Durante muito tempo, falar em securitização no Brasil era sinônimo de processos longos, estruturas caras e operações acessíveis apenas a grandes empresas ou fundos.
Com vocabulário técnico, camadas operacionais manuais e exigências regulatórias rigorosas, esse mercado se desenvolveu como uma engrenagem essencial, mas distante da realidade da maioria dos investidores e empresas.
Agora, essa distância operacional começa a ser encurtada. Nos bastidores da inovação financeira, a securitização entrou em uma nova fase: a da automação.
Com o uso de blockchain, contratos inteligentes e integração digital de fluxos regulatórios e financeiros, começamos a ver um modelo mais enxuto, acessível e eficiente emergir no setor.
Automatizar não é apenas digitalizar
É comum pensar que avanço tecnológico se resume a "colocar online" o que antes era feito em papel.
Mas a verdadeira transformação começa quando as regras, os fluxos e as garantias de uma operação são programadas em lógica de código. É isso que os contratos inteligentes (smart contracts) proporcionam.
Em uma operação de securitização estruturada com essa abordagem, os eventos de pagamento, os repasses a investidores, as garantias e os gatilhos de inadimplência já não dependem de conferência manual ou auditorias recorrentes. Estão registrados, auditáveis e executáveis em blockchain.
Diversas regras das operações podem ser codificadas de forma imutável na rede, vinculando diretamente os ativos adquiridos ao instrumento de captação. Isso mitiga riscos e reduz drasticamente o número de intermediários.
Mais agilidade, menos barreiras
Com essa nova infraestrutura, surgem possibilidades antes economicamente inviáveis. É possível, por exemplo, estruturar uma operação de R$ 10 milhões em poucos dias, com menor custo e maior transparência para o investidor.
O modelo permite ainda que empresas de menor porte, que não teriam escala para operar via FIDC, acessem o mercado de capitais por meio de instrumentos mais leves, mas igualmente seguros.
Essa dinâmica também abre espaço para a diversificação real da carteira dos investidores. Ao reduzir o custo de emissão, mais operações tokenizadas podem ser colocadas no mercado com aportes iniciais menores e incluindo diferentes prazos, riscos e setores.
O investidor pode construir sua própria cesta de ativos estruturados com agilidade e autonomia.
O papel silencioso da infraestrutura
Talvez o ponto mais revolucionário dessa nova fase da securitização seja sua capacidade de desaparecer da vista.
Em um ecossistema bem estruturado, o investidor não precisa entender o que é blockchain, smart contract ou token. Precisa entender apenas no que está investindo: um ativo que segue um fluxo claro, com risco conhecido e pagamentos programados.
Essa é a direção para onde caminhamos: uma securitização invisível, mas radicalmente mais eficiente. Um mercado em que a tecnologia deixa de ser discurso e passa a ser infraestrutura, permitindo que a inovação aconteça sem ruído, mas com impacto real.
Quem olhar apenas para o céu das soluções visíveis talvez não perceba que o solo onde o mercado pisa já está se movendo.
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