O Bitcoin (BTC) voltou a romper a resistência de US$ 42.000 na quarta-feira, 20, mesmo depois que o rendimento real do título de 10 anos dos EUA entrou em terreno positivo pela primeira vez desde o começo de 2020.

Para os investidores dos mercados tradicionais, o rendimento real ou ajustado pela inflação do título de 10 anos dos EUA pode ter entrado em terreno positivo. No entanto, para a população em geral, com a inflação acima de 8%, o rendimento real permanece negativo e o título de 10 anos ainda não se configura como uma alternativa de investimento segura.

Ou seja, o título de 10 anos em terreno positivo não deveria ser uma notícia favorável ao Bitcoin, mas, ao menos em um primeiro momento, não impactou negativamente a ação de preço do BTC.

O Bitcoin chegou a se aproximar de US$ 43.000 nas primeiras horas desta quinta-feira, antes de perder força e voltar a flertar com a faixa de US$ 42.000. À tarde, a maior criptomoeda do mercado está cotada a US$ 41.586, ainda assim registrando uma alta intradiária de 0,5%, de acordo com dados do CoinMarketCap.

O cenário macroeconômico tecnicamente desfavorável levou o Bitcoin ao mais alto grau de correlação de 30 dias com o Índice Nasdaq desde julho de 2020, reforçando a narrativa de que o Bitcoin é um ativo de risco.

Somando-se a esta perspectiva, a correlação com o ouro, ativo com o qual o Bitcoin é recorrentemente comparado por suas supostas propriedades de proteção contra desvalorização da moeda, está próximo de suas mínimas históricas, sugerindo que os investidores estão dando preferência ao metal precioso diante da turbulência geopolítica e das incertezas do cenário macroeconômico.

Outro indicador desfavorável aponta que a correlação do Bitcoin com o Índice do Dólar (DXY), que relaciona o valor do dólar ao de outras moedas fortes como o euro e o iene, também se encontra em seu nível mais baixo desde outubro do ano passado.

Historicamente, o DXY é considerado um dos principais opositores do Bitcoin, pois em geral a queda na correlação entre o preço do BTC e o DXY aponta para um enfraquecimento da principal criptomoeda do mercado.

Como interpretar a correlação com o mercado de ações

Apesar da correlação com o Índice Nasdaq em sua máxima histórica, alguns analistas encontraram na comparação do desempenho de algumas ações do setor de tecnologia e a ação de preço do Bitcoin desde o início deste ano um alento para vislumbrar a possibilidade de que cada um poderá seguir o seu próprIo caminho daqui por diante.

Em seu perfil no Twitter, a Blockworks inseriu o desempenho do Bitcoin em 2022 no contexto do comportamento das ações de 10 grandes empresas norte-americanas sem qualquer julgamento de mérito, apesar de utilizar um clássico meme de ciclos de baixa para ilustrar a postagem.

Ainda assim, duas leituras são possíveis: uma otimista e outra pessimista.

Pelo viés otimista, pode-se considerar que o Bitcoin vem performando melhor do que empresas como PayPal, Facebook, Netflix e Adobe, que desde o começo do ano desvalorizaram 50%, 40%, 35% e 23%, respectivamente.

Enquanto isso, a ação de preço do BTC manteve-se mais próxima da performance da ação da Amazon. Enquanto as ações da big tech caíram 11% em 2022, o Bitcoin caiu 13%.

Por sua vez, o viés pessimista sugere que o Bitcoin deve ser inserido no contexto das ações de tecnologia. Como todos os ativos de risco, a tendência é que ele venha a sofrer novas perdas no curto e médio prazo.

Já o analista de dados on-chain Will Clemente publicou uma postagem semelhante para comparar o desempenho do Bitcoin com outros pesos pesados do setor de tecnologia em que ao final conclui que "apesar da incerteza macro/geopolítica sem precedentes, o Bitcoin está se mantendo muito bem em uma base relativa."

Em um comentário à postagem de Clemente, a empresa de análise de criptoativos sob uma perspectiva macroeconômica, ecoinometrics, aponta que o cenário não é tão negativo quanto alguns analistas fazem parecer. Nem para o Bitcoin nem para as big techs. No caso, a postagem traça um paralelo mais específico com a recente queda das ações da Netflix.

Ótima observação @WClementeIII.

As pessoas sempre reclamam das quedas do Bitcoin, mas essas correções não parecem tão diferentes das que você vê na maioria das ações.

Veja a comparação abaixo. Esta nem é a pior correção da história da Netflix até o momento...

— ecoinometrics (@ecoinometrics)

No entanto, o comentário postado pela ecoinometrics é acompanhado de dois gráficos que mostram que tanto as ações da Netflix quanto o Bitcoin ainda têm espaço para cair antes de uma eventual reversão de tendência.

Em busca do fundo

Considerando-se os múltiplos – e contraditórios – sinais do mercado nesta primeira metade de 2022, a grande questão no momento parece realmente descobrir quando os ativos de risco, Bitcoin incluído, terão finalmente chegado ao fundo de seus movimentos descendentes.

Voltando à postagem de Clemente, chama atenção que o desempenho mais próximo ao do Bitcoin em 2022 seja o do índice Nasdaq. A comparação nos leva a uma outra postagem que apresenta um gráfico com uma comparação alarmante sobre a relação entre os índices Nasdaq e Dow Jones, segundo o qual o fundo não chegou e ainda pode estar distante.

A relação entre o índice Nasdaq/Dow Jones começou a cair exatamente no mesmo nível [do estouro da bolha] pontocom de 2000

Isso é mental

— ALESSIO (@AlessioUrban)

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, US$ 42.000 parece ser um nível crucial para o Bitcoin no curto prazo, mas a correlação crescente com o mercado de ações pode impedir o Bitcoin de buscar o próximo alvo – a média móvel de 200 dias que se encontra em torno de US$ 48.000.

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