Resumo da notícia:
Moeda digital lastreada em créditos orçamentários visa modernizar a gestão administrativa e aumentar a transparência nas transações internas da USP.
₿itUSP não busca operar como ativo financeiro, mas como uma ferramenta de gestão pública.
O token funcionaria como instrumento de registro e mensuração de transações entre unidades e órgãos administrativos da universidade.
Três professores da Universidade de São Paulo (USP) apresentaram uma proposta de adoção de uma moeda digital institucional lastreada em créditos orçamentários públicos. O token, denominado ₿itUSP, funcionaria como um instrumento de registro e mensuração de transações internas entre unidades, laboratórios, hospitais, bibliotecas e órgãos administrativos da universidade.
O projeto formulado por pesquisadores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP tem como objetivo tornar mais eficiente a gestão de recursos e fomentar o engajamento da comunidade universitária.
“A experiência acumulada pelo professor Amaury, um dos autores deste artigo, à frente da Diretoria de Administração da Coordenadoria de Administração Geral da USP, evidenciou a ausência de métricas capazes de capturar, de forma padronizada e objetiva, a qualidade do gasto público, a produtividade das unidades e o valor gerado pelos inúmeros serviços que sustentam o cotidiano da Universidade”, afirmam os autores em um artigo publicado no Jornal da USP.
Apesar da implementação de sistemas como o Sistema Eletrônico de Informações (SEI), a administração da USP ainda utiliza modelos que não privilegiam a otimização de resultados, resultando em fluxos redundantes, tempos de processamento elevados e fragmentação informacional, destacam os autores:
“A USP opera um ecossistema complexo, multicultural e multifuncional, mas dispõe de instrumentos limitados para quantificar, reconhecer e comparar as entregas efetivamente realizadas por suas unidades.”
A proposta congrega estudos acadêmicos sobre inovação pública com a lógica contábil de créditos e débitos, inspirada em tecnologias de registro distribuído (DLTs) e sistemas financeiros digitais, como o Pix.
“Um mecanismo interno de circulação digital de valor poderia reduzir fricções, qualificar decisões orçamentárias e ampliar a transparência das trocas operacionais”, afirmam os autores.
Os idealizadores ressaltam que a moeda digital tem propósito diferente de criptomoedas como Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) ou stablecoins:
“A Moeda Digital da USP não tem natureza especulativa e não busca operar como ativo financeiro. Ela também não se confunde com moedas digitais de Bancos Centrais, cujo foco é o sistema financeiro nacional e não a gestão universitária.”
Moeda digital baseia-se na tokenização de créditos orçamentários
A moeda digital foi projetada para cumprir três funções específicas: gerencial, permitindo visualizar custos e volumes de serviços internos; de incentivo, vinculando créditos a metas institucionais e campanhas internas; e simbólica, fortalecendo o pertencimento à comunidade universitária.
De acordo com a proposta, cada unidade da moeda digital seria lastreada em créditos orçamentários já aprovados. Tecnicamente, a emissão da moeda digital baseia-se na tokenização desses créditos:
“O funcionamento da Moeda Digital da USP parte de uma premissa simples: transformar parte dos créditos orçamentários já existentes em uma unidade digital padronizada, capaz de registrar as transações internas da Universidade de maneira mais estruturada.”
A moeda digital geraria débitos para quem utiliza determinados serviços e créditos para as unidades e servidores que os prestam. Os dados resultantes dessas operações poderiam ser utilizados como ferramenta de gestão para analisar tendências, comparar unidades e identificar áreas que necessitam de reforços ou ajustes operacionais, defendem os autores:
“A moeda possibilita registrar, em um formato padronizado, o volume de serviços oferecidos por laboratórios, centros de saúde, museus, bibliotecas e demais estruturas universitárias. Ao consolidar esses dados de maneira contínua, a Universidade passa a dispor de séries históricas que facilitam o planejamento orçamentário, a avaliação de eficiência e a alocação de recursos entre unidades.”
Segundo os autores, estudos sobre créditos digitais em instituições de ensino indicam que esse mecanismo estimula o engajamento dos estudantes na comunidade universitária e amplia a participação em atividades extracurriculares:
“Ao receber créditos periódicos, docentes, discentes e servidores podem utilizá-los em serviços culturais, acadêmicos e de bem-estar disponíveis na Universidade, como museus, atividades formativas, clínicas e oficinas.”
A governança da moeda digital ficaria a cargo de um colegiado que reúne as diferentes unidades da USP, com regras pré-definidas sobre emissão, registro e casos de uso. O sistema também seria submetido a auditorias independentes e à fiscalização do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
A moeda digital da USP está alinhada a tendências internacionais de inovação no ensino superior e modernização da administração pública. Segundo os autores, em última instância, a iniciativa contribui para orientar a gestão da universidade às necessidades da sociedade.

