegou a marca de US$ 1 trilhão, então quando o dinheiro de verdade se interrassa,o jogo vira rapidamente. 

É interessante notar que em qualquer outro caso, haveria formas de incentivar novas produções, aumentando a demanda, mas não há como criar novas ofertas de Bitcoin e a demanda está aumentando diariamente, isso cria um desequilíbrio de oferta e demanda surpreendente e sui generis.  

 

Acumulação e Disposição de longo prazo: Outflow de Exchanges, Bitcoin Hold Waves e Velocidade Monetária do Bitcoin.

Algumas pessoas podem se perguntar, mas e quando esses investidores decidem despejar, a queda não pode ser brusca demais? Contra isso, podemos observar duas métricas interessantes: o flow on-chain entre exchange e wallets, a velocidade monetária do Bitcoin e a hold waves. 

Outflow

Investidores institucionais e de varejo estão comprando Bitcoin, elevando seu preço e deixando-os parados nas carteiras.

A saída de Bitcoins das exchanges atingiu os patamares do início de 2017 e da pré-alta histórica da maior criptomoeda. Isso indica que os investidores não pretendem liquidar suas posições em breve, eles estão holdando. É interessante juntar esse dado com as métricas da compra institucional. O cenário é de compras acima das novas disponibilidades e do congelamento do suprimento no longo prazo. 

Bitcoin Hold Waves

Outra forma de observar se o comportamento dos investidores tende ao curto ou longo prazo é o Bitcoin Hold Waves.

Essa métrica mostra a tendência das carteiras por idade desde que os Bitcoin foram movidos pela última vez. A visão composta da métrica permite a visualização de um panorama geral dos ciclos do Bitcoin. Quando o Bitcoin entra em tendência de baixa, as ondas tendem a diminuir, com investidores liquidando suas posições.

Em momentos de alta, as ondas tendem a subir, indicando acumulação. Atualmente, ondas  superiores (5 e 3 anos e  24 meses) estão no mesmo patamar que o início de 2017, indicando força para o ativo atingir novas máximas no longo prazo. 

Bitcoin HODL Waves. Fonte: Woobull

Velocidade monetária do Bitcoin: M1 E M2

A velocidade monetária é uma métrica que compara a rapidez com que o dinheiro circula na economia. Sendo que: 

M1 =  moeda em poder do público (papel-moeda) + depósitos à vista nos bancos comerciais. M1 representa a moeda de liquidez imediata.

M2 = M1 + depósitos a prazo (depósitos para investimentos, depósitos de poupança, fundos de aplicação financeira e de renda fixa de curto prazo) + títulos do governo em poder do público.

Observando a disposição do Bitcoin ao M1 ou ao M2, podemos observar ver se o uso do Bitcoin está tendendo a pagamentos ou a investimentos. A velocidade do Bitcoin é calculada dividindo o volume estimado de transação de 90 dias em dólares pelo valor médio de mercado em 90 dias. (Isso é equivalente ao $ BTC circulado dividido pelo suprimento monetário de Bitcoin).

Com o gráfico abaixo, observamos que o  Bitcoin atualmente está sendo visto mais como investimento do que o M2 do dólar, indicando que o ativo pode ter até mais confiança do que os títulos e fundos de investimento tradicionais. Os níveis atuais são ainda mais promissores que aqueles alcançados no início de 2017.  

 

Velocidade do Bitcoin vs Estoque do Dólar. Fonte: Woobull
 

Mineração: As faixas de dificuldade do Bitcoin

A relação entre mineração e preço é uma controvérsia dentro do mercado cripto. Com entusiastas defendendo que o papel dos mineradores no preço é superestimado. Seja como for, vejamos o que a mineração nos diz sobre nosso cenário atual. A métrica das faixas de dificuldade da mineração tentam mostrar o efeito da pressão de venda dos mineradores no preço do Bitcoin. Em resumo, quando a faixa se comprime, elas indicam bons momentos de compra. 

Há diferentes métricas que afetam a mineração, tais como as temporadas de chuva na China, a disponibilidade de ASICs mais eficientes ou a ação de reguladores sobre a disponibilidade de energia para mineração. E o processo é extremamente dinâmico, devido ao ajuste constante da dificuldade.

Quando a dificuldade da rede sobe muito, mineradores pequenos vendem moedas para pagar os custos de produção e saem da operação, o que tende a diminuir o poder de hash e a dificuldade da rede (comprimindo a faixa). Quando isso acontece, os maiores mineradores têm um gap em que seu lucro aumenta e eles vendem menos moedas, abrindo caminho para uma alta do preço. 

Atualmente, as faixas de dificuldade da mineração encontram-se comprimidas em patamares similares aos do início de 2017, indicando alta. 


 

Faixas de dificuldade da mineração. Fonte: Woobull

Perspectiva futura para o Bitcoin: o cenário macro

As métricas apresentadas apontam um cenário extremamente positivo para o futuro do Bitcoin. Estamos próximo da máxima histórica do preço do Bitcoin, mas o cenário aponta para o início da tendência de alta. 

Mas, além dos gráficos, há questões interessantes para se observar no cenário macro. Muito tem se falado do Bitcoin como ativo de proteção contra um cenário em que bancos centrais do mundo todo emitiram milhões para conter a crise do coronavírus. 

Neste cenário, é relativamente comum - e até bem estranho - que 'boas notícias' sobre a crise do coronavírus, tais como vacinas sendo desenvolvida, sejam vistas como negativas para o Bitcoin. Segundo essa narrativa, o Bitcoin é um ativo para ' o fim do mundo', se o apocalipse é adiado, novas máximas também são.  

Um contraponto interessante à teoria do apocalipse é observar que a crise do coronavírus não é uma crise unicamente sanitária. Salvar pessoas do vírus não é o mesmo que salvar a economia do vírus. O real desvalorizou mais de 20% frente ao dólar, criando um cenário de hiperinflação e baixa nos empregos. Novos estímulos são a única vacina econômica em desenvolvimento. Na medida que bancos emitem novos trilhões, o Bitcoin diminui - e congela- seu suprimento. 

Se a crise sanitária não for resolvida em breve, o apocalipse continuará no horizonte. Se a crise sanitária for resolvida - e será na base de novos estímulos-à economia ainda precisará ser resgatada. Em ambos os cenários, as métricas, gráficos e análises macro-econômicas indicam que investidores tradicionais e de varejo continuarão a comprar novos Bitcoin e a inelasticidade da demanda de novos Bitcoin só pode indicar um caminho: um preço mais alto no futuro. 

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