O sucesso e o crescimento exponencial da capitalização de mercado do TerraUSD (UST), a stablecoin algorítmica do Terra (LUNA), geraram diversas tentativas de replicação do modelo em outras redes. Trata-se de algo bastante comum na indústria de criptomoedas.

Novos competidores basicamente copiam os fundamentos de um projeto bem sucedido, adicionando algum recurso extra capaz de fazer com que os usuários abandonem o original e migrem para seus clones.

Desde o início deste ano, quando o UST tornou-se o terceiro maior criptoativo indexado ao dólar em capitalização de mercado, outras três stablecoins algorítmicas surgiram emulando o seu modelo de emissão e queima de tokens para manutenção do equilíbrio do sistema.

 Uma falhou em manter a estabilidade antes mesmo do colapso do UST e ainda não se recuperou. Outra dobrou a aposta em uma das principais vulnerabilidades do modelo econômico original e apesar dos óbvios riscos implicados no projeto, até agora a moeda tem se mantido estável e em crescimento. E a última tentou aprimorar o modelo fracassado como forma de garantir sua sustentabilidade no longo prazo.

Primeiramente, o UST "inspirou" o Neutrino USD (USDN), uma cópia fiel que foi implantada na rede Waves (WAVES) em fevereiro deste ano, oferecendo os mesmos rendimentos anuais fixos de 20% ao ano aos seus depositários. Inclusive, antes do colapso do original, o USDN passou por uma grave crise de desindexação que poderia ter servido de alerta para os riscos do modelo.

O fato é que, desde então, o USDN não conseguiu mais retomar o preço alvo de US$ 1, de acordo com dados do CoinGecko. No início da tarde desta quinta-feira, 26, o Neutrino USD está sendo negociado a US$ 0,9794. Ou seja, com um desconto de mais de 2% em relação ao seu preço alvo.

Depois veio o USDD, implantado na Tron (TRX) no início deste mês. Seu diferencial em relação ao UST é a promessa de rendimentos anuais fixos de 30% aos seus detentores, amplificando um dos fatores responsáveis pelo fracasso da stablecoin do Terra.

Embora tenha sido vítima dos efeitos colaterais do colapso do UST, quando chegou a ser cotado a US$ 0,98, o USDD retomou a paridade com o dólar e tem registrado um crescimento constante de sua capitalização de mercado.

Por fim, o Near Protocol (NEAR) lançou o USN justamente na semana em que o mercado de criptomoedas sofria os abalos da pulverização de mais de US$ 500 bilhões em capitalização de mercado por conta da implosão do ecossistema do Terra.

Embora a falência do UST pode ter sido a prova cabal de que as stablecoins algorítmicas inevitavelmente estão programadas para falhar, o USN se apresenta como o único projeto que realmente tenta mitigar os riscos do modelo original.

USN

Assim como o Terra, o Near Protocol estava entre as redes blockchain dedicadas a contratos inteligentes que mais cresceram em um ano que tem sido difícil para o mercado.

No entanto, o Near não passou incólume pelo colapso do Terra. Especialmente porque o lançamento do USN gerou questionamentos sobre as chances de que o Near acabe tendo o mesmo destino da até então queridinha do mercado. Desde então, suas métricas on-chain começaram a declinar.

A seguir, vamos avaliar as diferenças e semelhanças entre os dois projetos para tentar encontrar pistas sobre o destino do USN – e de todo o ecossistema do Near.

UST X USN

Tanto o UST e o UST se propõem a manter a paridade com o dólar através de um sistema de controle do suprimento da moeda. O modelo determina que o token nativo de suas redes devem ser usados como instrumento para emissão de novas unidades das stablecoins.

Aqui surge a diferença fundamental entre ambas as propostas. Enquanto o Terra usava um mecanismo de emissão e queima do LUNA, o Near mantém seu token nativo em um tesouro para garantir a indexação de sua stablecoin com o dólar.

O NEAR é bloqueado no tesouro do protocolo quando da emissão de novos USN. Quando o USN é queimado pelos usuários, a quantia equivalente em dólares do NEAR é desbloqueada. Outra diferença não menos importante é que o NEAR possui um suprimento total fixo, ao contrário do LUNA.

Esta foi uma solução implantada pelos desenvolvedores para evitar que o excesso de oferta do token alimente uma espiral da morte capaz de levar o ecossistema ao colapso, como aconteceu com o Terra. À medida que os usuários recorreram ao mecanismo de queima do Terra para resgatar seus UST sob a forma de LUNA, o token nativo do protocolo inundou o mercado, acelerando o colapso de ambas as moedas.

Por fim, o tesouro mantido pelo Near não conta apenas com o token nativo do protocolo, mas também com fundos em Tether (USDT), através de um pool mantido no protocolo FEF Finance, além dos pools mantidos em exchanges centralizadas.

Nível de segurança

Embora os diferenciais do USN possam sugerir que a stablecoin é mais segura do que o UST, ainda assim é mais arriscado do que stablecoins lastreadas por dólares ou títulos, como o USDT e o USDC, ou mesmo stablecoins descentralizadas sobre colateralizadas, como o DAI.

Ironicamente, o fato de que o Near mantém parte do seu tesouro em USDT também adiciona um fator de risco vinculado a uma possível perda da paridade do Tether com o dólar, como chegou a acontecer nos momentos mais agudos da crise de perda de confiança do mercado nas stablecoins.

Embora uma espiral da morte similar à que abateu o Terra seja improvável, dado que o desenvolvimento do ecossistema do Near não está apoiado nos rendimentos oferecidos pelo USN, crises de desindexação não podem ser descartadas.

Lançada em pleno turbilhão da queda do Terra e do mercado como um todo, o USN registrou graus de volatilidade não desprezíveis em menos de um mês de negociação. De acordo com dados do CoinGecko, a stablecoin algorítmica do Near variou entre a mínima de US$ 0,978 e a máxima de US$ 1,01, embora tenha se mantido mais estável desde 20 de maio. Ainda não há dados disponíveis sobre a capitalização de mercado do USN.

Enquanto isso, o token nativo do Near atingiu a máxima histórica de US$ 20,44 em janeiro deste ano, mas desde então desvalorizou 73%. Na tarde desta quinta-feira, é negociado a US$ 5,48, registrando uma baixa intradiária de 4,5% e uma capitalização de mercado de US$ 3,8 bilhões, de acordo com dados do CoinGecko.

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