Os títulos do governo dos Estados Unidos, ou Treasurys, têm uma enorme influência em todos os mercados negociáveis, incluindo Bitcoin (BTC) e Ether (ETH). Nesse sentido, o cálculo de risco em finanças é relativo, de modo que cada empréstimo, hipoteca e até mesmo derivativos de criptomoeda dependem do custo de capital atribuído aos dólares dos EUA.
Supondo o pior cenário possível, no qual o governo dos EUA acabe não pagando a sua própria dívida, o que acontece com as famílias, empresas e países que detêm esses títulos? O não pagamento dos juros da dívida provavelmente causaria uma escassez global de dólares dos EUA, desencadeando um efeito cascata.
Mas, mesmo que esse cenário se concretize, a história nos mostra que as criptomoedas podem funcionar como um ativo de proteção durante períodos de incerteza. Por exemplo, o Bitcoin superou amplamente o desempenho dos ativos tradicionais de preservação de patrimônio durante a guerra comercial entre os EUA e a China em maio de 2021. O Bitcoin valorizou 47% entre 5 e 31 de maio de 2021, enquanto o Nasdaq Composite Index (NCI) caiu 8,7%.
Como o público em geral possui mais de US$ 29 trilhões em títulos do Tesouro dos EUA, eles são considerados o ativo de menor risco existente. Ainda assim, o preço de cada um desses títulos públicos, ou o rendimento negociado, varia de acordo com o vencimento do contrato. Supondo que não haja risco de contraparte para essa classe de ativos, o fator de precificação mais importante é a expectativa de inflação nos Estados Unidos.
Vamos investigar se os preços do Bitcoin e do Ether serão afetados pela crescente demanda por títulos do Tesouro dos EUA.
Maior demanda por títulos públicos leva a rendimentos mais baixos
Os investidores que acreditam que a inflação nos EUA não será contida tão cedo provavelmente buscarão um rendimento maior ao investir em títulos do Tesouro dos EUA. Por outro lado, se o governo dos EUA estiver desvalorizando ativamente sua moeda ou houver expectativa de inflação adicional, os investidores tenderão a buscar refúgio nos títulos do Tesouro dos EUA. O aumento da demanda provoca um rendimento menor.

Observe como o rendimento dos títulos do Tesouro de 5 anos atingiu 4,05% em 22 de junho, o nível mais alto em mais de três meses. Esse movimento ocorreu enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA do mês maio maio ficou em 4,0% em uma base anual, o menor crescimento desde março de 2021.
Um rendimento de 4,05% indica que os investidores não estão esperando que a inflação caia abaixo da meta de 2% do Fed tão cedo, mas também mostra confiança de que opico da inflação de 9,1%, em junho de 2022, ficaram para trás. Entretanto, não é assim que funciona a precificação dos títulos do Tesouro dos EUA, pois os investidores estão dispostos a abrir mão de rendimentos mais altos em troca da segurança de possuir o ativo de menor risco disponível nos mercados financeiros.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA são uma ótima ferramenta para comparar outros países e dívidas corporativas, mas não em termos absolutos. Esses títulos públicos refletirão as expectativas de inflação, mas poderão ser severamente limitados se uma recessão global se tornar mais provável.

A típica correlação inversa entre o Bitcoin e o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA foi invalidada nos últimos 10 dias, muito provavelmente porque os investidores estão comprando desesperadamente títulos do governo em busca de segurança, independentemente de o rendimento ser inferior às expectativas de inflação.
O índice S&P 500, que rastreia o mercado acionário dos EUA, atingiu 4.430 em 16 de junho, apenas 7,6% abaixo de seu recorde histórico, o que também explica os rendimentos mais altos. Embora os investidores normalmente busquem ativos escassos e que sirvam de proteção contra a inflação antes de tempos turbulentos, seu apetite por ações excessivamente valorizadas é limitado.
Riscos de recessão podem ter distorcido dados dos rendimentos
A única coisa certa no momento é que as expectativas dos investidores em relação a uma recessão estão se tornando mais evidentes. Além dos rendimentos do Tesouro, os principais indicadores do Conselho de Conferência dos EUA caíram por 14 meses consecutivos, conforme descrito por Charlie Bilello:
The Conference Board's Leading Economic Index declined in May for the 14th month in a row.
— Charlie Bilello (@charliebilello) June 23, 2023
"We project that the US economy will contract over the Q3 2023 to Q1 2024 period. The recession likely will be due to continued tightness in monetary policy and lower government spending.”… pic.twitter.com/wQfy8a3DVq
O Índice Econômico Principal do Conselho de Conferência caiu em maio pelo 14º mês consecutivo.
"Projetamos que a economia dos EUA sofrerá uma contração no período entre o terceiro trimestre de 2023 e o primeiro trimestre de 2024. A recessão provavelmente se deve à continuidade do aperto na política monetária e à redução dos gastos do governo."...
— Charlie Bilello (@charliebilello)
Consequentemente, aqueles que apostam que a recente dissociação do Bitcoin da correlação inversa do rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA será revertida rapidamente podem se decepcionar. Os dados confirmam que os rendimentos dos títulos do governo estão mais altos do que o normal devido ao aumento das expectativas de uma recessão e de uma crise econômica no futuro.
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