Pontos principais:

  • Stablecoins podem substituir Swift e manter soberania das moedas dos países do Brics.

  • Criação de criptomoeda própria é desnecessário, segundo especialista.

  • Deputado vai na contramão e diz que criptomoeda própria seria “independência” em relação ao dólar.

Especialistas em criptomoedas defenderam na última terça-feira (16) em Brasília a adoção de stablecoins nas transações comerciais entre os países do Brics.

A ideia de adoção de tokens atrelados a moedas fiduciárias, entre elas o dólar americano, foi uma das propostas elencadas durante o 2º Fórum Brics de Valores Tradicionais, sediado esta semana pela Câmara dos Deputados, de acordo com informações da Agência Câmara de Notícias.

Entre outros assuntos, o evento discutiu a possibilidade de adoção de uma infraestrutura em blockchain como alternativa ao sistema de mensagens transfronteiriças belga Swift, considerado lento e caro.

Ao Cointelegraph Brasil, o CEO e fundador da DeFi Bank, Leandro Baccari, disse que “ainda que o dólar continue sendo referência no curto e médio prazo, a digitalização entre os países do Brics cria um terreno fértil para o crescimento das stablecoins e dos ativos digitais, especialmente em soluções que priorizam usabilidade, liquidez e soberania financeira”.

Assim como outras fintechs brasileiras, decidimos apostar na utilização de stablecoins como meio de pagamento, investimento e transferências transfronteiriças porque esse parece ser um caminho sem volta, completou.

No evento sediado pela Câmara dos Deputados, o especialista financeiro Paulo Figueiredo destacou que o Brasil e a China podem realizar trocas comerciais usando suas próprias moedas para evitar o dólar, mas isso não substituirá a moeda de referência global. Segundo ele, tentar tirar o dólar do comércio mundial é uma causa perdida.

Os Estados Unidos disseram em janeiro que não apoiam moedas digitais de bancos centrais, mas sim stablecoins, que usam o dólar como base para garantir estabilidade, afirmou Figueiredo, durante o debate sobre moedas locais no comércio bilateral entre países do Brics, argumentou.

Para ele, a ideia de stablecoins lastreadas em dólar é uma solução melhor do que moedas próprias dos bancos centrais do Brics.

Todos os países têm o direito de usar moedas digitais e buscar sistemas de pagamento integrados, explicou.

Figueiredo disse ainda que não faz sentido o Brasil exportar soja para a China usando o dólar, quando pode fazer a operação diretamente em moeda digital lastreada em dólar.

Agora, a moeda mundial e o sistema mundial de comércio passarem por uma nova moeda que não seja o dólar, para mim, está longe de acontecer, salientou.

No mesmo sentido, o especialista em criptomoedas Theodor Bogorodsky destacou as vantagens do sistema em blockchain, citando exemplos de integração do sistema de pagamentos tradicional de cartões de crédito com o de criptomoedas.

Cada país atualmente tem um projeto sobre a digitalização de sua economia, como China e Rússia, por exemplo. Há muita discussão para criar uma moeda única para todos os membros do grupo. Para mim, é um erro. A melhor opção, no caso da digitalização da economia, não é criar uma nova stablecoin, mas fazer vendas cruzadas com as que já existem. Cada país deve ser capaz de fazer comércio uns com os outros, opinou.

Por outro lado, o deputado Fausto Pinato (PP-SP) defendeu a importância do Brics e a criação de uma moeda própria para os países-membros, ressaltando que o Brasil não deve ficar refém do dólar nem da influência dos Estados Unidos, que, segundo ele, desrespeitam a soberania de outras nações.

Não podemos desistir, principalmente os países mais pobres, em desenvolvimento, pois eu entendo que chegou a hora de dar um grito de socorro, um grito de 'queremos direitos iguais'. Eles não podem tirar nossa capacidade de desenvolvimento, não podem querer dar as cartas – se um país ou outro quer investir ou quer fazer negócio conosco, defendeu o deputado.

Encerrado na última quinta-feira (17), o 2º Fórum do Brics de Valores Tradicionais, com o tema “Unindo tradições, fortalecendo nações”, também debateu temas como desdolarização, turismo sem visto entre países do bloco, preservação da cultura, inovação, saúde e meio ambiente. O evento foi organizado pela Frente Parlamentar do Brics no Congresso Nacional e pela Aliança de Mulheres do Brics, com apoio da Associação Mundial de Valores Tradicionais. Já o Brics é um foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas. É formado por 11 países-membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

Tanto a adoção de stablecoins quanto a criação de uma criptomoedas própria têm apoio de cerca da metade dos brasileiros, refletindo a bipolarização política do país, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.