Durante sua fala nesta quinta, 07, no Blockchain Rio, Juan Carlos Reyes, presidente da Comissão Nacional de Ativos Digitais de El Salvador, defendeu regulação rígida e atacou especuladores do setor cripto.
Em tom firme e provocador, Juan Carlos Reyes, presidente da Comissão Nacional de Ativos Digitais de El Salvador (CNAD), afirmou que o país não pretende abrir as portas para qualquer projeto de criptoativos.
“Os primeiros a entrarem em qualquer indústria são os criminosos. São eles que criam os esquemas de pirâmide, os tokens puramente especulativos, os projetos que existem apenas para destruir mercados. Esses foram os primeiros que bateram à nossa porta. Por isso, temos uma taxa de rejeição tão alta: queremos apenas o melhor do melhor, empresas que estarão aqui a longo prazo e que aceitem ser reguladas por El Salvador. Hoje, a maior empresa do setor já está regulada conosco.”, disse
Segundo Reyes, El Salvador quer atrair apenas as empresas mais sérias do setor. Para isso, o país adotou critérios rigorosos de compliance e controle antilavagem de dinheiro (AML), mantendo uma taxa de rejeição de 86% nas solicitações de licença.
“Não somos um paraíso para qualquer token especulativo. Temos uma indústria financeira madura, rigorosa e totalmente compatível com as melhores práticas internacionais”, declarou Reyes.
Foco no Bitcoin, não em "qualquer token"
O presidente da CNAD reiterou que El Salvador não se vê como a capital mundial das criptomoedas, mas sim como "o país do Bitcoin", em referência à adoção da criptomoeda como moeda legal em 2021. Ele classificou o Bitcoin como um instrumento financeiro legítimo, com potencial para revolucionar os pagamentos peer-to-peer.
“Bitcoin é uma inovação financeira. Estamos focados no que essa tecnologia é — e no que ela não é”, reforçou Reyes. “Tokenização de ativos do mundo real será o próximo grande passo.”
Ao mencionar o Tether (USDT), stablecoin lastreada em dólar, Reyes explicou que El Salvador supervisiona sua emissão e garante a equivalência entre tokens e reservas.
"Verificamos as reservas e mantemos contato constante. É isso que o mercado exige: transparência", afirmou.
Profissionalização e formação obrigatória
Durante sua fala, Reyes destacou também a formação técnica da equipe da CNAD, exigindo que todos os funcionários completem, em até dois anos, uma pós-graduação em criptoativos. Mais de 70% da equipe possui experiência prévia em supervisão bancária e financeira tradicional.
Ele ainda comparou a obtenção de licença em El Salvador a um diploma da Universidade de Harvard:
“Se você consegue uma licença em El Salvador, é como se tivesse se formado em Harvard.”
Reyes encerrou sua participação deixando claro que memecoins e tokens puramente especulativos não são bem-vindos no país:
“Isso pode até ser feito em Singapura ou Dubai. Mas não tragam isso para El Salvador.”
Além disso, ele destacou que El Salvador virou referência mundial em regulação de Bitcoin e ativos digitais.
Segundo Reyes, a adoção do Bitcoin como moeda legal em 2021 não apenas colocou El Salvador no mapa da inovação, como também transformou completamente a reputação do país, antes conhecido por índices alarmantes de violência.
“Há cinco anos, ninguém sabia o que era El Salvador. Hoje, somos o primeiro país com uma estrutura regulatória própria para ativos digitais, fora da supervisão do banco central”, destacou Reyes.
Reyes lembrou que El Salvador, por ser uma economia dolarizada, enfrentava um dilema comum a países dependentes de moeda estrangeira: a incapacidade de controlar sua própria política monetária.
Nesse contexto, a adoção do Bitcoin se tornou uma resposta pragmática à inflação global e à instabilidade do dólar.
Mas o executivo foi além. Para ele, Bitcoin não é apenas dinheiro digital, e sim um novo paradigma tecnológico, com fundamentos que o afastam dos instrumentos financeiros tradicionais.
“Bitcoin é código de computador, operando em blockchain. E a blockchain oferece três pilares que tornam a regulação possível: imutabilidade, transparência e rastreabilidade.”
Segundo ele, a CINAD, criada após a adoção do Bitcoin, é o primeiro órgão regulador autônomo de ativos digitais do mundo, separado do banco central e das instituições financeiras tradicionais.
Esse modelo inédito permitiu a criação de uma legislação própria e ágil, capaz de acompanhar o ritmo da inovação cripto.
Reyes afirma que o grande diferencial de El Salvador está na independência regulatória, e que isso será um trunfo para atrair empresas e investidores no longo prazo.
Enquanto outros países ainda tentam enquadrar os criptoativos em leis bancárias antigas, El Salvador já atua com uma abordagem moderna e voltada para o futuro.
“Infelizmente, daqui a cinco anos, muitos países vão perceber que chegaram tarde demais.”