Juan Carlos Reyes, Presidente da Comissão Nacional de Ativos Digitais de El Salvador, afirmou em uma apresentação durante o Blockchain Rio, que o país está prestes a assinar um acordo envolvendo monitoramento de Bitcoin com a Polícia Federal do Brasil

“Agora, estamos prestes a assinar um acordo com a Polícia Federal do Brasil. Uma das coisas mais importantes que fazemos é promover a transparência no nosso país. E isso é muito simples: os criminosos não entendem a tecnologia. Eles acham que, ao transferirem valores de uma carteira para outra, ninguém está observando. Mas toda vez que um token se envolve em atividade ilícita, ele é marcado. Nós sabemos onde ele está e quem está transacionando”, disse.

Segundo ele, é essencial que os países entendam que estão vulneráveis e que estão construindo sistemas frágeis sem perceber.

“E o que vai acontecer se os países não acertarem na regulação? O mercado paralelo vai dominar. Vocês verão moedas sujas sendo vendidas livremente. Esses criminosos não querem mais lidar com dinheiro em papel. Eles preferem ativos digitais porque são rastreáveis — e é justamente isso que eles subestimam”, afirmou.

Além disso, Reyes afirmou que o país já consegue saber quando uma criptomoeda vem de operações criminosas, como do PCC ou outras organizações, e isso revela o carácter global dos ativos ditais e a importância da regulamentação

De El Salvador, ou de qualquer outro lugar, eu posso afirmar: "isso pertence ao financiamento do terrorismo", ou "isso está ligado ao cartel mexicano", ou ainda "isso vem do PCC brasileiro" — ou como quer que se chame. Nós conseguimos ver isso. E, a partir daí, conseguimos identificar transações ilegítimas ocorrendo em qualquer país.Por isso, os ativos digitais não têm fronteiras geográficas, e a supervisão e a regulação também não deveriam ter. Esse é o movimento que estamos impulsionando agora.

CVM no Brasil vai acelerar regulamentação

Durante o mesmo painel no Blockchain Rio, o presidente interino da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Otto Eduardo Fonseca de Albuquerque Lobo, afirmou que a autarquia vai acelerar a regulamentação ainda este ano.

Segundo ele, o avanço do setor de criptoativos exige respostas rápidas, técnicas e seguras.

“Acredito que vamos acelerar a regulamentação ainda este ano. Nosso objetivo é avançar o máximo possível e concluir o que for necessário”, declarou Lobo em tom firme. Para ele, o Brasil vive um momento estratégico e não pode desperdiçar a oportunidade de se posicionar como referência internacional.

O presidente destacou que os desafios regulatórios no setor de criptoativos não têm solução simples, mas que o país está preparado para enfrentá-los.

“As soluções para esses desafios não são simples, nem imediatas. Elas exigem camadas tecnológicas integradas aos marcos regulatórios já existentes, para construirmos uma rota segura e funcional”, explicou.

Escuta ativa e regulação com base em risco

Lobo fez questão de reconhecer o papel da equipe técnica da CVM. “Eles atuam incansavelmente, ano após ano, para modernizar nosso arcabouço regulatório. São verdadeiros heróis — ou, no mínimo, profissionais altamente qualificados e comprometidos”, afirmou.

Ele também enfatizou que a CVM mantém um modelo estruturado de escuta. “Somos bons ouvintes do mercado. Mantemos contato direto com os participantes e buscamos aprender continuamente com a indústria”, disse.

Segundo o presidente, a Comissão tem atuado em conjunto com o Banco Central e outras autoridades internacionais. “Estamos afinados com o Banco Central, e isso agora é uma prioridade. Trabalhamos com responsabilidade, mas com urgência”, ressaltou.

Tokenização e novas diretrizes já em curso

Ele destacou que as regras exigem rastreamento, titularidade e verificabilidade — pontos essenciais para garantir segurança ao investidor. Além disso, lembrou que as negociações secundárias desses ativos devem seguir as resoluções atuais, passando por ambientes devidamente autorizados.

Para concluir, Lobo reforçou o compromisso da autarquia com um mercado mais moderno e seguro. “Seguimos um modelo baseado em retorno da indústria, com ênfase na colaboração, escuta ativa e excelência técnica. Vamos avançar com firmeza na regulação”, afirmou.